
A Educação é um dos calcanhares de Aquiles do Brasil, e o problema começa na sala de aula. Em São Paulo, por exemplo, a maior cidade do país, as apostilas didáticas utilizadas no Ensino Fundamental da rede estadual possuem erros primários identificados pelos próprios alunos.
É o caso da Eduarda Silva, 9 anos, moradora da Zona Sul da capital, que descobriu erros na apostila de geografia, com as fotos de biomas trocados. No lugar dos Pampas, uma foto de uma araucária e, no lugar da araucária, a foto dos Pampas. No lugar de uma foto que deveria ser da divisa dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, aparecia a Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. (Veja a foto)
"Eu fui estudar e comecei a olhar as fotos, achei muito confuso. Aí eu pesquisei e descobri que estava tudo errado, mas a professora só faz a gente copiar o texto", disse a estudante, ao Correio. Ao constatar o erro, Eduarda contou que mostrou a apostila para a professora, mas ela não tomou providência alguma.
Procurada, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) de São Paulo informou que instaurou uma investigação preliminar para apurar a responsabilidade pelas inconformidades identificadas no material didático comunicadas pelo Correio, que deverá ser substituído no ano que vem. "O outro material pedagógico que foi ministrado pelos professores em sala de aula está correto e em conformidade com o Currículo Paulista. Com relação ao conteúdo impresso, já foi enviada uma errata com as devidas correções às escolas e respectivas orientações", destacou a nota do órgão.
A rede de Ensino Fundamental de São Paulo é composta por 1,8 milhão de alunos, de acordo com a Seduc. O órgão informou ainda que os materiais didáticos impressos são próprios, "baseados no Currículo Paulista, além de conteúdos digitais, personalizáveis e não obrigatórios, respeitando a autonomia docente".
Erros constantes
De acordo com a especialista em políticas educacionais Claudia Costin, erros em materiais didáticos são comuns, de forma geral. "Como acompanho muito o setor e editoras, erros em livros didáticos acontecem, e muito", contou. "Uma vez, houve uma sabotagem na Seduc, mas dessa vez não", acrescentou.
No caso das apostilas em formato de livro, como as utilizadas na rede estadual paulista, a especialista considerou também um erro comum, e destacou que a secretaria não recolhe porque "a operação acaba ficando cara". "Eles mandam uma errata para ser impressa em cada escola", explicou.
No âmbito federal, os livros e outros materiais didáticos adquiridos e distribuídos às escolas públicas de educação básica são submetidos por meio de edital, à avaliação pedagógica realizada pelo Ministério da Educação, "mediante sua inscrição no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD)", segundo a assessoria do MEC.
"Por meio do PNLD, são avaliadas e disponibilizadas obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital e às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o poder público", informou a nota.
Segundo a pasta, a distribuição, pelo FNDE, de obras didáticas ou literárias às escolas, "é precedida de edital específico e aprovação em avaliação pedagógica, coordenada pelo Ministério da Educação". Contudo, o órgão não comentou sobre os erros nos materiais didáticos.
Lanterna global
E, com isso, o Brasil segue na lanterna global quando o assunto é Educação. Conforme dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado anualmente pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). No ano passado, o país ficou na 44ª posição entre 57 economias analisadas sobre criatividade e pensamento crítico, com 10 pontos abaixo da média da OCDE e o reflexo dessa falta de qualidade começa no material escolar.
Um levantamento recente da organização não-governamental (ONG) Todos pela Educação mostra um dado preocupante sobre aprendizagem nas escolas pós-pandemia entre alunos do Ensino Fundamental. Segundo o estudo, entre 2003 e 2023, houve um avanço consistente ao longo das últimas décadas, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. Desde 2021, segundo o estudo, houve queda nos níveis de aprendizagem adequada, com maior redução em Matemática.
Considerando o nível adequado de aprendizagem para o 5º ano do Ensino Fundamental, 13 estados apresentaram variação positiva em Língua Portuguesa — São Paulo registrou a segunda maior queda, de 6,4 pontos percentuais em relação a 2019, atrás apenas de Mato Grosso do Sul (-7,4%). Enquanto isso, o Distrito Federal registrou queda de 3,9%, na mesma base de comparação. Em Matemática, apenas sete registraram avanços — Piauí (1,5%), Paraíba (1,8%), Maranhão (4,2%), Sergipe (1,9%), Amapá (3,2%), e Pará (0,7%).
Entre os estados com aprendizagem adequada, São Paulo não lidera o ranking elaborado pela ONG. "Por ser o estado mais rico, São Paulo deveria estar entre os primeiros , mas há muita desigualdade social no estado e há muito ainda o que melhorar em termos de educação", destacou Claudia Costin. Ela lembrou que a cidade de São Paulo, a mais rica do Brasil, ainda mas tem um desempenho nos anos iniciais pior do que os alunos da rede estadual, de acordo com os dados do último Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico (Saeb).
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