SEXUALIDADE

Brasil é o 4º maior consumidor de pornografia no mundo; entenda riscos

Levantamento do Pornhub mostra avanço do país no ranking global e mudanças nos padrões de busca, reacendendo o debate sobre os limites entre uso saudável e excessivo

Entre os termos mais buscados estão
Entre os termos mais buscados estão "hentai", "punheta guiada (JOI)", "anal" e "sexo em grupo" - (crédito: Reprodução/ Unsplash)

O consumo de pornografia no Brasil vem ganhando protagonismo no cenário internacional e revela mais do que hábitos digitais: expõe tendências culturais, padrões de desejo e transformações na forma como o sexo é imaginado e consumido. Segundo dados divulgados pelo site Pornhub, o Brasil avançou três posições no ranking mundial de tráfego e passou a ocupar o 4º lugar entre os países que mais acessam esse tipo de conteúdo. À frente aparecem Estados Unidos, México e Filipinas, que compõem o top três global.

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Na América do Sul, o cenário se manteve relativamente estável em comparação com 2024. No Brasil, a preferência pelo conteúdo sexual explícito nacional seguiu predominante, com a categoria “Brasileira” liderando as visualizações. Já no norte do continente, o maior volume de buscas foi pela categoria “Ébano”, enquanto na costa oeste e no sul da América do Sul, a categoria “Anal” concentrou mais acessos.

As pesquisas realizadas por usuários brasileiros também mantiveram padrões semelhantes ao ano anterior. O termo “hentai” continuou no topo das buscas, seguido por “brasileira”, “punheta guiada” (JOI) e “anal”. Entre as poucas mudanças relevantes, destacou-se o aumento nas buscas por “brasil”, que subiram sete posições em relação ao ano passado.

Entre os nomes mais procurados, Elisa Sanches aparece como a atriz pornô mais popular no país. Na sequência estão Maximo Garcia, também brasileira, e Alex Adams. Já nas buscas que apresentaram crescimento expressivo, chamam atenção termos como “sexo em grupo”, com aumento de 544%, “punheta trans” (488%) e “coroa gostosa transando” (442%). Outra categoria que reforça a diversidade de interesses foi “lésbicas tesoura”, que registrou crescimento de 231% nas pesquisas realizadas no Brasil.

Até onde consumir pornografia é saudável? 

Para a sexóloga e psicóloga Alessandra Araújo, esses dados, embora estigmatizados, devem ser abordados sem moralismo. No entanto, o consumo de conteúdo adulto exige uma análise dos limites entre o uso saudável e o vício, e como isso molda expectativas sexuais e relacionais. “O consumo é considerado saudável quando é uma ferramenta de prazer e descoberta, e não uma obrigação”, explica. Dessa maneira, a pronografia atua como um complemento, não como uma substituição, e pode ser controlada pelo indivíduo em frequência e duração.  

Já o consumo excessivo pode resultar no vício, quando a compulsão aparece em momentos inadequados e se torna algo problemático. “A pornografia substitui a vida sexual real, a masturbação sem ela se torna impossível, ou ela passa a interferir no sono, no trabalho ou nos compromissos sociais”, explica. “O indivíduo precisa de estímulos cada vez mais extremos, longos ou violentos para se excitar (dessensibilização), e a satisfação diminui gradualmente, levando a um ciclo de vergonha e maior consumo.”

Quando a pornografia se torna prejudicial, o modus operandis sexual também pode ser afetado. “A pornografia apresenta cenários fabricados e performances fisicamente impossíveis ou irrealistas (corpos, duração, intensidade). O consumo frequente pode levar à insatisfação com a vida sexual real (disfunção erétil induzida por pornografia, anorgasmia - dificuldade persistente ou ausência de orgasmo - em contexto real, ou rejeição ao corpo do parceiro)”, exemplifica Alessandra. 

A dessincronia sexual ainda pode ser um problema. “O parceiro pode sentir que não é "suficiente" ou que precisa replicar atos extremos”, afirma a especialista. O cérebro, acostumado à "entrega rápida" de dopamina (prazer) da pornografia, pode ter dificuldade em se excitar com a intimidade mais lenta e complexa da vida real.

O que os dados revelam do comportamento sexual do brasileiro

Buscas de destaque como “hentai”, “punheta guiada (JOI)” e “anal” são indicativos de uma evolução nas fronteiras da fantasia sexual, conforme a sexóloga. A animação demonstra uma busca por fantasia pura e descompromissada. “O Hentai oferece cenários que desafiam a física e a realidade, satisfazendo a fantasia sem exigir o contato com a realidade física (escapismo)”, diz a especialista. 

Já a popularização do JOI revela uma busca por dominação suave e direção. “O desejo é ser instruído, de ser retirado do "comando" do próprio prazer”, descreve Alessandra. O fetiche por sexo anal, por sua vez, sinaliza a quebra de tabus e a busca por prazer em zonas erógenas não tradicionalmente exploradas. “Em muitos casos, indica a busca por maior intimidade.”

Embora os dados possam revelar uma maior abertura à diversidade — exemplificada por termos como "punheta trans" e "lésbicas tesoura", que a especialista define como conceitos desafiadores a norma cisgênero e binária —, o crescimento expressivo de termos como "sexo em grupo" indica a busca por estímulos intensos. “O cérebro busca a novidade e o choque visual para manter a excitação, o que pode ser um sintoma de dessensibilização (a necessidade de escalar a intensidade para sentir prazer)”, Alessandra acrescenta.  

Em suma, para a sexóloga, o Brasil ocupar a 4º posição no ranking global de consumo de pornografia não deve ser lido como um sinal de depravação, mas sim de acesso irrestrito e de uma cultura que, paradoxalmente, é reprimida, mas curiosa. “O Brasil é um país com forte base religiosa e onde o diálogo sexual ainda é tabu em muitos lares. O alto consumo de pornografia pode ser a válvula de escape para a curiosidade e o desejo que não encontram espaço para serem expressos ou explorados na vida real, no diálogo com a família ou na educação formal”, disserta. 

Com o alto consumo, porém, cabe o alerta dos riscos mencionados pela especialista, que podem culminar em um problema de saúde pública em potencial. “A insatisfação sexual e a dificuldade de manter a ereção sem a pornografia (Disfunção Erétil Psicogênica) são tendências que podem aumentar”, antecipa. 

Além disso, o ranking reflete o acesso democrtático à internet a partir dos dispositivos móveis — o que facilita o consumo em massa. “Enquanto a sociedade condena o sexo abertamente, o indivíduo busca validar e satisfazer sua sexualidade no espaço privado e acessível da internet”, argumenta Alessandra. “O desafio, agora, é transferir a honestidade da fantasia para o diálogo real e consensual com os parceiros.”

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postado em 17/12/2025 17:18
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