TARIFAÇO

Congresso reage à tarifaço imposto por Donald Trump pelos EUA

Parlamentares se dividem entre críticas ao governo brasileiro e defesa de uma resposta firme; oposição nega responsabilidade e questiona atuação diplomática de Lula

Parlamentares da base do governo e da oposição trocaram acusações e cobraram medidas diplomáticas do Executivo. Enquanto a base vê um ataque direto à soberania brasileira, a oposição responsabiliza o Palácio do Planalto pela deterioração nas relações bilaterais com os EUA -  (crédito: Ana Carolina Alves)
Parlamentares da base do governo e da oposição trocaram acusações e cobraram medidas diplomáticas do Executivo. Enquanto a base vê um ataque direto à soberania brasileira, a oposição responsabiliza o Palácio do Planalto pela deterioração nas relações bilaterais com os EUA - (crédito: Ana Carolina Alves)

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — em retaliação ao que classificou como perseguição política por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) o ex-presidente Jair Bolsonaro — provocou forte reação no Congresso Nacional.

Parlamentares da base do governo e da oposição trocaram acusações e cobraram medidas diplomáticas do Executivo. Enquanto a base vê um ataque direto à soberania brasileira, a oposição responsabiliza o Palácio do Planalto pela deterioração nas relações bilaterais com os EUA.

Em nota conjunta, os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos) e Davi Alcolumbre (União), reforçaram o compromisso do Congresso com a defesa da soberania brasileira e defenderam uma reação com “diálogo nos campos diplomático e comercial”, amparada na Lei da Reciprocidade Econômica.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), a situação ultrapassa as disputas ideológicas. “Não é mais debate de direita e esquerda, mas de defesa dos interesses nacionais”, afirmou.

O parlamentar também informou que partidos da base — como PT, PCdoB, PDT, PSB, Solidariedade, Podemos e MDB — articularam a realização de uma comissão geral para ouvir representantes do Itamaraty e do setor empresarial.

Além disso, foram protocoladas moções de repúdio à decisão do governo norte-americano e adendos no Conselho de Ética contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de atuar para estimular a sanção junto ao governo norte-americano. “Há confissão explícita de que ele manteve ‘contato intenso’ com autoridades do governo Trump. Isso é gravíssimo”, completou Lindbergh.

Na mesma linha, o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), criticou duramente a medida de Trump e destacou a falta de apoio da oposição. “Só o PL está solidário com Trump. Talvez até troquem a bandeira do Brasil pela dos Estados Unidos”, ironizou.

Para Guimarães, o Congresso deve se posicionar com firmeza, e o Executivo avalia possíveis respostas, dentro dos limites da Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril. A legislação autoriza o governo a adotar medidas proporcionais em caso de barreiras comerciais unilaterais, incluindo tarifas, suspensão de propriedade intelectual e restrição a investimentos.

O líder do PSB na Câmara, Pedro Campos (PE), considerou a sanção norte-americana uma ameaça à soberania nacional. “É absurdo que um presidente use coação econômica para discutir um tema que diz respeito exclusivamente à Justiça brasileira”, afirmou ao Correio. Ele também cobrou da oposição um posicionamento claro: “Eles precisam decidir se defendem o povo brasileiro ou o ex-presidente dos Estados Unidos”.

Do outro lado do espectro político, líderes da oposição rechaçaram a responsabilização e afirmaram que a crise é resultado da condução diplomática do governo Lula. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), negou que o partido tenha celebrado a taxação e afirmou que o voto de louvor a Trump, aprovado em comissão, se referia a um gesto de solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não queiram colocar na conta do PL o que é culpa do atual governo”, rebateu.

Segundo Sóstenes, o governo tem 21 dias para negociar com os EUA antes da entrada em vigor da taxação, prevista para 1º de agosto. Ele também criticou a tentativa de imputar culpa a Eduardo Bolsonaro. “A tática do PT é sempre buscar culpados pelos próprios erros. Agora querem transformar Eduardo em responsável pela medida americana? Isso pode até acabar habilitando-o como presidenciável”, ironizou.

O líder do Novo, Marcel Van Hattem (RS), classificou a situação como “consequência da incompetência diplomática” do governo Lula. Para ele, a tentativa de transferir a responsabilidade a Eduardo Bolsonaro é uma narrativa “frágil”. “Se Eduardo tem mais força que toda a diplomacia brasileira, então isso é um atestado da falência da política externa do país”, disse. Van Hattem também acusou o STF de extrapolar suas competências, apontando decisões que, segundo ele, interferem em jurisdições estrangeiras.

A deputada Bia Kicis (PL-DF) seguiu o mesmo tom e afirmou que o governo colhe os frutos de anos de hostilidade com os Estados Unidos. “Trump zerou as tarifas para a Argentina porque lá há um presidente que sabe dialogar. Aqui, Lula promove boicote à moeda americana via BRICS. É óbvio que isso pesou na decisão de Trump”, afirmou. Ela ainda advertiu que adotar medidas retaliatórias pode agravar ainda mais a situação.

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postado em 10/07/2025 19:38 / atualizado em 10/07/2025 20:07
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