A Câmara dos Deputados promoveu, ontem, uma sessão solene marcada pela afirmação da força política e simbólica da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver, que novamente ocupou Brasília dez anos após o histórico ato de 2015. No plenário Ulysses Guimarães, autoridades destacaram o papel das mulheres negras na reconstrução do país, denunciaram as persistências do racismo institucional e reafirmaram a urgência de políticas públicas que garantam dignidade, liberdade e vida.
A líder do PSOL na Câmara, deputada Talíria Petrone (RJ), abriu seu discurso visivelmente emocionada ao ver o plenário tomado por mulheres negras. "O povo brasileiro é uma mulher negra", repetiu, afirmando que a imagem do plenário naquele dia, finalmente, representava a realidade do país. Talíria agradeceu a trajetória da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), de 83 anos, que "abriu caminho para muitas de nós", e destacou que essa presença, hoje ampliada pela bancada negra, é resultado de resistência num ambiente historicamente hostil".
A líder da bancada feminina, deputada Jack Rocha (PT-ES), seguiu o tom político ao destacar que a Marcha, mais que um ato, "é um projeto político de país". Para ela, ocupar o plenário, disputar o orçamento e construir um Brasil antirracista são tarefas essenciais. Jack lembrou que o Parlamento ainda é palco de violências e discriminações, mas reforçou que a presença das mulheres negras é também um gesto de resistência: "Estamos aqui porque acreditamos que nossas mulheres não podem ser silenciadas, como tentaram fazer com Marielle."
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, resgatou a memória da Marcha de 2015, lembrando que, naquela época, as mulheres negras denunciavam o genocídio da juventude e a ausência de políticas públicas estruturantes. Dez anos depois, lamentou, muitas pautas seguem abertas. "Se vocês combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer", disse, em seu discurso, dirigindo-se às elites dominantes. Ao Estado brasileiro, o recado foi de que haverá enfrentamento, organização e pressão permanente para transformar instituições e construir justiça racial.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, em entrevista ao Correio, disse que o principal desafio da mulher negra é o de se manter viva: "infelizmente as mulheres negras estão ali no topo de tudo que é violência, de assédio, dos assassinatos, dos feminicídios políticos, como foi o de Marielle, como foi o de Mãe Bernadette. Então acho que o maior desafio da gente, em primeiro lugar, é se manter viva."
A ministra das Mulheres, Márcia Lopez, destacou que o Brasil não avança sem as mulheres negras. "Temos que radicalizar nossas lutas para enfrentar o racismo", afirmou, defendendo mais ações estatais que garantam igualdade racial e de gênero. Ela lembrou que as mulheres negras seguem na linha de frente das periferias e das instituições públicas, e que o Ministério continuará de portas abertas para acolher e construir políticas de proteção, dignidade e bem viver. "Seguimos juntas pela vida e pela justiça racial e de gênero. Vamos cobrar sempre um país sem racismo e sem violência contra as mulheres."
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), em entrevista ao Correio, reafirmou a importância do encontro em um momento em que, segundo ela, o país ainda falha em garantir direitos básicos, dignidade e segurança para as mulheres negras, maioria da população brasileira, mas ainda minoria nos espaços de poder. "Nosso objetivo, primeiro, é o bem-viver. Nós somos contra toda essa violência que está havendo com as mulheres, esse feminicídio. Nós temos baixa representatividade nos poderes, seja Legislativo, Executivo ou Judiciário."
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