Numa era em que nossas casas se tornaram extensões de quem somos, a fotografia deixou de ser apenas registro: virou decoração, narrativa e identidade. Molduras, cores, composições e até novos suportes ganharam força como ferramentas de estilo e, cada vez mais, contam histórias que preenchem paredes com afeto.
A tendência não é de agora, mas se fortaleceu com a busca por ambientes mais autênticos. "Uma imagem bem escolhida orienta a paleta, define o clima e funciona quase como a assinatura do espaço", explica a designer Eliene Lucindo, do Laboratório de Interiores. Segundo ela, decorar com fotos é também um gesto de curadoria, ou seja, escolher o que queremos ver todos os dias.
A designer de interiores Aline Silva, da Interioras Design, concorda e reforça que as fotografias têm um poder simbólico especial. "Elas contam quem mora ali. Revelam memórias, preferências, afetos e até o ritmo de vida da casa. Uma foto pode reforçar o estilo que você quer transmitir, seja ele mais clássico, seja contemporâneo, afetivo ou autoral. É um detalhe que transforma o espaço em algo verdadeiramente único", destaca.
Galeria particular
Para quem gosta de ambientes com personalidade, as fotografias são a oportunidade perfeita para criar canto afetivo sem grandes reformas. Elas podem aparecer em paredes inteiras, nichos iluminados, prateleiras ou até dispostas de forma inesperada, como móveis baixos ou combinadas com pequenos objetos decorativos.
A empresária Alana Buzinaro, de 25 anos, é apaixonada por hobbies e trabalhos manuais, e decidiu combinar essa habilidade com a fotografia, expondo suas memórias de forma criativa. "Eu sempre tive várias fotos polaroid, guardadas em um potinho, e queria muito fazer alguma coisa com elas, vi algumas inspirações e decidi arriscar fazer um porta-retratos de cerâmica."
O resultado foi apaixonante e, rapidamente, ela preencheu toda uma parede, antes completamente branca, de memórias em porta-retratos coloridos. Na hora de escolher como pintar, Alana gosta de "ver no que dá", deixando a criatividade fluir. "Combinei fotos pessoais com imagens coloridas de viagens, e a parede se transformou no ponto favorito da casa", conta. Para ela, o segredo está em misturar formatos, alturas e estilos para criar movimento.
Para a empresária, as fotos não são apenas decoração, mas recordação. "Com os celulares, a gente parou de revelar fotos, momentos especiais que só ficam guardadas na galeria. Então, revelar essas fotos e usar na decoração, podendo olhar a qualquer hora e recordar daquele momento, é muito especial", detalha.
Misturas que funcionam
Pensar na intenção do ambiente ajuda a conduzir escolhas estéticas. Fotos em preto e branco criam silêncio visual e elegância; coloridas trazem energia e personalidade. "As fotos em P&B focam forma, luz e emoção. Já as coloridas acrescentam vitalidade e podem reforçar a paleta do projeto. A escolha depende da atmosfera que queremos criar", explica Aline.
De acordo com Eliene Lucindo, pensar na intenção do ambiente ajuda a conduzir escolhas: imagens coloridas adicionam calor e emoção e molduras em madeira natural ou metal fino, que estão em alta, garantem unidade, mesmo quando as imagens são variadas. Outro recurso que cresce é o uso de caixas acrílicas, que dão leveza, profundidade e aparência "flutuante". O efeito é moderno e permite que mesmo composições densas não pareçam pesadas.
Tanto Aline quanto Eliene apontam molduras minimalistas como tendência. Perfis finos em metal fosco, madeira clara ou modelos flutuantes, que criam profundidade, estão em alta. "Há também um movimento bonito em direção às molduras sustentáveis, de madeira reciclada ou bambu, que trazem um toque orgânico", acrescenta Aline.
Lugares estratégicos
Posicionar fotografias nas entradas funciona como cartão de visita da casa, já corredores de passagem ganham alma quando contam histórias, e na sala de estar recebe bem composições maiores ou galerias completas. No home office, as fotos podem inspirar e modular o estado de espírito; e nos quartos, o ideal é escolher imagens suaves, quase como um abraço visual. "O importante é que as fotos estejam em lugares onde a vida realmente acontece", afirma Aline.
E mesmo quando muitas imagens estão presentes, a especialista recomenda equilíbrio: "O segredo é deixar o olhar respirar. Pequenos intervalos, molduras leves ou espaçamentos generosos mantêm a composição elegante e organizada. Não é sobre quantidade, é sobre ritmo visual".
Além das paredes, as fotografias têm ocupado novos suportes. "Há um movimento muito bonito de trazer as fotos para o dia a dia da casa: prateleiras baixas, aparadores, mesas laterais e murais flutuantes deixam tudo mais vivo e menos engessado", destaca Aline. Varais com clipes, painéis de cortiça e composições que misturam fotos, tipografias e objetos ampliam a narrativa visual.
A iluminação é outro ponto-chave. Para Aline, a luz destaca o que é importante e traz vida para a imagem. Nada agressivo: só o suficiente para realçar aquele momento. Spots direcionados, luz lateral suave e temperatura de cor estável valorizam contraste, textura e profundidade da imagem.
Casos recentes em revistas de design mostram como a fotografia pode redefinir por completo a leitura de um ambiente, de salas que ganham personalidade instantânea, home offices em que a imagem funciona quase como estímulo criativo e corredores que viram galerias afetivas. Em muitos desses projetos, a combinação de molduras variadas e peças grandes se tornou protagonista, transformando paredes antes neutras em espaços expressivos e sensoriais.
Aline lembra um projeto recente para um casal que ama viajar. "Organizamos tudo em um corredor que liga a área social ao home, com prateleiras de madeira e iluminação embutida. Eles podem trocar as fotos sempre que quiserem. Criou-se uma galeria viva, cheia de identidade."
Por fim, Aline resume aquilo que atravessa toda essa tendência: "A fotografia aproxima, humaniza e faz a casa falar a língua de quem vive nela. É estética, mas também é sensação".
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
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