
Integrantes do governo federal desembarcam, nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, para uma reunião emergencial com o governador do estado, Cláudio Castro (PL), com o objetivo de tratar da Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou 64 mortos, incluindo quatro policiais. Na comitiva, estarão os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) e Rui Costa (Casa Civil). Também devem participar o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o diretor-executivo da corporação, William Marcel Murad.
Antes de anunciar a reunião com o governo do Rio, Lewandowski trocou farpas com Castro. O governador acusou a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de deixar o estado "sozinho" no combate ao crime e de ter negado pedidos para o fornecimento de veículos blindados das Forças Armadas. Em resposta, ministros apontaram que o governo não foi informado sobre a operação e que diversos pedidos de ajuda do Rio de Janeiro foram aceitos desde 2023. As declarações de Castro foram interpretadas como uma manobra para culpar o Executivo federal pela crise na capital fluminense.
O Ministério da Justiça emitiu nota na qual ressaltou ter atendido "prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual". "Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação no território fluminense. Todas acatadas", acrescentou. Em evento no Ceará, Lewandowski também negou ter recebido demanda do estado. "Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro nem hoje, nem ontem, absolutamente nada", enfatizou.
O Ministério da Defesa, por sua vez, afirmou que um pedido do Rio de Janeiro para o fornecimento de blindados foi feito em janeiro deste ano, após a morte de uma militar da Marinha vítima de bala perdida, mas que a solicitação foi negada após parecer da Advocacia-Geral da União. "A AGU emitiu parecer técnico indicando que a solicitação do governo do RJ somente poderia ser atendida no contexto de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o que demandaria decreto presidencial", acrescentou.
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A crise no Rio de Janeiro ocorreu enquanto o presidente Lula voltava da Malásia. Ele estava em um avião KC-30, da Força Aérea Brasileira, modelo que não possui acesso à internet em voo. O petista chegou ao Brasil durante a madrugada. Enquanto isso, a Casa Civil convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto à noite, coordenada pelo presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin. Também estiveram presentes os ministros Rui Costa, Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), Sidônio Palmeira (Secom) e com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Manoel Carlos.
"Durante a reunião, as forças policiais e militares federais reiteraram que não houve qualquer consulta ou pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação", disse o Planalto, por meio de nota.
Alfinetada
Nas redes sociais, a ministra da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, alfinetou Castro ao criticar "operações decididas isoladamente por governos locais" e defender uma maior participação das forças federais no combate ao crime organizado. Ela aproveitou o cenário também para defender a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que aumenta as competências da União sobre o setor — atualmente.
"Ficou mais uma vez evidente a necessidade de articulação entre forças de segurança no combate ao crime organizado. E o fortalecimento da Polícia Federal e outras forças federais no planejamento e na execução das ações conjuntas, não apenas fornecendo armas, equipamentos e tropas para operações decididas isoladamente por governos locais", escreveu Gleisi.
A ministra, inclusive, recebeu uma ligação do governador fluminense no início da tarde, após a repercussão das falas. No telefonema, segundo interlocutores, Castro explicou que não teve a intenção de atacar o governo federal nem politizar o episódio. Porém, ele não se retratou publicamente.
Transferência
Na noite de ontem, o governo federal também autorizou a transferência, para presídios federais de segurança máxima, de dez criminosos que lideram organizações criminosas no Rio de Janeiro. Segundo Castro, os chefes teriam comandado, de dentro dos presídios, ações nas ruas do Rio como retaliação à ação policial, como sequestro de ônibus para interditar vias expressas da cidade.
"Vimos uma reação desses criminosos tentando colocar a cidade e o estado do Rio de joelhos. Recebi agora das polícias Civil e Penal um relatório das dez maiores lideranças que estão, de dentro das nossas cadeias, ajudando a provocar todo esse terror. E eu tomei esta decisão, acreditando que política de segurança pública se faz com diálogo e integração: pedi ao governo federal, imediatamente, dez vagas para transferência imediata desses criminosos de maior periculosidade. Vamos tirar esses criminosos e devolver a paz para o Rio de Janeiro", declarou Castro, em vídeo publicado nas redes sociais.
Saiba Mais
Fernanda Strickland
RepórterFormada em jornalismo na Universidade Paulista (UNIP). É repórter de economia do Correio Braziliense desde 2020. Participou do Estágio de Correspondentes de Assuntos Militares (ECAM) 2019. Já passou pelas assessorias de comunicação da Embrapa e do IFB.

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