Direitos Humanos

Levante das mulheres inunda as ruas e as redes do Brasil

Mobilização convocada em apenas três dias levou milhares de pessoas a gritarem um "basta" contra a violência e o feminicídio

"Basta de feminicídio. Queremos as mulheres vivas!, clamaram milhares de homens e mulheres na Avenida Paulista - (crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Após duas semanas com quase uma sequência diária de crimes contra mulheres, manifestantes tomaram as ruas de diversas cidades do país, ontem, no protesto "Mulheres Vivas" contra o aumento dos casos de feminicídio e outras formas de violência de gênero. Em apenas três dias de convocação, coordenada pelo movimento "Levante Mulheres Vivas", os atos foram capazes de mobilizar pessoas em pelo menos 24 estados e no Distrito Federal. Em alguns estados, as manifestações ocorreram em mais de uma cidade. 

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Nas redes sociais, foram milhares de postagens. O perfil do levante no Instagram, criado às vésperas dos protestos, logo alcançou 85 mil seguidores e as fotos e filmes que vinham dos atos presenciais se espalharam pelas redes.

Em São Paulo, a Avenida Paulista ficou completamente lotada no ato, chegando a reunir aproximadamente, 9,2 mil pessoas, de acordo com o levantamento do Monitor do Debate Político, da Universidade de São Paulo, e da ONG More in Common.

No Rio de Janeiro, o protesto reuniu centenas de pessoas na Avenida Atlântica, em Copacabana. O estado chegou a registrar entre janeiro e novembro deste ano, 79 casos de feminicídio e 242 tentativas de feminicídio, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

O feminicídio é diferenciado do homicídio comum por ser motivado pelo fato de a vítima ser do sexo feminino. A lei brasileira o tipifica como crime hediondo e prevê penas mais severas, como reclusão de 20 a 40 anos.

Em Brasília, mesmo com chuva, participaram do ato Levante Mulheres Vivas a ministra da Mulher, Márcia Lopes, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias; e da primeira-dama, Janja da Silva.

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, que esteve no evento, mesmo estando envolvida com o Concurso Público Nacional Unificado (CNPU), escolheu abrir a sua entrevista coletiva sobre o concurso falando das manifestações. "Nesta manhã, tivemos em todo o país manifestações importantes diante de uma situação muito triste que vem se agravando no Brasil: os altos índices de feminicídio. Nas últimas semanas, esses casos pareceram ganhar uma escala ainda mais grave, com episódios de extrema violência, inclusive envolvendo instituições públicas federais", declarou, citando o caso da militar que foi incendiada pelo colega em Brasília. "É um crime claramente motivado por questões de gênero, pela recusa de um homem em aceitar ser chefiado por uma mulher. É uma situação profundamente triste e que revela que estamos em um momento crítico. Precisamos avançar de forma decisiva na mudança da cultura da nossa sociedade." 

Representantes de mais de 100 movimentos sociais ocuparam as ruas de Belém. Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), no Pará, entre janeiro e novembro deste ano, 56 casos de feminicídio foram registrados, um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período de 2024.

Fortaleza, no Ceará, também entrou na lista dos protestos. A manifestação ocorreu na Praia de Iracema, entre a Ponte dos Ingleses e a estátua Iracema Guardiã, e, segundo a organização do evento, contou com cerca de 3 mil pessoas de mais de 80 movimentos sociais. O Ato Mulheres Vivas fez parte da mobilização nacional diante do aumento da violência contra mulheres no país.

De acordo com a Rede Itinerante de Mulheres Atuantes (Rima), que organizou o ato na capital cearense, a manifestação foi suprapartidária e acolheu todas as pessoas que lutam pela vida das mulheres.

Saindo do Nordeste e indo para o Sul do país, não só mulheres, mas homens e famílias, juntamente com movimentos sociais populares, artistas e parlamentares foram às ruas de Curitiba (PR) para dizer um basta à onda de violência contra as mulheres.

O ato contou com a presença da atriz Letícia Sabatella, que chegou a comentar a jornalista presentes na manifestação que os feminicídios ocorridos nos últimos dias, "enlutecem todas as mulheres". 

"Sinto que é muito doloroso o que estamos passando; eu estou aqui, pois não suporto mais e espero que os homens que estejam aqui também não suportem mais e rompam com essa sociedade da violência", disse a atriz.

Em Porto Alegre (RS), a manifestação contou com concentração na Praça da Matriz, e coincidiu com o encerramento do Festival Mulheres em Luta (MEL). Durante a caminhada dos protestantes, o ato contou com os nomes de mulheres que foram vítimas de feminicídio sendo falados por seus familiares, promovendo um momento de grande emoção entre os presentes.

Segundo o Observatório de Feminicídios Lupa Feminista, a capital do do Rio Grande do Sul teve, entre do mês de janeiro até o dia 5 de dezembro, o registro de 79 feminicídios, número que ultrapassa o que foi documentado ao longo de todo o ano de 2024.

"É uma grave violação de direitos humanos, um problema de Estado e de saúde pública que pode ser prevenido. O feminicídio está vinculado a padrões culturais, e cultura se muda", disse a jornalista e integrante do Levante Feminista contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, Télia Negrão. (Colaborou Vanilson Oliveira)

 


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postado em 08/12/2025 03:58
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