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Deputados do PL são acusados por desvios de cota parlamentar

PF cumpre mandados de busca e apreensão contra Carlos Jordy e o líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante — na casa dele, agentes encontram R$ 430 mil. Ministro Flávio Dino, do STF, autoriza quebra de sigilo bancário dos congressistas

Os deputados federais Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara, e Carlos Jordy (PL-RJ) foram alvos de mandados de busca e apreensão em investigação da Polícia Federal sobre desvios de recursos de cota parlamentar. A ação foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou, também, a quebra de sigilo bancário dos deputados. Na residência funcional de Sóstenes Cavalcante, em Brasília, agentes encontraram R$ 430 mil em espécie. Os congressistas negam qualquer irregularidade. 

A ação da PF encerra uma semana marcada por reveses para o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na quinta-feira, a Câmara cassou os mandatos dos deputados Alexandre Ramagem (RJ), fugitivo da Justiça, condenado na trama golpista; e Eduardo Bolsonaro (SP), que foi para os Estados Unidos trabalhar contra o Brasil e perdeu o cargo por excesso de faltas.

A Operação Galho Fraco, desta sexta-feira, apura o uso de empresas de fachada para o desvio de verbas da cota parlamentar mediante a contratação de serviços fictícios ou irregulares de locação de automóveis.

De acordo com a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR), os assessores Itamar de Souza Santana (ligado a Jordy) e Adailton Oliveira (ligado ao PL e a Sóstenes) seriam operadores do esquema. As investigações indicam que a empresa Harue Locação de Veículos recebeu, entre janeiro de 2020 e abril de 2024, R$ 214 mil de Jordy e R$ 192,4 mil de Sóstenes. Além dos assessores, são investigadas mais cinco pessoas ligadas aos deputados.

Diligências constataram que a empresa não funciona no endereço declarado e possui apenas cinco veículos, enquanto locadoras da região possuem frotas superiores a 20 automóveis. Além disso, mensagens de WhatsApp obtidas pelos agentes revelaram a cobrança de valores "por fora" .

As suspeitas são de crimes de peculato, lavagem de dinheiro — incluindo a técnica de "smurfing", em que os criminosos fazem saques e depósitos de maneira fracionada para despistar a fiscalização — e organização criminosa. Segundo a PF, houve o fracionamento de depósitos e saques em valores de até R$ 9.999,00 para burlar o controle das autoridades financeiras.

"O pedido da Polícia Federal, amparado em relatórios de inteligência financeira e nas diversas conversas extraídas de celulares dos investigados, revela a existência de indícios robustos, bem como demonstra a imprescindibilidade das medidas requeridas para a continuidade da investigação", justificou Dino, na decisão. No documento, o ministro do STF detalha movimentos vultosos pelos investigados, frequentemente incompatíveis com seus rendimentos declarados e com origens ou destinos não identificados. O magistrado ainda autorizou o compartilhamento dos dados com a Receita Federal, para eventual abertura de procedimentos fiscais.

A ação marca novo estágio de um inquérito iniciado há um ano, quando assessores ligados a Sóstenes e Jordy foram alvo de buscas na Operação Rent a Car. À época, os parlamentares não foram incluídos nas diligências.

Defesas

Em coletiva de imprensa, Sóstenes Cavalcante negou envolvimento com irregularidades e disse não ter "nada a temer". Ele sustentou que o dinheiro encontrado pela PF tem origem lícita, fruto da venda de um imóvel.

O parlamentar declarou que seus advogados e contadores apresentarão a documentação necessária para comprovar a origem dos recursos. "Eu não tenho nada a temer e, por isso, estou aqui, de cabeça erguida, para dar explicações aos meus eleitores, ao povo brasileiro e às instâncias judiciais", discursou.

O parlamentar enfatizou que é alvo de perseguição política por integrar a oposição ao governo federal. "Essa é mais uma investigação para perseguir quem é da oposição, quem é conservador, quem é de direita", argumentou.

Jordy, por sua vez, divulgou nota e postou vídeo nas redes sociais. Assim como Sóstenes, ele se disse vítima de perseguição política. Segundo o deputado, as buscas são um desdobramento indevido da operação realizada no ano passado.

O deputado sustentou que a empresa de locação de veículos citada na investigação existe há anos e presta serviços a diversos parlamentares. No vídeo, Jordy classificou como "tosca" a alegação de que a locadora seria de fachada por possuir poucos veículos.

O político do PL também criticou o fato de endereços de seus pais, no Rio de Janeiro, terem sido alvo de buscas. "Estão fazendo essa mesma busca e apreensão na casa dos meus pais, dois senhores de idade. Não vou me deixar abalar", frisou.

Na nota, ele declarou que não cabe ao deputado fiscalizar a estrutura interna da empresa prestadora, mas contratar o serviço mais eficiente e com menor custo. Também disse causar "estranheza" o fato de ele e Sóstenes terem sido alvos da operação enquanto atuam em investigações sobre desvios bilionários no INSS.

 

 

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