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Ação no Rio falhou em cumprir objetivos, diz Beatriz Rezende

Professora da UnB ressalta que os alvos da megaoperação desapareceram e que ação letal provocou horas de terror na cidade. Na avaliação dela, proposta de classificar facções como terroristas não resolve o problema

Beatriz Rezende:
Beatriz Rezende: "Vamos assumir o terrorismo como uma arma de Estado?" - (crédito: Reproduçao CB/D.A Press)

Professora de direito da Universidade de Brasília (UnB), Beatriz Vargas Ramos de Rezende afirmou que a megaoperação das forças de segurança no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, falhou em cumprir os objetivos propostos.

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"Os alvos desses mandados desapareceram, ninguém sabe dizer onde estão. E mais: além de deixar esse saldo de extermínio e de letalidade, causaram um caos, verdadeiras horas de terror na cidade do Rio de Janeiro, envolvendo 2.500 policiais. E para quê? Se a finalidade era arrecadar armamento pesado, como fuzis, foi pífia; se o objetivo era realizar o cumprimento daqueles mandados de prisão, parece-me que, igualmente, não são dignos de louvor esses resultados", enfatizou, em entrevista aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer, no Podcast do Correio.

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Ela criticou as declarações do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), de que a ação foi um "sucesso". "Eu acho que o governador Cláudio Castro não poderia assumir que a operação teve as falhas que teve. Ele não poderia contar uma história de fracasso, porque isso seria politicamente negativo para ele", destacou.

Na avaliação de Beatriz, a operação teve motivação eleitoral para Castro. O objetivo dele, segundo ressaltou, é explorar o clima de tensão e medo. "Coloca a população naturalmente a favor das forças policiais, como se estivesse escolhendo um lado na guerra. Quer dizer, quem vai escolher o lado do bandido?", argumentou.

Beatriz acredita que todas as ações de segurança pública que envolvem uma questão complexa, como a do combate ao crime organizado, demandam muito mais do que uma iniciativa isolada de um governo estadual.

"O próprio governador Cláudio Castro colocou isso. No início, ele disse que tinha solicitado blindados, e que isso foi negado. Depois, disse que a polícia e os recursos estaduais sozinhos dariam conta de enfrentar a situação. É um discurso inconstante, algo que é completamente antiprofissional", disse.

A especialista criticou a forma como a polícia agiu e a comparou com milícias. Também reprovou declarações do secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Santos. "Quando eu ouço esse secretário Victor Santos usar a palavra 'neutralização' em entrevistas, parece-me algo gravíssimo. É um eufemismo. É como se ele estivesse defendendo o extermínio. Essa posição é de milícia. Essa não é a posição da polícia do Estado Democrático de Direito. Isso é um ataque ao Estado Democrático", salientou.

"Não vou negar que existe uma facção criminosa com requintes de crueldade e perversidade. A gente sabe disso. Mas isso justifica que o Estado abra mão de uma política de segurança pública com critérios de civilização, de direitos humanos, e o Estado passe a desvirtuar essa política? Quer dizer, nós vamos assumir o terrorismo como uma arma de Estado?", afirmou.

Na opinião de Beatriz, a proposta da oposição de enquadrar integrantes de facções como narcoterroristas não ajudaria no combate ao crime. Ela disse que o tratamento legal é equivalente e que a razão lógica por trás disso é meramente retórica.

"Do ponto de vista jurídico, o tráfico é crime hediondo. O terrorismo também é. O terrorismo é crime insuscetível de graça, anistia, indulto. O tráfico também. O terrorismo é inafiançável, o tráfico, também. Inclusive, parece-me um benefício para os alvos envolvidos que eles passem a responder por um crime só."

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

 

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CY
postado em 05/11/2025 03:55
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