falsificação de bebidas

Metanol: cinco mortes são investigadas em SP

Três têm a confirmação de que foram causadas pelo consumo de bebida adulterada com a substância tóxica. Quinze casos de contaminação são acompanhados

O estado de São Paulo investiga cinco mortes e 15 casos de contaminação com suspeita de intoxicação por metanol adicionado em bebidas. Até agora, três mortes causadas pela adulteração e uma internação em estado grave foram confirmadas como resultado da falsificação de destilados e vendidos como se fossem drinques originais. As primeiras suspeitas de envenenamento foram levantadas em junho.

Ontem, o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) afastou o envolvimento do Primeiro Comando da Capital na adulteração de bebidas alcoólicas. Em coletiva, ele afirmou que "não há evidências de participação do crime organizado". As suspeitas sobre o conexão da facção criminosa com as falsificações se deve ao fato de que, há poucos dias, a Polícia Federal (PF), a Receita Federal (RFB), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil paulista desbarataram um esquema de adição de metanol em combustível vendido em vários postos de São Paulo.

Por conta disso, acreditava-se de que parte desse metanol trazido pelo PCC seria destinado, também, à adulteração de bebidas destiladas — conforme nota emitida pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação, no domingo. Mas, na segunda-feira, mais de 100 garrafas foram apreendidas em bares e restaurantes dos bairros da Mooca e nos Jardins. Um dos alvos da ação foi o bar Ministro, na Alameda Lorena, nos Jardins, onde uma das vítimas disse ter consumido bebida alcoólica antes de passar mal e perder a visão. Ela continua hospitalizada.

O endereço é citado no Boletim de Ocorrência registrado por parentes da vítima. As autoridades não divulgaram a lista de estabelecimentos suspeitos — são três e ao menos dois terão o bloqueio temporário pelas autoridades. Dentre as ações imediatas também está a criação, pelo governo estadual, de um gabinete de crise, com integrantes das secretarias de Saúde e de Segurança Pública.

"Muito tem se especulado sobre participação do crime organizado. Não há evidências. Pessoas que trabalham nas destilarias investigadas não têm ligação com o crime e não têm ligação entre si", afirmou Tarcísio, acrescentando que o problema é "estrutural, não só de São Paulo, mas do Brasil. É um problema de saúde Pública".

Antes de Tarcísio de manifestar, o governo federal anunciou que a PF abriu inquérito para investigar a contaminação com metanol. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que fez a solicitação depois de coletados indícios de que haja distribuição de bebidas contaminadas para outras unidades da Federação.

"No momento, (as ocorrências) estão concentradas em São Paulo, mas tudo indica que há distribuição para além do estado e, portanto, por ser ocorrência que transcende o limite de um estado atrai a competência da Polícia Federal", explicou.

Até agora, três pessoas morreram em São Paulo vítimas de intoxicação, segundo dados do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado. A substância é usada como matéria-prima para combustíveis e é imprópria para consumo humano. Ainda de acordo com o CVS, foram confirmados cinco casos de intoxicação pela substância e outros 10 registros de contaminação por bebida adulterada são investigados, principalmente envolvendo o consumo de gim, uísque e vodca.

O grande problema da falsificação de bebida com metanol é que a substância não altera o gosto ou o cheiro quando misturada. Somente depois que a pessoa ingere é que aparecem os efeitos da violenta intoxicação, que além de serem parecidos com os sinais de embriaguez — como fala pastosa e reflexos diminuídos —, podem levar a efeitos mais graves, como alterações no sistema nervoso central, que causam náuseas, vômitos, tontura, fraqueza, dor abdominal, taquicardia e podem levar à cegueira.

Segundo o oftalmologista Fábio Ejzenbaun, professor da Santa Casa Misericórdia de São Paulo, as vítimas devem procurar atendimento médico de urgência se tiverem esses sintomas associados à condição de ver brilhos e manchas nos olhos. "O metanol vai matando o nervo do olho e a cegueira pode ser irreversível", alertou.

 

Notificação imediata

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, determinou, ontem, a notificação imediata de novos casos de intoxicação por metanol. Segundo o ministro, a notificação imediata funciona como um canal direto com o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) presente em cada unidade da Federação, com o ministério realizando o acompanhamento diário desse trabalho. A notificação deverá ser feita diante de qualquer caso de suspeita de intoxicação por metanol. Não é preciso aguardar o fechamento do diagnóstico.

Qualquer pessoa que procure um serviço de saúde relatando sinais, e que tenha uma história de ingestão de bebida alcoólica — sobretudo de origem não conhecida, como produtos ingeridos em ambiente comercial ou festas —, já é um caso suspeito e deve ser notificado, segundo Padilha. O ministro frisou que a medida foi adotada para que se possa identificar mais rapidamente não só o que está acontecendo em São Paulo, mas identificar qualquer crescimento anormal de casos em outras unidades da Federação, pois há a suspeita de que a bebida adulterada tenha ultrapassado as fronteiras. Para o ministro, o monitoramento também deve ajudar a reforçar as investigações da Polícia Federal.

Os casos de contaminação por metanol registrados em São Paulo, nos últimos dias, apresentam um padrão inédito, segundo o Ministério da Saúde. "As ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em extrema vulnerabilidade ou população em situação de rua, ambos a partir de ingestão de álcool em postos de gasolina adulterados com a substância", diz a pasta, em nota.

Em 2023, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) de Campinas emitiu um alerta sobre casos de intoxicação. À época, o órgão reportou o acompanhamento de 14 casos, sendo 10 apenas em 2022 e 2023, e todos estavam associados ao consumo de álcool obtido de bombas de abastecimento de postos de combustíveis. Dos 14 pacientes, 11 morreram.

Agora, porém, o perfil é diferente e "os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gim, uísque, vodca, entre outros", diz o ministério.

Diante dos novos casos, a pasta anunciou que vai elaborar um protocolo para orientar os profissionais de saúde em casos suspeitos. A proposta é que todas as unidades, em especial aquelas de urgência e emergência, adotem as orientações. (Com Agência Estado)

 

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