segurança pública

Operação no RJ teve custo humano desproporcional, diz Instituto Fogo Cruzado

Coordenador do IFC no Rio afirma que ação com mais de 100 mortos, incluindo quatro policiais, não pode ser considerada sucesso e ressalta que operação isolada não freia expansão das facções

O coordenador regional do IFC criticou ainda a falta de informações básicas por parte do governo estadual -  (crédito: MAURO PIMENTEL / AFP)
O coordenador regional do IFC criticou ainda a falta de informações básicas por parte do governo estadual - (crédito: MAURO PIMENTEL / AFP)

O custo humano da megaoperação mais letal da história do país, realizada em 28 de outubro nos Complexos da Penha e do Alemão, foi “absolutamente desproporcional” ao resultado estratégico, segundo Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado (IFC) no Rio de Janeiro. Para ele, “não há operação de sucesso que termine com quatro policiais mortos ou mais de uma centena de mortos”.

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“Então, sim, dá pra dizer que o custo humano é absolutamente desproporcional ao resultado estratégico. E há um ótimo exemplo para entendermos isso: a estimativa da polícia é que existam 500 fuzis naquela região em posse de grupos armados. Foram apreendidos menos de 100. Não dá para chamar isso de resultado estratégico”, destacou Nhanga ao Correio.

Além disso, o especialista destacou que a polícia estadual estimava a presença de 500 fuzis nas mãos de criminosos durante a chamada Operação Contenção, mas menos de 100 foram apreendidos. Carlos Nhanga também criticou a falta de informações básicas do governo estadual sobre quantos dos 100 mandados de prisão previstos foram efetivamente cumpridos entre os mortos e os detidos.

As forças de segurança pública do estado fluminense defendem que a operação serviu para retomar territórios dominados pelo crime, algo que, segundo Nhanga, não se concretizou. Para ele, “uma operação policial pontual é incapaz de conter um longo processo de expansão das facções”.

“Apenas em 2025, nós registramos 38 tiroteios na Penha e no Alemão. A imensa maioria deles, 89%, durante ações ou operações policiais. É importante que se diga, portanto, que isso não acontece pontualmente ali. São em média, 4 por mês. Então vai continuar acontecendo mesmo depois do que houve na semana passada, porque a operação Contenção não tem nenhuma pretensão de mudança efetiva. Foi uma ação pontual, com altos custos, inclusive humano”, explicou.

O Instituto Fogo Cruzado é uma organização que usa a tecnologia para monitorar, coletar e divulgar dados abertos e colaborativos sobre a violência armada — tiroteios, disparos de arma de fogo e seus impactos — em regiões metropolitanas do país.

A megaoperação

A Operação Contenção, após mais de 12 horas de troca de tiros entre policiais e criminosos, resultou na ação policial mais letal da história do país. Foram 121 mortos, sendo quatro policiais, e 17 feridos.

O secretário de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Felipe Curi, havia dito que foi mais de um ano de investigação e mais de 60 dias de planejamento antes de deflagrar a operação, mas o alvo principal, Edgar Alves Andrade, conhecido como Doca, ou “Urso”, segue foragido.

Ao todo, a ação policial resultou na prisão de 99 pessoas — 29 de outros estados —, sendo apenas 17 presos por mandado, e 82 presos em flagrante, além de 10 adolescentes apreendidos. Foram apreendidas 122 armas (96 fuzis), mais de 5 mil munições, cerca de 22 kg de cocaína e 2 toneladas de maconha.

*Estagiário sob a supervisão de Rafaela Gonçalves 

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postado em 04/11/2025 18:38 / atualizado em 04/11/2025 18:42
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