
O advogado Cleber Lopes afirmou ao Correio que Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, "apenas seguiu as orientações da defesa" ao decidir não comparecer à reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS nesta segunda-feira (15/9). O depoimento, previsto para as 16h, foi cancelado, frustrando parlamentares que esperavam ouvir um dos principais envolvidos no esquema que teria desviado bilhões em aposentadorias e pensões.
Em nota à imprensa, a defesa informou que Antunes dará prioridade ao inquérito em andamento na Polícia Federal, que apura os mesmos fatos investigados pela CPMI. “Em razão da existência de inquérito policial com o mesmo objeto da CPMI, dará prioridade ao depoimento perante a Polícia Federal, considerando inclusive o lamentável clima político no âmbito da Comissão, o que se tem visto durante os depoimentos já prestados, o que sinaliza para uma oitiva improdutiva”, afirmou o advogado.
A decisão de não comparecer teve respaldo do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que a presença do investigado é facultativa, ficando a seu critério se apresentar ou não.
Tanto o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), quanto o vice-presidente, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), destacaram que a ausência do investigado reforça a necessidade de aprofundar as apurações e ampliar o cerco a familiares e sócios envolvidos no esquema.
Para Viana, a desistência do depoente teve caráter estratégico. “A avaliação é de que ele usou toda a repercussão para enviar recados aos sócios e aos padrinhos políticos. Se sentiu abandonado quando foi preso, é a minha visão, está mostrando que pode revelar todo o esquema se continuar sendo negligenciado”, afirmou.
O senador ressaltou, no entanto, que a quebra dos sigilos fiscal e telefônico já garante à CPMI ferramentas essenciais para rastrear o fluxo financeiro. “Com os extratos bancários, podemos identificar com clareza todo o dinheiro que ele movimentou, a quem pagou, os países que visitou e onde escondeu os recursos”, completou.
Reações no Senado
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) considerou a ausência um direito legítimo, ainda que prejudicial ao andamento imediato das investigações. “Ele foi autorizado e exerceu o direito dele”, disse ao Correio.
Questionado sobre a relevância da oitiva, acrescentou: “Seria [relevante], mas você não pode obrigar a pessoa a produzir prova contra ela mesma, não? A gente tem que entender que é assim que funciona o processo." Para Vieira, o foco agora deve ser “avançar nas quebras de sigilo e ver as outras conexões desse indivíduo”.
Já o senador Izalci Lucas (PL-DF) fez duras críticas à ausência. Ele afirmou que a prisão preventiva de Antunes e do empresário Maurício Camisotti, realizada na última sexta-feira (12), foi fruto de requerimento aprovado pela CPMI. “Por incrível que pareça, eles já estavam sendo investigados, mas não havia ninguém na prisão. Então foi um avanço da CPMI e do INSS”, disse.
Para Izalci, o recuo de Camilo em depor levantou dúvidas sobre pressões externas. “No primeiro momento, a defesa disse que ele viria, e agora, na última hora, cancelou a vinda no depoimento dele aqui na CPMI. É lamentável, porque ele disse que ia falar muita coisa e agora a gente fica na dúvida. O que aconteceu? Quem o procurou? O que aconteceu nesse período da manhã para que ele desistisse?”, questionou.
Duarte Jr. classificou o cancelamento como um desrespeito ao parlamento e à sociedade. “Em um dia ele dizia que viria para colaborar, no outro se escondeu atrás de uma decisão judicial. O ‘careca do INSS’ não apenas desperdiçou a chance de ajudar a CPMI a desmantelar esse esquema criminoso, como também deixou de proteger a própria família, que ele mesmo expôs”, criticou.
Próximos passos
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), adiantou que a comissão se reunirá ainda nesta segunda, às 16h, com líderes da base e da oposição, além do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), para definir a agenda da próxima semana.
A expectativa é votar novas convocações, incluindo ex-diretores do INSS, dirigentes sindicais e representantes de empresas suspeitas de participar do desvio de recursos. “É um quebra-cabeça que exige paciência e tranquilidade, mas a CPMI tem poder de polícia e condições de produzir um relatório com provas consistentes e a definição clara da responsabilidade de cada envolvido”, ressaltou.
A comissão já acumula centenas de requerimentos e deve concentrar esforços, nas próximas sessões, na aprovação de quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico para mapear o alcance da rede de fraudes. Parlamentares da base e da oposição concordam que, sem o depoimento de Antunes, a investigação seguirá com provas documentais e informações obtidas junto à Polícia Federal.
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