GUERRA COMERCIAL

Tarifas de Trump são "chantagem inaceitável", diz Lula em pronunciamento

Ao falar à nação nesta quinta-feira (17/6), presidente da República reprovou novamente ações norte-americanas no que diz respeito à economia e chamou apoiadores de Trump no Brasil de "traidores da pátria"

Em pronunciamento de rádio e TV, Lula afirmou que não vai aceitar intromissão dos EUA nos assuntos internos e defendeu o multilateralismo -  (crédito: Reprodução)
Em pronunciamento de rádio e TV, Lula afirmou que não vai aceitar intromissão dos EUA nos assuntos internos e defendeu o multilateralismo - (crédito: Reprodução)

Em pronunciamento veiculado em rede nacional nesta quinta-feira (17/6), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que as tarifas de 50% impostas ao Brasil pelos Estados Unidos, divulgadas por meio de carta de Donald Trump nas redes sociais, são inaceitáveis e que políticos brasileiros que as apoiam são “traidores da pátria”. 

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Segundo Lula, o país sempre esteve aberto ao diálogo”, por meio de proposta de negociação enviada aos EUA no último 16 de maio e mais de dez reuniões realizadas. Apesar disso, em vez de resposta, o governo brasileiro recebeu “chantagem inaceitável em forma de ameaça a instituições brasileiras”, com informações falsas acerca do comércio com os Estados Unidos. 

“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem apoio de alguns políticos brasileiros”, afirmou o presidente. “São verdadeiros traidores da pátria.” Para ele, tais representantes “não se importam com a economia do país e os danos causados” à população.

Lula também reforçou que “tentar interferir na Justiça brasileira é um grave atentado à soberania”, no que diz respeito a pronunciamentos de Trump acerca de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga, entre outros possíveis responsáveis por tentativa de golpe de Estado em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“No Brasil, ninguém está acima da lei”, reforçou, referindo-se, também, à atuação das plataformas digitais estrangeiras no país. Ele afirma que é preciso proteger famílias e organizações brasileiras de pessoas que utilizam das redes sociais para, entre outros, promover crimes, violência e atacar a democracia.

O presidente afirmou que se reúne, no momento, com representantes da sociedade civil, de setores produtivos e de sindicatos a fim de defender o Brasil da ameaça externa. Além disso, garantiu que segue “apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo”; e ressaltou parcerias comerciais com União Europeia, Ásia, África e América Latina.

Por fim, Lula defendeu o Pix, mais recente alvo de Donald Trump. Segundo ele, o método de pagamento é “patrimônio” do povo brasileiro, sobre o qual o governo não aceitará ataques.

“Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender nossa economia”, finalizou. “Desde recursos da Organização Mundial do Comércio até a lei da reciprocidade aprovada pelo Congresso Nacional. Não há vencedores em guerras tarifarias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono, o povo brasileiro.”

Big techs

Mais cedo, em discurso no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lula já havia defendido o diálogo multilateral e disse que não vai permitir que ninguem “se intrometa” nos assuntos do país. “Não é um gringo que vai dar ordem para este presidente da República”. Lula foi ovacionado no evento em diversos momentos, principalmente quando se referia ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Lula afirmou também que o Brasil não cederá à pressão da Casa Branca em relação à regulação e à tributação das plataformas de redes sociais no Brasil. “Vamos cobrar imposto das empresas americanas digitais”, afirmou.

Diferentemente do pronunciamento oficial, no encontro com estudantes o presidente citou nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, culpando a ele e a seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pela taxação imposta por Trump. “Eles não tiveram preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao Brasil, à indústria, ao agronegócio”, declarou.

Lula aproveitou para pedir aos jovens que reflitam sobre as eleições do ano que vem. “É importante que vocês, ao saírem daqui, comecem a pensar que Brasil querem a partir de 2026. Temos que conversar muito com a juventude, porque ela é muito vulnerável às redes digitais. Precisa distinguir a mentira da verdade. Chamar a atenção da forma mais carinhosa possível: se quisermos mudar o Brasil, vamos ter que mudar de atitude. É preciso trabalhar um pouco mais, se dedicar e saber o que vamos querer. O debate não pode ser só dentro da universidade. Tem que sair e ir para a rua”, afirmou.

Negociação

Em outro momento do dia, ao conceder entrevista à âncora Christiane Amanpour, da CNN norte-americana, Lula reforçou estar aberto a conversar com a Casa Branca para negociar a tarifação. “O Brasil deve cuidar do Brasil e cuidar do povo brasileiro. O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação e não imposição”, afirmou o petista.

“Não vejo o presidente Trump como um presidente de extrema- -direita. Vejo como o presidente dos EUA. Ele foi eleito pelo povo americano. Não interessa se eu gosto dele ou não, em termos de ideologia. O que interessa é que ele é o presidente dos EUA e eu sou o presidente do Brasil. Então a melhor coisa é nós sentarmos em uma mesa e conversa”, pontuou.

Ainda na entrevista, Lula questionou gastos com armamentos militares e cobrou ação do Conselho de Segurança da Organização Internacional das Nações Unidas (ONU), no combate aos conflitos.

Confira a íntegra do pronunciamento 

 

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postado em 18/07/2025 04:29
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