SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Luís Roberto Barroso: "A vida me proporcionou a bênção de servir ao país"

Ministro que presidiu o Supremo nos últimos dois anos, se despede em discurso emocionado ressaltando dedicação à democracia e fé no Brasil

Barroso, durante a sessão do STF desta quinta-feira: aposentadoria -  (crédito: Antonio Augusto/STF)
Barroso, durante a sessão do STF desta quinta-feira: aposentadoria - (crédito: Antonio Augusto/STF)

Em sessão realizada na tarde desta quinta-feira (9/10), o ministro Luís Roberto Barroso anunciou a aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF). Aos 66 anos, ele encerra uma trajetória de mais de 12 anos e três meses na Corte marcada por duas décadas de atuação no Judiciário e, mais recentemente, pela presidência do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), funções que exerceu nos últimos dois anos.

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No discurso de despedida, Barroso destacou a honra de ter servido ao país e afirmou sair “com o coração tranquilo”. “Foram tempos de imensa dedicação à causa da justiça, da Constituição e da democracia. A vida me proporcionou a bênção de servir ao Brasil, retribuindo o muito que recebi sem ter qualquer interesse que não fosse fazer o que é certo, justo e legítimo, para termos um país maior e melhor”, disse.

Nascido em Vassouras (RJ), em uma família simples e "sem parentes importantes", Barroso formou-se em direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), instituição pública que sempre fez questão de enaltecer. Em seu discurso, reforçou a crença no poder transformador da educação pública e na necessidade de aproximar o Judiciário do povo. 

"Durante a presidência, percorri ao país, do “Oiapoque ao Chuí”, em contato direto com magistrados e cidadãos. A integridade, a civilidade e a empatia vêm antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade. Na vida, a gente precisa ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões”, afirmou.

Além disso, em parafrase de um verso do poeta Pablo Neruda, reforçou sua admiração pelo país. "Mil vezes tivera que nascer, e eu queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, e eu queria morrer aqui, aqui vivem meus filhos amados e gente querida que a vida voltou a me trazer. Não carrego nenhum arrependimento e nem nunca tive medo de nada, e não falo isso por prepotência. Mas por minha crença mais profunda: a de que o universo protege as pessoas que se movem por bons propósitos."

Despedidas

No fim do discurso, realizou pequenas homenagens aos colegas de Corte. À ministra Cármen Lúcia ressaltou que a sua integridade “irradia uma luz que inspira pessoas pelo país afora”. Já à Gilmar Mendes destacou a parceria construída ao longo dos anos, afirmando estar “grato por sua valiosa colaboração”.

Ao ministro Alexande de Moraes lembrou o custo pessoal que têm enfrentado em defesa das instiuições democráticas. “Um dia a história haverá de reconhecer e te reparar”, afirmou. Além disso, também fez agradecimentos aos ministros Cássio Nunes Marques, André Mendonça, Cristiano Zanin, Flávio dino e Edson Fachin, que assumirá a presidência da Corte. "Parto seguro de que o tribunal está sendo conduzido pelo que há de melhor no país em termos de honestidade, propósito, idealismo e competência", disse.

Barroso também agradeceu aos profissionais de comunicação, destacando sua relevância em tempos de desinformação. “Nunca precisamos tanto da imprensa oficial que se move pela ética e pela técnica jornalística. Mentir precisa voltar a ser errado de novo”, disse.

Em sua fala, fez ainda menção aos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, agradecendo a defesa da instituição mesmo em momentos de ataques. “A história nos dará o crédito devido e merecido”, afirmou.

 

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postado em 09/10/2025 18:56 / atualizado em 09/10/2025 19:06
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