Mobilização

Rivalidade entre torcidas de times gaúchos no DF dá lugar à solidariedade

As cheias no Rio Grande do Sul despertam, cada vez mais, a empatia nos moradores do DF. Na Base Aérea de Brasília, o volume de donativos mostra o desejo de ajudar. E adversários históricos deixam as rixas de lado em favor do bem maior

 Pedro Fonseca e os amigos foram à base em quatro caminhonetes repletas de donativos  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Pedro Fonseca e os amigos foram à base em quatro caminhonetes repletas de donativos - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Brasília, a cada dia, amplia a mobilização e se empenha para ajudar a população do Rio Grande do Sul, que sofre com a tragédia da maior inundação de sua história. Na hora da solidariedade, pessoas que em outras circunstâncias vivenciam o antagonismo, agora, estão de mãos dadas em favor do bem. Não há partido político nem religião nem time de futebol. 

Na capital federal, apesar da histórica rivalidade entre Grêmio e Internacional, os presidentes dos grupos de torcedores locais se uniram e trabalham com as torcidas coletando donativos para seus conterrâneos e familiares.

Giscard Stephanou, coordenador regional do Consulado do Grêmio no DF, ligou para Camilla Beccon, que comanda o consulado colorado, para combinar uma ação conjunta entre as torcidas após receber a sugestão de um amigo que torce para a equipe rival.

Os grupos divulgaram em suas contas no Instagram maneiras de ajudar financeiramente a região. Depois, foram chamados pelo Senado para integrar o projeto Liga do Bem, com o qual têm coordenado a distribuição dos donativos.

O gremista e porto-alegrense afirma que a iniciativa das torcidas é inédita e foi tomada pela gravidade dos problemas, que "superam o tamanho de qualquer rivalidade". Giscard diz que a arrecadação de agasalhos é a principal preocupação, com a aproximação do inverno que, no estado gaúcho, é bastante rigoroso. "O Rio Grande do Sul está esfriando. Algumas cidades alcançaram a marca de 10ºC, então, os agasalhos são a nossa prioridade. Já fizemos a primeira entrega na Base Aérea na última terça-feira. Foram 5,5 mil cobertores — 500 a mais do que a nossa meta inicial. Agora, vamos continuar para conseguir mais água potável e alimentos para os que precisam", antecipa o cônsul do Grêmio.

"Juntos temos uma capacidade muito maior do que se cada consulado estivesse sozinho, tanto que a repercussão da união entre as torcidas vem sendo muito positiva. Muita gente de fora do RS acaba doando, por ver que a causa é maior do que a disputa GreNal", enfatiza a consulesa do Internacional. "As doações (de todo o país) estão começando a chegar, principalmente na região metropolitana de Porto Alegre, e estão ajudando muito. Para o interior, ainda está bem complicada a logística pela falta de estradas disponíveis. É importante continuar doando para poder espalhar para todo o estado", prossegue Camilla, nascida em Santiago, a 443km da capital do estado.

Torcedores do Criciúma, do Avaí e do Figueirense, times de Santa Catarina, também estão contribuindo com a iniciativa. Sem sedes, os consulados de Grêmio e Internacional não têm locais fixos para reunir os donativos e, por isso, pedem que sejam entregues nos pontos de recolhimento da Liga do Bem.

sos rio grande do sul doacoes
sos rio grande do sul doacoes (foto: editoria de arte)

O Correio esteve na Base Aérea de Brasília (BABR), nessa quinta-feira (9/5), para acompanhar a chegada de doações. Em menos de duas horas da abertura dos portões, às 9h30, o galpão reservado para abrigar os itens arrecadados estava tomado por fardos de garrafas d'água, colchões e cestas básicas. 

Havia itens diversos, desde ração a colchões e cobertores. Sem dar importância ao tamanho da fila, famílias se juntavam para descarregar os veículos. Segundo o capitão Breno Rodrigues de Souza, chefe da seção de comunicação social da Base, as doações eram recebidas no portão de entrada e os militares as levavam para o hangar. Contudo, o volume recebido superou as expectativas e a logística foi modificada. Agora, as arrecadações estão abrigadas em três hangares, que medem cerca de 3.000m2. O cenário demonstra que haverá a necessidade de outro galpão. 

Balanço da Força Aérea Brasileira (FAB) apontava ontem que a campanha Todos Unidos pelo Sul alcançou a marca de 1.500 toneladas de donativos recebidos nas Bases Aéreas de Brasília, Galeão e São Paulo. "A gente tem que falar da sociedade brasiliense. Há fila de 3km de carros e as pessoas não estão incomodadas com isso. Participei de várias operações, mas não há nada parecido com isso aqui. Todo o Brasil está envolvido", disse ao Correio o tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da FAB.

  • Primeira-dama Maiara Noronha Rocha em visita à Base Aérea de Brasília, ao lado o tenente-coronel Moraes
    Primeira-dama Maiara Noronha Rocha em visita à Base Aérea de Brasília, ao lado o tenente-coronel Moraes Caio Ramos/CB
  • Giscard e Camilla priorizaram a doação de agasalhos, porque as temperaturas começaram a cair
    Giscard e Camilla priorizaram a doação de agasalhos, porque as temperaturas começaram a cair Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  Pedro Fonseca e os amigos foram à base em quatro caminhonetes repletas de donativos
    Pedro Fonseca e os amigos foram à base em quatro caminhonetes repletas de donativos Ed Alves/CB/DA.Press
  • Profissional da saúde, Carla Menezes foi à base, ontem, pela terceira vez
    Profissional da saúde, Carla Menezes foi à base, ontem, pela terceira vez Ed Alves/CB/DA.Press
  • Os três hangares foram cheios somente nesta semana
    Os três hangares foram cheios somente nesta semana Ed Alves/CB/DA.Press
  • tragedia no sul
    tragedia no sul pacifico
 

Unidos para fazer o bem 

O estudante de veterinária e morador de Sobradinho Pedro Fonseca Soares, 20 anos, chegou ao hangar em uma caminhonete abarrotada de donativos. Atrás, outros três veículos estacionaram com a carroceria repleta de produtos. Orgulhoso, observou que, "de pouquinho em pouquinho", o grupo juntou os itens. "A gente reuniu amigos e, em parceria com a igreja de um deles, arrecadamos cobertores, roupas e produtos de higiene básica. Reunimos quatro caminhonetes para ajudar", disse.

A servidora da Secretaria de Saúde Carla Menezes, 53, moradora do Sudoeste, relatou, emocionada que, no trabalho dela, todos se empenharam em ajudar, especialmente por conhecerem de perto o sofrimento. "Nós já viemos em dois carros para trazer roupas e mantimentos e, hoje, estou aqui outra vez. Acredito que se todo brasileiro fizer um pouquinho, será suficiente para mudar a realidade que eles estão vivendo lá", destacou.

*Com Henrique Sucena, estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso

 

ATENÇÃO

A grande quantidade de arrecadações torna o trabalho de separação cada vez mais árduo. De acordo com a FAB, entregar as doações organizadas e identificadas em caixas de papelão facilita a tarefa. Na Base Aérea, os donativos estão sendo recebidos todos os dias, das 8h às 18h.

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postado em 10/05/2024 04:00
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