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Pele marcada: conheça as características do vitiligo e como tratá-lo

Doença manifestada por manchas na pele, o vitiligo costuma afetar a autoestima e a confiança dos pacientes. Veja as particularidades e informações do distúrbio dermatológico

Mesmo que não possa ser curado, existem várias opções de tratamento para o quadro de vitiligo. -  (crédito: Reprodução/Pinterest/@hanenboubahri)
Mesmo que não possa ser curado, existem várias opções de tratamento para o quadro de vitiligo. - (crédito: Reprodução/Pinterest/@hanenboubahri)
postado em 17/04/2024 14:31 / atualizado em 17/04/2024 14:31

Assim que percebemos algo diferente na nossa pele, uma mancha ou um machucado, é comum pensarmos nos motivos para essa mudança. No caso do vitiligo, condição caracterizada por manchas claras na pele, as causas são diversas e ainda não muito claramente estabelecidas, mas, sabe-se, tem base genética. "É uma doença multifuncional em investigação, com diversos fatores, destacando-se alterações genéticas, doenças autoimunes, entre outros", explica o médico dermatologista Fabrício Claudino.

A perda de coloração da pele presente nessa doença é chamada de hipopigmentação, e é causada pela diminuição ou pela ausência de melanócitos, células da pele que são responsáveis pela produção de melanina. "Nessa condição, ocorre destruição seletiva dos melanócitos, levando à diminuição da pele e/ou mucosas", detalha Fabrício.

Por ser ligada à condição da autoimunidade e da genética, não há maneiras de evitar o vitiligo nem curá-lo totalmente, mas cuidados podem melhorar a aparência e estabilizar a condição. Por exemplo, o cuidado com estresse é benéfico para controle da doença.

Além disso, evitar roupas apertadas, redobrar os cuidados em relação à exposição solar e fazer acompanhamento com especialista frequentemente. "Por ser uma doença autoimune, o tratamento integral do indivíduo se faz necessário, pois quem tem uma condição autoimune também tem tendência a ter outras", explica a dermatologista Paula Luz Stocoo. Cuidar da saúde intestinal, praticar regularmente atividade física e incentivar a melhora da qualidade do sono são de fundamental importância.

Causas

As causas estão relacionadas com diversos fatores, mas está ligada, principalmente, à genética. “É uma doença que apresenta perda de tolerância do sistema imune contra os melanócitos, que são atacados por células chamadas linfócitos T", explica o dermatologista Caio Cesar Silva. Isso ocorre quando células reguladoras da autoimunidade, chamadas de reguladoras de linfócitos T, têm sua função ou número diminuídas por acontecimentos ainda não totalmente explicados. Eventos como estresse físico e mental, além de fatores ambientais, como um clareador de pele, são alguns exemplos que podem afetar essas células.

Classificação

O vitiligo pode ser classificado em dois grupos principais:

Não segmentar ou bilateral: manchas dos dois lados do corpo, geralmente de forma simétrica. As manifestações surgem, inicialmente, nas extremidades, como mãos ou pés. Nesse tipo, há momentos de perda de cor e depois de estagnação. Ocorrem durante a vida toda e os ciclos, assim como as áreas despigmentadas, geralmente, aumentam com o tempo.

Segmentar ou unilateral: nesse tipo, as lesões estão distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo e, normalmente, em pessoas mais jovens. Os pelos e os cabelos também podem perder a coloração natural.

O vitiligo pode surgir
As manchas do vitiligo podem surgir nos braços, pernas, abdome, pescoço e axilas. (foto: Reprodução/Pinterest/@hanenboubahri)

Sintomas

  • A grande parte dos pacientes com vitiligo não apresenta qualquer outro sintoma além das manchas. Porém, alguns podem ter sensibilidade nas áreas e dor. “Os pacientes de vitiligo sentem um leve prurido na pele quando as manchas brancas estão começando. Elas podem ser desde localizadas até despigmentadas quase no corpo todo”, completa Caio.
  • A maior preocupação, nesse caso, são os sintomas psicológicos e emocionais, que podem ser desenvolvidos pelo impacto na autoestima dos pacientes. “O suporte e o apoio psicológico são muito importantes, pois são lesões que costumam afetar bastante a qualidade de vida dos pacientes", afirma a dermatologista Paula Luz Stocoo. Isso gera um ciclo vicioso, no qual o estresse pode ser o gatilho de formação de lesão, assim como também de sustentação das lesões.

Diagnóstico

O diagnóstico do vitiligo é clínico, ou seja, realizado pela observação das manchas. Além disso, para auxiliar, em muitos casos, é realizado o exame com lâmpada de Wood, equipamento fluorescente comumente utilizado nos diagnósticos dermatológicos. “Na dúvida, também fazemos biópsia e anatomopatológico”, completa Caio. As duas ferramentas ajudam na confirmação de ausência ou redução dos melanócitos.

Tratamento

De acordo com a dermatologista Paula, para o tratamento da condição, as terapias tópicas, como corticoides, inibidores de calcineurina, medicamento usado em dermatoses alérgicas, são indicadas. Além disso, terapias sistêmicas, com o uso de corticoide por via oral e outros fármacos, podem ser alternativas.

Outros terapias complementares também são descritas, como o uso de antioxidantes orais e fototerapia e laser para estimular a repigmentação. "E uma abordagem que pode ser sugerida, caso as lesões já estejam estáveis e não tenham respondido às outras terapias, é a realização do tratamento cirúrgico do vitiligo", completa a dermatologista.

Mitos e verdades

Mesmo com aumento nas informações, ainda há muitos preconceitos com o vitiligo. A questão mais debatida é sobre ser contagioso ou não. Paula Luz afirma que as manchas não podem ser transmitidas. “Além disso, mesmo que já feita a relação dos genes que podem causar o vitiligo, não necessariamente quem tem vitiligo terá alguém próximo da família acometido”, completa. Em relação ao câncer, também muito relacionado à doença, a dermatologista também esclarece. “Os pacientes com vitiligo têm maior risco de desenvolver câncer de pele, isso é uma verdade, pois, como a pele não ter pigmento, ela fica mais sensível às queimaduras solares.”

Palavra do especialista

Qual é o panorama geral da doença e quais são os grupos mais atingidos?

No Brasil, temos mais de um milhão de pessoas com essa condição (0,5% da população) e, no mundo, até 2% da população. Em relação à idade, 80% dos casos ocorrem antes dos 30 anos, destaca-se a presenta de até 25% dos casos em menores de 10 anos. Ela é uma doença que pode afetar pacientes de todas as raças, sem preferência específica.

Quais são as formas que compreendem o tipo não segmentar da doença?

No tipo não segmentar, temos algumas formas. A focal, que se refere às manchas pequenas em uma área específica do corpo. A do tipo mucosa, com manchas somente nas mucosas, como lábios e região genital. A acrofacial, manifestada por manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e das genitais. A comum, com manchas no tórax, no abdome, nas pernas, nas nádegas, nos braços, no pescoço e nas axilas. E a universal, que apresenta manchas espalhadas por várias regiões do corpo.

O que é procurado durante o diagnóstico do paciente com suspeita de vitiligo e quais são os tratamentos promissores?

O diagnóstico de vitiligo é geralmente simples, feito clinicamente com base no achado de máculas ou manchas adquiridas, melanóticas, não escamosas, branco-giz, com margens distintas em uma distribuição típica segundo os grupos acima descritos. Sobre os tratamentos, a doença não tem cura, mas novos tratamentos têm surgido com medicações inibitórias da Janus Kinase ( JAK) que são promissoras.

Fabrício Claudino Estrela Terra Theodoro é médico dermatologista especialista em oncologia dermatológica

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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