Encerrar ciclos é um movimento natural da vida. Quando o relógio bate 0h, de 31 de dezembro para 1° de janeiro, muitos imaginam e planejam como o novo ano virá. Para além das metas, a expectativa do que surgirá nas áreas que muitos gostam e são interessados: moda, filmes, beleza e a decoração do lar. No entanto, com o advento da internet e de tantos algoritmos, prever isso ficou cada vez mais fácil.
As tendências, vira e mexe, aparecem e desaparecem. O que era bonito e elegante em 1950 pode ressurgir em 2026 com tons recheados de afeto e nostalgia. Fato é que, agora, vários sentimentos carregam a força desses eventos que já viram febre antes de nascer. Assim, o porvir não é mais uma incógnita, mas um rastro de dados deixado por mais de 600 milhões de pessoas.
O relatório Pinterest Predicts 2026, um dos mais famosos dessa nova era virtual, foi divulgado no começo do mês de dezembro. Nele, a revelação do que será marcado como busca pelos usuários. Conforto sensorial, nostalgia e um otimismo realista fazem parte desse desejo individual — e talvez um pouco coletivo.
Diferente de outras redes sociais focadas em engajamento passageiro, a plataforma de busca visual consolidou um método que antecipa tendências com 88% de assertividade, focando no que as pessoas planejam, e não apenas no que curtem. De acordo com Rogério Nicolai, diretor de negócios do Pinterest Brasil, a grande mudança para 2026 é a transição do entretenimento rápido para a intenção real.
Segundo ele, o diferencial está em capturar o "e se" do consumidor antes mesmo da compra. Ao analisar buscas, salvamentos e cliques, o Pinterest consegue prever o que ganhará popularidade com até dois anos de antecedência.
"Conseguimos capturar a intenção futura em tempo real, o que nos dá uma leitura única do que está prestes a ganhar popularidade. Para as marcas, isso significa trabalhar com um radar ancorado em contexto visual — não apenas em engajamento superficial", destaca o relatório da plataforma.
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Conforto sensorial
Uma das maiores surpresas para 2026 é a ascensão do universo gummy. O que começou como um nicho em beleza evoluiu para uma força cross-category: de nail art emborrachada a capas de celular maleáveis e blushes em gel. "Essa estética tátil reflete uma necessidade global de conforto", detalha Rogério.
"Quando olho para os dados de Pinterest Predicts e para o que vemos no dia a dia na plataforma, um macronicho que se destaca de forma muito clara é o universo do conforto sensorial. No relatório, falamos de não conformismo, autopreservação e escapismo como forças que impulsionam as 21 tendências para 2026 - mas, quando colocamos tudo isso junto, o que emerge é um foco consistente em bem-estar emocional", acrescenta.
Na pesquisa global conduzida em seis países, incluindo o Brasil, mais da metade das pessoas aponta conforto como necessidade nº 1 no dia a dia; 52% dizem estar revendo filmes e séries clássicas; e quase 4 em cada 10 estão cozinhando ou comendo comidas tradicionais que trazem conforto. "Em outras palavras, as pessoas estão buscando menos a próxima novidade e mais formas de se sentirem seguras, acolhidas e reguladas emocionalmente", completa.
A chave de 2026, portanto, é a combinação de emoção, nostalgia e estímulos sensoriais - seja por meio de texturas, cores, sabores, aromas, sons, rotinas ou produtos que ativem memórias afetivas. Isso aparece em tendências táteis como "Jujuba joia", nas estéticas escapistas de "Elo intergalático", nos rituais de autocuidado e nas cozinhas que resgatam receitas de família com releitura contemporânea.
"Para as marcas, é um terreno especialmente fértil: não se trata apenas de vender um item, mas de desenhar experiências completas que ajudem as pessoas a desacelerar, criar refúgios cotidianos e encontrar pequenas rotas de fuga emocionais de forma autêntica", finaliza Rogério.
A moda autoral
Se o assunto é criatividade e originalidade, a moda brasileira vive um momento especial, que deverá ganhar terras ainda mais férteis em 2026. Na visão de Juliana Frasca, porta-voz da Renner, o ano que vem será de muita identidade e confiança. Ela acredita que o cenário fashion nacional está em uma fase de emancipação criativa, sobretudo com a visibilidade da Copa do Mundo e o retorno de eventos como a Rio Fashion Week.
"Em 2026, a moda brasileira ganha ainda mais confiança na própria identidade. Criar com intenção faz toda a diferença. Quando permitimos que cada pessoa traduza quem é no vestir, ela ganha força real", afirma Juliana Frasca.
A porta-voz ressalta que tendências como o uso de cores que trazem equilíbrio (alinhadas à paleta Pantone) e coleções colaborativas entre grandes varejistas e marcas autorais serão o pilar para manter o setor vivo e próximo do consumidor.
De acordo com ela, as tendências seguem sendo relevantes, mas devem entrar de forma mais natural no guarda-roupa. "O que importa, de verdade, é a forma como cada um usa essas tendências", destaca.
A voz da Gen Z
Representando mais de 50% dos usuários globais do Pinterest, a Geração Z é quem dita o ritmo das 21 principais tendências para o próximo ano. Para esse público, a moda deixou de ser sobre marcas de luxo e passou a ser sobre curadoria pessoal. Carlos Eduardo Silva, 23 anos, exemplifica esse novo comportamento. Após um 2025 focado no maximalismo de acessórios, ele projeta um 2026 mais funcional e autêntico.
"Moda não é simplesmente usar uma marca de luxo estampada, mas sim transformar qualquer roupa em algo coerente, autêntico e satisfatório para quem veste. Quero usar esse interesse como forma de contribuir para o meu bem-estar", diz o analista de dados. Ele, que acompanha mais do mundo da moda desde 2023, entrou nesse universo com o intuito de usar o vestuário para ser uma extensão de quem é.
Com isso, quero continuar acompanhando esse mundo de forma leve e prazerosa, usando esse interesse como uma forma de contribuir para o próprio bem-estar no dia a dia. "Uma tendência que já está em ascensão e que me agrada muito são as bolsas masculinas maiores, que unem estilo e funcionalidade", lembra.
Para Carlos, a moda significa a possibilidade de se expressar por meio das roupas e dos acessórios, sempre buscando conforto e bem-estar. "Não é simplesmente usar uma camiseta com uma marca de luxo estampada, mas sim transformar qualquer roupa em algo coerente, autêntico e satisfatório para quem veste", conclui.
Destinos únicos
Viajar em 2026 será, mais do que nunca, um exercício de identidade. É o que revela a pesquisa anual Previsões de Viagem 2026, divulgada pela Booking.com. Em seu décimo ano, o estudo mostra que as férias estão deixando de seguir roteiros óbvios. No lugar do turismo padronizado, entram experiências individuais, emocionais e autênticas.
Com base nos insights de mais de 29 mil viajantes em 33 países, a pesquisa aponta nove grandes tendências. Todas elas têm algo em comum: a rejeição às convenções e a busca por viagens que façam sentido pessoal. Não se trata apenas de ir a um lugar, mas de viver algo que dialogue com desejos, memórias e valores.
Entre fantasia, tecnologia, espiritualidade e silêncio, 2026 promete viagens mais profundas. E, para além dos dados, histórias reais ajudam a ilustrar esse novo jeito de explorar o mundo.
Fantasia romântica
Os livros sempre foram companheiros de viagem, mas agora passam a ser guias. Em 2026, a fantasia romântica influencia diretamente a escolha dos destinos. Segundo a Booking.com, 81% dos viajantes brasileiros têm interesse em visitar lugares inspirados por esse universo.
Mais do que visitar, muitos querem viver a narrativa. Mais da metade (57%) estaria disposta a participar de retiros de interpretação de papéis baseados em jogos, livros ou filmes. E 24% já planejam incluir esse tipo de experiência em viagens futuras.
A tecnologia amplia essa imersão. Para 83% dos brasileiros, a IA pode sugerir destinos com estética de fantasia, estadias isoladas ou cenários de filmagem. A imaginação deixa de ser fuga e passa a ser bússola.
A estudante Julia Barbieri, 21 anos, é um retrato dessa tendência. O cinema moldou não só seus sonhos, mas também seus destinos. "O filme Meia-Noite em Paris com certeza fez eu me apaixonar ainda mais pela cidade, a visão romântica da Belle Époque, tanto o dia quanto a noite, que ornam Paris. Sempre tive uma quedinha por lá, mas depois desse filme os motivos só se intensificaram. Além disso, eu amo Cartas para Julieta, sou uma pessoa que ama comédia romântica e a história da Claire naquele lugar mágico me fez colocar Verona na lista de cidades para visitar."
Para ela, o impacto vai além do entretenimento. O cinema, muitas vezes subestimado, torna-se formador de imaginários e escolhas. "Quando falei para minha mãe que queria conhecer por causa de tal filme ou personagem, nunca tinha parado para pensar em como o cinema era estratosférico e impactante. Muitas pessoas o menosprezam, mas o cinema é muito maior que qualquer profissão, ele inspira e cria personalidades, e naquele momento em que minha mãe me perguntou, eu senti isso."
As redes sociais ajudam a montar o roteiro, mas a emoção vem antes. "Hoje em dia tem muita coisa nas redes sociais que me ajudaram a montar o roteiro, mas com certeza a escolha das cidades e algumas atrações foram influenciadas por filmes."
Para Julia, viajar assim muda completamente o sentido da experiência. "Acredito que traz um pouco da sensação de já conhecer o lugar, aproxima as pessoas tanto dos filmes quanto do próprio destino, porque a escolha do lugar agora é por algo muito maior que status e coisas do gênero. Mudou muito minha forma de ver a viagem em si", destaca.
Ela já visitou Paris e agora retorna à França. No roteiro também estão cidades pequenas da Suíça e da Itália: Milão, Veneza, Verona, Florença e Roma. A viagem, planejada há dois ou três anos, acontece em janeiro.
Casas humanoides
A ideia de casa de temporada também muda. Em 2026, elas ganham assistentes humanoides e robóticos. Para 86% dos brasileiros, essa experiência é desejável. A praticidade lidera: 63% se interessam por robôs de limpeza. Outros 45% se animam com a ideia de um chef robótico. E 31% gostariam que robôs cuidassem da sustentabilidade da casa. No entanto, não é apenas a conveniência, para 40%, o atrativo é a novidade e, para 19%, o apelo está em viver algo digno de ficção científica.
Teste de turbulência
Viajar também vira teste. Em 2026, 79% dos viajantes brasileiros querem usar férias para avaliar relacionamentos, sejam românticos, amizades ou parcerias profissionais. Para 60%, destinos remotos ajudam a testar limites. Outros 56% se interessam por viagens com troca de papéis. E 50% topam aventuras com orçamento limitado ou pouca conectividade. A Geração Z lidera essa experimentação: 77% estão abertos a itinerários criados para simular desafios da vida real.
Souvenirs de prateleira
Os souvenirs também ganham novo significado. Em 2026, 75% dos brasileiros considerariam comprar utensílios de cozinha ou itens de despensa. Potes, azeites, temperos e embalagens viram lembrança e decoração. Para 64%, o produto pode até definir o destino. E, para 33%, cozinhar com esses itens é uma forma de reviver a viagem.
Destinos astrológicos
As estrelas também entram no planejamento, já que 49% dos viajantes brasileiros mudariam planos por orientação espiritual. Outros 37% repensariam viagens com base no horóscopo. Para muitos, viajar é alinhar corpo, mente e cosmos. Geração Z e millennials lideram essa busca.
Dermoescapadas
O bem-estar ganha foco na pele: 91% dos brasileiros fariam viagens com tratamentos personalizados. E 74% considerariam usar IA para escolher destinos de cuidados dermatológicos. Espelhos inteligentes, estações de hidratação e suítes com ritmo circadiano entram no pacote. Dormir bem também vira parte essencial do roteiro.
Hobbies silenciosos
O silêncio se torna desejo, pois 47% querem férias mais próximas da natureza e 37% adotam hobbies tranquilos durante as viagens. Observação de pássaros, pesca e forrageamento ganham espaço. É o descanso como reconexão.
A professora Letícia de Queiroz, de 30 anos, levou isso ao extremo. Em 2022, fez um retiro de 10 dias de silêncio na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. "O que me motivou foi a busca pela espiritualidade, por desenvolver esse autoconhecimento."
Sua experiência envolveu silêncio absoluto, meditação intensa e mudanças profundas. "O maior aprendizado que eu tive foi de estar presente e de não interferir na vida de ninguém", conta. Três anos depois, o impacto permanece. "Saber que eu posso ir para esse lugar de paz… porque o silêncio, ele é mais interno do que externo."
Nostalgia
Em 2026, lembranças viram destino: 80% dos brasileiros viajariam para recriar fotos ou memórias do passado. Para muitos, é uma forma de cura, conexão e crescimento.
Férias para comemorar o "eu"
Por fim, viajar não precisa de motivo, pois 67% dizem não precisar de uma data especial. Viajar vira recompensa, celebração pessoal e afirmação de identidade.
