VIOLÊNCIA ARMADA

Tiroteios no RJ em 2023 mataram maior número de crianças desde 2016

Dados divulgados pelo Instituto Fogo Cruzado apontam ao menos 25 crianças baleadas na região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que 10 morreram

Do total de tiroteios do ano passado no Rio de Janeiro, 34% ocorreram durante ações policiais — em 2022, foram 35% -  (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Do total de tiroteios do ano passado no Rio de Janeiro, 34% ocorreram durante ações policiais — em 2022, foram 35% - (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Ao menos 25 crianças foram baleadas na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2023 — mesmo número registrado em 2018, ano de intervenção federal. Porém, enquanto em 2018 quatro crianças foram mortas, no ano passado 10 morreram vítimas da violência armada, o que faz de 2023 o ano mais letal desde 2016. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado, divulgados nesta segunda-feira (29/1).

No Rio de Janeiro, os 2.953 tiroteios registrados em 2023 deixaram 962 mortos e 884 feridos. Do total de tiroteios do ano passado, 34% ocorreram durante ações policiais — em 2022, foram 35%. "São quase três tiroteios por dia durante operações policiais no Grande Rio, em média. Esses tiroteios atingiram 977 pessoas ao longo do ano", destaca o Fogo Cruzado. Além do Rio de Janeiro, o Instituto também monitorou os estados de Pernambuco e Bahia. 

Em Pernambuco, dos 1.827 tiroteios mapeados na região metropolitana do Recife, apenas 5% ocorreram durante ações e operações policiais. Ao todo, foram 99 tiroteios nestas circunstâncias. No entanto, o que se destaca é o crescimento expressivo, pois em comparação com 2022, houve um aumento de 48% nos tiroteios com participação policial, crescimento muito superior ao da violência armada como um todo (8%).

Na Bahia, o relatório reforça o fato de que o estado tem uma das polícias mais violentas do Brasil. Os dados apontam que 37% dos 1.804 tiroteios mapeados ao longo do ano ocorreram durante ações e operações policiais. Dos 1.413 mortos no ano, 190 morreram nas 48 chacinas que ocorreram em Salvador e na região metropolitana, sendo que 69% dessas chacinas foram durante ações ou operações policiais, deixando 136 civis mortos — representando 72% das mortes.

“Os dados do Fogo Cruzado são de três dos estados mais importantes e populosos do Brasil, então a gente tem que olhar para eles como um recorte que já não é local. Na verdade, refletem o que vemos nos grandes centros brasileiros, com alguma variação, claro, mas um retrato da realidade do país atualmente. Recorde de crianças baleadas e a milícia provocando terror no Rio de Janeiro. Recorde de violência policial e explosão de mulheres baleadas em Pernambuco. Cinco dias de chacinas na Bahia", frisa Maria Isabel Couto, diretora de dados e transparência do Instituto Fogo Cruzado.

"Se o começo de 2023 foi de esperança, a realidade do ano foi marcada pelo descontrole da violência armada nos três estados. As respostas dos governantes foram ineficientes em todos os casos por falta de um plano de segurança pública e ausência de transparência de dados. O relatório anual do Fogo Cruzado evidencia a falha dos estados em conter o avanço da violência, preferindo o confronto no lugar de estratégias inteligentes de prevenção”, acrescenta Maria Isabel.

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postado em 29/01/2024 09:47
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