Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump trocaram farpas, nesta terça-feira, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, mas também fizeram o maior gesto de aproximação desde o início das tensões entre Brasil e Estados Unidos: marcaram uma conversa para a semana que vem. Os dois interagiram por poucos segundos enquanto trocavam de lugar na tribuna. Trump fez o convite ao petista após um abraço e relatou o combinado em seu próprio discurso na Assembleia, dizendo ter uma "química" com o petista. Apesar do afago, o americano não deixou de reforçar as críticas ao Brasil e ao Judiciário, deixando mais dúvidas do que certezas sobre a real possibilidade de negociação das sanções.
"O Brasil agora enfrenta grandes tarifas em resposta aos esforços sem precedentes de interferir com os direitos e liberdades dos nossos cidadãos americanos e de outros. Com censura, opressão, uso como arma e corrupção judicial e tendo como alvo críticos políticos nos Estados Unidos", disparou. "Tenho um pequeno problema ao dizer isso porque, devo contar para vocês, eu estava andando para cá, e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu e nós nos abraçamos. Nós concordamos com um encontro na semana que vem. Ele parece um homem muito legal, na verdade. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. Nós tivemos uma excelente química, é um bom sinal", contou. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a conversa entre os dois deve ocorrer por telefone ou videoconferência.
Também no discurso desta terça-feira, Trump sustentou que, "no passado, o Brasil taxou injustamente" os produtos americanos. "Eles só vão se dar bem quando estiverem trabalhando conosco. Sem nós, eles vão falhar, assim como outros falharam", enfatizou.
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As declarações de Trump surpreenderam mais ainda porque ocorreram após um discurso duro de Lula contra as ações dos EUA. "Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo depois de duas décadas de governos ditatoriais. Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra as nossas instituições e a nossa economia", ressaltou. "Essa ingerência contra assuntos internos conta com o auxílio de falsos patriotas que arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade", acrescentou. A fala se refere ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se instalou nos EUA para buscar sanções ao Brasil, e ao PL da Anistia.
Lula também saiu em defesa do Judiciário, alvo principal dos ataques de Trump, e garantiu a lisura do processo que sentenciou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
"Há poucos dias e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Demorático de Direito. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e aqueles que os apoiaram. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis", enfatizou.
Diplomatas esperavam uma fala protocolar do petista, com críticas veladas e defesas genéricas do multilateralismo e da soberania. Porém, o discurso foi reescrito após o anúncio de novas sanções na segunda-feira: a imposição da Lei Magnitsky contra a esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a suspensão dos vistos do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, e de membros do gabinete de Moraes.
Após defender a soberania brasileira, Lula recebeu aplausos das delegações — menos da americana. Entre os presentes, estava o secretário de Estado, Marco Rubio, porta-voz dos ataques ao Brasil. Na semana passada, após a condenação de Bolsonaro, foi Rubio que alertou sobre a preparação de "novas medidas" contra autoridades brasileiras.
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