
O Brasil registrou, em 2024, o menor nível de insegurança alimentar das últimas duas décadas, mas o quadro continua desigual entre as regiões. Dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 24,2% dos domicílios brasileiros ainda convivem com algum grau de incerteza sobre o que comer — equivalente a 18,9 milhões de lares. Em 2023, a taxa era de 27,6%. A redução representa 2,2 milhões de famílias a menos em insegurança alimentar em apenas um ano.
A pesquisa, realizada pela PNAD Contínua com base na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), indica melhora generalizada, mas com concentração dos casos mais severos no Norte (37,7%) e no Nordeste (34,8%). No Sul, o índice foi de 13,5%; no Sudeste, 19,6%; e no Centro-Oeste, 20,5%. A Região Norte apresenta taxa de insegurança alimentar grave, de 6,3% — quase quatro vezes maior do que a observada no Sul (1,7%).
Entre os estados com piores índices, destacam-se Pará (44,6%), Roraima (43,6%), Amazonas (38,9%), Bahia (37,8%), Pernambuco (35,3%) e Maranhão (35,2%). Já Santa Catarina (9,4%) e Espírito Santo (13,5%) figuram entre os melhores resultados. Em números absolutos, o Nordeste reúne 7,2 milhões de domicílios com algum grau de insegurança alimentar, seguido pelo Sudeste, com 6,6 milhões.
Nas áreas rurais, o problema é mais frequente: 31,3% dos lares enfrentam algum tipo de restrição no acesso a alimentos, enquanto nas cidades o percentual é de 23,2%. Segundo o IBGE, "a redução da insegurança alimentar reflete uma combinação de fatores, entre eles o aumento da renda, o fortalecimento das políticas sociais e a estabilidade dos preços de alimentos básicos". A nota técnica do instituto ressalta que "apesar da melhora, as desigualdades regionais ainda são significativas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde há maior dependência de políticas públicas e menor dinamismo econômico".
O percentual de insegurança alimentar grave — que é quando a fome atinge também as crianças — caiu de 4,1% para 3,2%, totalizando 6,4 milhões de pessoas — o menor número desde 2004. Já a proporção de segurança alimentar plena cresceu de 72,4% para 75,8%, alcançando o melhor resultado em 12 anos.
Os dados mostram, também, que 59,9% dos lares com insegurança alimentar são chefiados por mulheres, e 54,7% têm responsáveis pardos. Entre as famílias com fome grave, 65,7% dos responsáveis têm até o ensino fundamental completo, e 66,1% vivem com renda per capita de até um salário mínimo.
Desigualdade
A desigualdade etária também aparece: 3,8% das crianças e adolescentes, de cinco a 17 anos, convivem com insegurança alimentar grave, contra 2,3% entre idosos. A vulnerabilidade é maior entre famílias numerosas e nas regiões com menor infraestrutura social e produtiva.
Segundo o IBGE, 62,6 milhões de brasileiros ainda vivem algum grau de insegurança alimentar. "A melhora é expressiva, mas ainda há um contingente relevante de famílias que enfrentam restrições, sobretudo nas regiões com menor renda média e maior dependência do autoconsumo", observa.
Em 2025, o Brasil também consolidou a saída do Mapa da Fome da FAO/ONU, ao atingir menos de 2,5% da população em risco de subnutrição. O avanço recoloca o país entre os que têm o direito humano à alimentação como política de Estado. Mas o desafio, segundo especialistas e o próprio IBGE, será manter o ritmo de redução e enfrentar as desigualdades persistentes no Norte e Nordeste, onde a fome ainda é uma realidade diária.
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O ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome) destacou que "o Brasil voltou a alcançar um nível histórico de segurança alimentar em dois anos, enquanto, antes, levou uma década". Ele atribuiu o avanço ao Plano Brasil Sem Fome, criado em 2023, que prevê o aumento da renda, a inclusão em programas sociais e a ampliação do acesso a alimentos saudáveis e sustentáveis.
O economista Luciano Bravo, da Inteligência Comercial, avalia que "a expansão da ocupação formal, o reajuste real do salário mínimo e o arrefecimento da inflação de alimentos em 2024 ampliaram o poder de compra das famílias de menor renda, que destinam grande parte do orçamento à alimentação".
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi
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