Operação Tempus Veritatis

Kids pretos do Exército se reuniram em Brasília para discutir golpe de Estado

Grupamento especializado em operações especiais teria papel central na tentativa de tomada do poder após a eleição de Lula

Após a reunião, de acordo com a investigação, foi elaborada uma carta para pressionar o comandante do Exército e outros militares para aderirem ou não se posicionarem contra a tentativa de golpe

 -  (crédito: Ed Alves/CB)
Após a reunião, de acordo com a investigação, foi elaborada uma carta para pressionar o comandante do Exército e outros militares para aderirem ou não se posicionarem contra a tentativa de golpe - (crédito: Ed Alves/CB)
postado em 08/02/2024 11:21

Uma reunião realizada em Brasília, em 28 de novembro de 2022, ou seja, após o resultado do segundo turno das eleições, discutiu a utilização dos kids pretos, as "forças especiais" do Exército, em um golpe de Estado. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), uma tentativa de subverter a democracia e mudar o resultado das eleições ocorreu logo após o resultado.

A PGR aponta que a reunião que ocorreu na capital federal contou com participação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, quando ele estava na Presidência, e do coronel Bernardo Romão, na época, assistente do Comando Militar do Sul. O foco seria tomar o poder após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em conversas obtidas pela Polícia Federal, Cid e Romão discutiram detalhes do que tinha sido acertado na reunião. “O Coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto — à época Assistente do Comandante Militar do Sul — teve participação a tiva na organização de uma reunião no dia 28.11.2022, às 19 horas, na cidade de Brasília com a presença dos oficiais, com formação em forças especiais, assistentes dos Generais supostamente aliados na execução do golpe. Os diálogos encontrados no celular de Mauro Cid demonstram que Correa Neto intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para consumação do Golpe de Estado", aponta a PGR, em documento enviado ao Supremo.

Após a reunião, de acordo com a investigação, foi elaborada uma carta para pressionar o comandante do Exército e outros militares para aderirem ou não se posicionarem contra a tentativa de golpe.

"No mesmo dia, às 20h02min, Correa Neto envia a Mauro Cid uma minuta intitulada 'CARTA AO COMANDANTE DO EXÉRCITO DE OFICIAIS SUPERIORES DA ATIVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO', documento provavelmente discutido na referida reunião utilizado como instrumento de pressão ao então Comandante do Exército General Freire Gomes. Logo após a reunião, o blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho divulgou no programa Pingo nos Is, às 21h30, os nomes dos Comandantes Regionais do Exército que ainda estariam indecisos em aderir ao plano golpista. Os diálogos com MAURO CID revelaram também que Correa Neto sabia hora antes o nome exato dos Comandantes que seriam expostos pelo blogueiro, o que
demonstra uma ação coordenada dos investigados em expor e pressionar os militares que não topassem aderir aos planos golpistas. Após o envio da carta, Mauro Cod pede a Correa Neto que mande as observações, ao que o mesmo responde: 'Porra irmão. Apaguei essa parada'; 'Não combinamos de
apagar?' Os diálogos sugerem, portanto, que os investigados tinham consciência da ilicitude das condutas praticadas e buscavam suprimir provas que pudessem incriminá-los, em ação típica de organização criminosa", completa a PGR.

O kids pretos é um grupamento do Exército especializado em operações especiais. Atualmente, reúne 2,5 mil militares em suas fileiras, contando com homens da ativa e da reserva.

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