
A empresária e líder do grupo Mulheres do Brasil Luiza Trajano destacou nesta nesta segunda-feira (24/11) a importância da rede de proteção e da união entre mulheres para romper o ciclo de agressões, especialmente a psicológica, que, segundo ela, “volta no ciclo muito fácil” e destrói silenciosamente.
Trajano, com experiências acumuladas em anos de enfrentamento à violência dentro e fora das lojas do Magazine Luiza, discursou durante o evento “Democracia: Substantivo Feminino”, promovido pela presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia.
“Porque, se você não buscar uma corrente forte, não tem jeito. Não tem nada pior que isso”, afirmou. Trajano lembrou que a violência assume muitas formas: psicológica, material e física, e que a pior não é necessariamente a agressão visível, mas aquela que se instala na mente e aprisiona.
A empresária também defendeu com veemência a ampliação das rondas especializadas de atendimento a mulheres.
“O que mais funciona com isso é a ronda. Quando você tem ronda dia e noite, a mulher, duas horas da manhã, ela pede uma ajuda, a ronda chega na sua casa”, explicou, criticando o fato de as delegacias da mulher fecharem cedo e deixarem vítimas sem acesso ao Estado no momento mais crítico.
Ela lembrou que muitas unidades de ronda só atendem mulheres com medida protetiva. “A Ronda tem que atender qualquer mulher. Nós estamos lutando politicamente para tirar isso”, disse, destacando que projetos semelhantes já existem em vários estados, com diferentes nomes, mas com um mesmo propósito: salvar vidas.
Trajano também falou da atuação internacional do grupo Mulheres do Brasil, presente em diversos países, todos marcados, segundo ela, pelo mesmo problema: “Não tem um país que não tem violência contra a mulher e criança”.
Relatos de violência
Se a fala de Trajano trouxe estrutura e política pública, Fafá de Belém relatou choque, dor e denúncia. A cantora relatou, com detalhes, as violências que meninas sofrem há décadas no Marajó, e que seguem sem resposta institucional.
“Eles são perseguidos pelo prefeito, pelo vereador, que vai buscar crianças que já vão com as balsas (…), nove, dez, onze, doze, treze anos”, disse, descrevendo um ciclo perverso que atravessa gerações: avós, mães e filhas submetidas a abusos normalizados como “cultura”.
A artista contou que ouviu de autoridades que a prática de exploração seria parte de um costume local, algo que ela rechaça com indignação: “Como é cultura? Imagina que isso (…) nas fronteiras do Marajó, nas festas exigiam uma virgem. O pai, curioso, deflora a criança. A mãe faz de conta que não sabe”.
“Meninas vão para as balsas para fugir da tortura do pai, e o estado onde está?”, questionou a cantora, pedindo por mais políticas públicas para as crianças de Marajó.

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