RIQUEZAS MINERAIS

O que são terras raras e minerais críticos, em pauta entre Lula e Trump

Atualmente o Brasil tem uma mina de terras raras em produção, a Mina Serra Verde, no município de Minaçu, em Goiás

Mina Serra Verde, no município de Minaçu, em Goiás -  (crédito: Divulgação/Serra Verde)
Mina Serra Verde, no município de Minaçu, em Goiás - (crédito: Divulgação/Serra Verde)

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump podem se reunir remotamente na próxima semana. O brasileiro afirmou, na quarta-feira (25/9), que exploração de terras raras e minerais críticos é um dos temas que podem ser colocados à mesa de negociações.

"Nós discutimos com o mundo inteiro as nossas terras raras, nós queremos discutir com o mundo inteiro os nossos minerais críticos, nós queremos que empresas que quiserem explorar vão para o Brasil explorar. O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios: a gente é só exportador e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil", afirmou Lula

O que são terras raras e minerais críticos?

O Correio conversou com dois especialistas para entender o que são terras raras e minerais críticos, assim como a importância desses elementos para o Brasil e para o mundo. As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, escândio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio.

Esses minerais estratégicos têm um papel importante na transição energética, pois são utilizados na indústria de alta tecnologia para produção de turbinas eólicas e carros híbridos. Além disso, os elementos são utilizados na fabricação de televisores de tela plana, telefones celulares, lâmpadas fluorescentes compactas, ímãs permanentes, catalisadores de gases de escapamento, lentes de alta refração e mísseis teleguiados.

O professor Nilson Francisquini Botelho, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), explica que os minerais críticos têm previsão de demanda de grande crescimento nos próximos anos, por causa da aplicação na indústria de alta tecnologia e na mudança da matriz energética mundial. "São críticos também pelo risco de suprimento devido a fatores tecnológicos, geopolíticos, ambientais e geológicos. Os mais importantes são níquel, lítio, grafita, cobalto, magnésio e terras raras", citou.

Nilson também destaca que dos 17 elementos das terras raras, apenas cinco são críticos e de mais alto valor: praseodímio, neodímio, disprósio, érbio e térbio, com crescimento da demanda, a médio prazo, de 100 a 500 vezes a atual. Disprósio, érbio e térbio fazem parte das denominadas terras raras pesadas, vistas como as de mais alto valor e estratégicas.

Délcio Rodrigues, físico e diretor do Instituto ClimaInfo, pontua que as terras raras não são propriamente raras, pois elas ocorrem com relativa abundância. No entanto, elas são denominadas "raras" por não serem encontradas de forma concentrada o suficiente para viabilizar a mineração.

Posição do Brasil nesse setor

A China tem as maiores reservas destes metais e é o maior produtor, responsável por cerca de 80% da produção mundial. O Brasil tem a segunda reserva, com grande potencial para aumento a médio prazo, mas representa apenas 1% da produção mundial.

"Atualmente, temos apenas uma mina de terras raras em produção, a Mina Serra Verde, no município de Minaçu, em Goiás. É a única mina desse tipo, em produção, fora da Ásia. Um outro projeto, Projeto Carina da Aclara Resources, está em avançado estudo de viabilidade e começará a produzir em 2028", pontua o professor da UnB.

Ainda segundo Nilson, várias regiões brasileiras têm potencial para ocorrências de depósitos de terras raras semelhantes aos que existem na China, capazes de produzir as terras raras mais críticas e mais valiosas, como o praseodímio, neodímio, disprósio, térbio e érbio. Entretanto, muitas pesquisas existentes ainda estão muito no início e, se chegarem a depósitos economicamente viáveis, demandarão cerca de 5 anos para começarem a produzir.

"Entre os mais importante fatores geopolíticos está a disputa entre Estados Unidos e China. Os EUA não têm as terras raras mais importantes e sua indústria de alta tecnologia, assim como a da Europa, é fortemente dependente da produção chinesa, da exploração ao refino e transformação. Por isto o Brasil se coloca em uma posição privilegiada para negociação com os EUA e outros países, embora tenha ainda uma produção geral muito baixa. Entretanto, as terras raras pesadas são o carro-chefe e as duas minas brasileiras poderão produzir até 25% do que a China produz por ano", ressalta o professor.

O físico Délcio ressalta que, apesar da riqueza mineral, a produção brasileira de terras raras ainda é incipiente, pois o país não tem tecnologia própria e infraestrutura para o processamento e refino desses minerais, e ainda menos tecnologias e indústria instalada para a fabricação de produtos finais.

"Para transformar os minerais críticos em produtos de alto valor agregado, o Brasil precisa de políticas industriais robustas, incentivos fiscais, infraestrutura e segurança jurídica capazes de atrair investimentos e desenvolver sua própria tecnologia", afirma Délcio.

O especialista diz, ainda, que não duvida que o presidente Donald Trump pressione o Brasil por acesso facilitado às reservas brasileiras em uma eventual negociação relativa ao tarifaço.

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postado em 25/09/2025 13:43 / atualizado em 25/09/2025 15:04
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