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Os impactos da mudança climática na educação

Ao participar do 27º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular, Marina Silva adverte que quase 2 mil municípios estão vulneráveis aos efeitos extremos. Já o ministro da Educação chama a atenção para o avanço na formação de professores

 Ministra Marina Silva no 27º Fnesp -  (crédito: Juliana Freitas/Semesp)
Ministra Marina Silva no 27º Fnesp - (crédito: Juliana Freitas/Semesp)

São Paulo — As mudanças climáticas impactam diretamente na educação e o Brasil deve estar atento a isso. Foi o que advertiu a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) ao participar, ontem, do segundo dia do 27º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular (FNesp), em São Paulo. Ela lembrou que 1.942 municípios do país estão em situação de vulnerabilidade a eventos extremos e defendeu investimentos em drenagem, abrigos, rotas de fuga e infraestrutura.

"Tudo isso são investimentos que países pobres não têm como fazer sozinhos", observou. Ela citou que programas federais, como o PAC Encosta e o PAC Drenagem, ajudam a mitigar os estragos causados pelos efeitos climáticos extremos, mas alertou: "A natureza é sempre mais forte e mais poderosa do que nós. Por mais que a gente tente se adaptar, ela, estando desequilibrada, é um risco que ainda não sabemos como lidar".

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A advertência de Marina se insere num contexto em que, quando há uma evento climático de grandes proporções — por exemplo: a enchente que devastou o Rio Grande do Sul, em 2024, ou os deslizamentos que quase ocorrem nos municípios da Região Serrana fluminense —, a rede de ensino é levada a interromper suas atividades e, não raro, juntar-se ao esforço para tentar diminuir o impacto sobre a população desabrigada e desalojada. Mas não é apenas isso: a sustentabilidade ainda não está completamente inserida nos currículos escolares, o que prejudica a conscientização social para temas como o preservacionismo e sobre os impactos das mudanças climáticas no dia a dia da sociedade.

Marina aproveitou o evento para anunciar o projeto do Fundo Florestal Tropical, inspirado no Fundo Amazônia, que pretende reunir US$ 125 bilhões para remunerar nações que preservam suas florestas. "É preciso valorizar não só quem desmata para depois parar, mas, também, quem protegeu desde sempre", ressaltou.

Segundo Marina, a Conferência do Clima de 2025 (COP30), em Belém, em novembro, deve ser lembrada como "a COP da implementação", depois de décadas de promessas. "Há 33 anos que estamos debatendo. Se tivesse sido feito o que os cientistas disseram lá atrás, não teríamos visto tragédias como as enchentes no Rio Grande do Sul ou a seca severa na Amazônia", explicou. A ministra salientou, porém, que esse quadro está mudando lentamente, pois devido ao esforço do governo federal o desmatamento na Amazônia caiu 46% nos últimos dois anos. Ela reiterou, ainda, a meta de desmatamento zero até 2030.

A ministra também chamou atenção para os desafios logísticos da COP30. Criticou a especulação da rede hoteleira na capital paraense, que, segundo ela, elevou preços "10 a 15 vezes acima do normal". Garantiu, contudo, que o governo atua para assegurar a participação de países pobres.

Docência valorizada

Quem também participou do segundo dia do 27º FNesp foi o ministro Camilo Santana (Educação), chamando a atenção para a valorização da docência e para os resultados do programa Pé-de-Meia Licenciatura, criado para estimular jovens a ingressar em cursos de formação de professores. Conforme enfatizou, o programa aumentou em quase 70% a procura por licenciaturas depois do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com mais de 9 mil estudantes já beneficiados.

"Queremos pegar os melhores para serem professores. Inclusive, alguns que não precisavam da bolsa optaram por não recebê-la, o que mostra um nível de consciência importante", observou.

Camilo anunciou, também, a Carteira Nacional Docente, que começará a ser emitida em 15 de outubro pelo portal gov.br. O documento trará benefícios em parceria com bancos, aplicativos, setor hoteleiro e redes de alimentação.

"Queremos dar autoestima aos professores e mostrar que a sociedade reconhece sua importância", frisou. Empresas que aderirem ao programa, receberão o selo "Tocom Prof", criado pelo MEC. Além disso, o ministro destacou a primeira Prova Nacional de Professores, prevista para outubro, que servirá como etapa inicial para contratação de profissionais da docência em estados e municípios.

Segundo Camilo, houve avanços ainda no combate à evasão escolar e citou que o censo de 2024 apontou queda pela metade no abandono no ensino médio, que antes atingia 480 mil jovens por ano. O ministro lembrou que a principal causa da evasão é a necessidade de contribuir com a renda familiar.

"Nosso objetivo é garantir oportunidade para quem realmente precisa. Essa é a transformação que a educação pode proporcionar ao país", afirmou.

Ensino a distância

O encontro no FNesp trouxe debates sobre o ensino a distância (EaD) e o novo marco regulatório da modalidade. Camilo defendeu o modelo semipresencial como forma de garantir qualidade, especialmente em cursos da área da saúde.

"Chegamos a ter 40% das matrículas de enfermagem 100% a distância. Hoje, definimos que áreas estratégicas devem ser presenciais", disse. Para ele, o maior desafio do Brasil está na educação básica:

"Sessenta e dois milhões de brasileiros não concluíram essa etapa. Precisamos formar bons professores, porque 60% da aprendizagem de uma criança ou jovem depende deles", explicou.

Tanto Marina quanto Camilo encerraram suas participações com mensagens de mobilização coletiva. A ministra pediu "compromisso ético dos líderes globais e protagonismo da juventude" diante da crise climática. Já o ministro salientou que "o único caminho para construir um país soberano, justo e de oportunidades não tem outro a não ser pela educação".

A jornalista viajou a convite do 27º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular

 

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postado em 27/09/2025 03:55
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