CAMINHOS DO NASCIMENTO

Podcast do Correio: o desafio do registro civil e da cidadania

A presidente da comissão de direito médico da OAB do Distrito Federal, a advogada Karine Alcântara, apresentou os principais obstáculos jurídicos e estruturais que afetam o nascimento e a saúde materno-infantil no país

Foto de perfil do autor(a) Roberto Fonseca
Roberto Fonseca
Foto de perfil do autor(a) Jaqueline Fonseca
Jaqueline Fonseca
Foto de perfil do autor(a) Raphaela Peixoto
Raphaela Peixoto
10/08/2025 08:05 - Atualizado em 12/08/2025 14:54
3min de leitura

No Brasil, nascer com todos os direitos garantidos ainda é um privilégio. O Podcast do Correio, apresentado por Roberto Fonseca e Jaqueline Fonseca, recebeu a presidente da comissão de direito médico da OAB do Distrito Federal, a advogada Karine Alcântara, para discutir os principais obstáculos jurídicos e estruturais que afetam o nascimento e a saúde materno-infantil no país.

Segundo Karine, o registro de nascimento é um direito personalíssimo, fundamental para assegurar dignidade, nacionalidade e cidadania. Embora a Constituição de 1988 e normas posteriores tenham reforçado a obrigatoriedade, desigualdades regionais ainda impedem que esse direito alcance todos.

Maternidades com cartórios integrados facilitam o registro imediato, mas, quando o parto ocorre fora do ambiente hospitalar, é necessário abrir um procedimento no cartório, com verificação de informações, podendo envolver a Justiça e o Ministério Público. 

Karine Alcântara, presidenta da comissão de direito médico da OAB-DF
Karine destacou também a importância da Lei de Naturalidade Afetiva, de 2017, que permite registrar como cidade natal o município de residência da mãe, mesmo que o parto tenha ocorrido em outro local (foto: Benjamin Figueredo/CB/D.A Press)

Populações vulneráveis — moradores de rua, indígenas, ribeirinhos e pessoas em extrema pobreza — estão entre as mais marginalizadas nesse processo. Em regiões como Norte e Nordeste, o Estado muitas vezes não chega a todos. Órgãos, como o Ministério Público, realizam mutirões para efetuar registros, e pais que não registram por dificuldades genuínas não são penalizados.

 

Karine destacou também a importância da Lei de Naturalidade Afetiva, de 2017, que permite registrar como cidade natal o município de residência da mãe, mesmo que o parto tenha ocorrido em outro local. A medida, segundo a advogada, preserva o vínculo afetivo e cultural da criança com sua comunidade de origem.

Mais da metade dos municípios brasileiros não tem estrutura para partos. Esse "apagão de maternidades" obriga gestantes a viajar grandes distâncias, muitas vezes sem transporte adequado, para conseguir atendimento.

Mulheres que sofrerem violações de direitos — como violência obstétrica ou falta de atendimento — devem buscar a Defensoria Pública, o Ministério Público ou a própria OAB. “Fortalecer grupos de apoio e dar voz às mulheres marginalizadas, especialmente negras e indígenas, é fundamental”, afirma.

A advogada reforça que a mudança exige pressão da sociedade civil, atuação das instituições e compromisso dos gestores públicos. "Não basta ter leis. É preciso fazer com que elas cheguem na ponta, onde as pessoas realmente precisam."

Expediente

Diretora de Redação

Ana Dubeux

Editora do CB On-Line

Mariana Niederauer

Projeto e produção

Edição: Roberto Fonseca
Reportagem: Jaqueline Fonseca, Aline Gouveia, Raphaela Peixoto e Roberto Fonseca
Edição de vídeos: Benjamin Figueiredo e Pedro Mesquita
Tecnologia: Guilherme Dantas e Kelly Venâncio


© Diários Associados. Todos os direitos reservados. Política de privacidade | Termos de uso