VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Com seis ocorrências em 2023, número de feminicídios bate recorde no DF

Simone Sampaio, 40 anos, perdeu a vida ontem, após ser esfaqueada pelo ex-companheiro, no Gama. O caso integra uma estatística preocupante: as ocorrências registradas em 2023, até ontem, representam o dobro do mesmo período de 2022

Darcianne Diogo
Ellen Travassos
postado em 14/02/2023 05:50 / atualizado em 14/02/2023 05:52
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

O número de feminicídios registrados no Distrito Federal nos 44 primeiros dias de 2023 ultrapassa os anos de 2020, 2021 e 2022 e apresenta aumento de quase 100% nos casos, quando comparado com o mesmo período. De 1º de janeiro até ontem, seis mulheres perderam a vida.

 

 

Sexta vítima

Simone Sampaio de Melo, 40 anos, entrou para a estatística ao ser assassinada pelo ex-marido, João Alves Catarina Neto, 45. O crime ocorreu em um campo de gramado, próximo a uma escola infantil, no Setor Central do Gama. Simone deixa três filhos, de 21, 15 e 9 anos.

 

Simone Sampaio De Melo foi assassinada nesta segunda-feira (13/2).
Simone Sampaio De Melo foi assassinada nesta segunda-feira (13/2). (foto: Redes sociais )

Natural de Piúma, no Espírito Santo, Simone decidiu mudar-se para Brasília em outubro de 2022 na intenção de recomeçar a vida. A mulher conheceu o ex no município de Ipaumirim, no Ceará, e os dois mantiveram um relacionamento de 22 anos. Mesmo sem ocorrências ou histórico de violência, Simone abandonou a vida na cidade capixaba e se mudou para o Gama com as duas filhas menores. O rapaz mais velho ficou com o pai no Espírito Santo.

No Distrito Federal, Simone morava no Gama na companhia da mãe e estava desempregada. Contudo, ela tinha o desejo de começar uma nova etapa na capital. Em 6 de fevereiro, a mulher matriculou as duas filhas na rede pública de ensino.

 

Perseguição e crime

Depois de a mulher se mudar com os filhos para Brasília, João resolveu vir à capital para visitar as crianças, segundo ele contou na delegacia. O homem desembarcou no DF no sábado e pretendia voltar ao Espírito Santo amanhã. O plano, no entanto, terminou em tragédia. Na manhã de ontem, por volta das 7h, Simone e o ex foram deixar a filha adolescente na escola para o primeiro dia de aula, mas a mulher não voltou com vida para casa.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Sadi Jorge, da 20ª Delegacia de Polícia (Gama), no caminho de volta, os dois entraram em uma discussão e João desferiu ao menos sete golpes de faca contra a ex. As perfurações acertaram o pescoço, o braço e a barriga da vítima.

O crime foi cometido em meio a um terreno descampado. No momento em que Simone era esfaqueada, um policial militar do DF, que estava de folga, passava pelo local e notou algo estranho. O sargento viu que o agressor estava a cerca de um metro de distância de Simone, com a faca na mão. "Eu o vi com a faca em punho, e não pude fazer nada pela distância — talvez de uns 20 metros. Vi quando ele deu as facadas nela, largou a faca no chão, pegou duas sacolas e saiu correndo, sem destino, pelo gramado", disse o PM Wenderson Souza.

O policial militar saiu do carro e deu ordem de prisão contra o assassino. Souza pediu às pessoas próximas para que acionassem o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), enquanto ele chamava a PMDF, mas a vítima não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O criminoso foi levado ao Hospital Regional do Gama (HRG), devido a um ferimento na mão e, posteriormente, à 20ª DP.

Na delegacia, João relatou que a ex-esposa gastava muito dinheiro. Disse, ainda, que Simone devia comerciantes da região de Piúma. Na versão contada pelo agressor, Simone continuou a pedir por auxílio financeiro e dizia que a quantia era para manter os filhos no Distrito Federal, além de compras com material escolar, alimentação, entre outros. A faca utilizada no crime foi apreendida e encaminhada à perícia. "O autor relatou que havia alugado um barraco e estava com a faca porque tinha ido comprar pão e iria comer", afirmou o delegado.

Após o crime, um dos parentes de Simone compareceu às escolas das filhas da vítima para dar a notícia. A caçula não chegou a ir à instituição, segundo apurado pelo Correio. Os gestores falaram à reportagem que a situação foi passada à Coordenação Regional de Ensino, que irá oferecer atendimento psicológico para as crianças.

Aumento alarmante

A quantidade de mulheres assassinadas em pouco menos de dois meses este ano preocupa os especialistas. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) mostram que, em 2022, entre janeiro e fevereiro, foram contabilizados três feminicídios, o que significa um aumento de 100% nos casos, se comparado ao mesmo período de 2023. Os anos de 2020 e 2021 também ficam abaixo.

Leonardo Sant'Anna, especialista em segurança pública, ressalta a importância dos dados concretos para a implementação de medidas sociais e governamentais, bem como melhorar a efetividade dos programas de combate a esse tipo de crime. "Podem ser observados detalhes, por exemplo, como o tempo que se tem tomado para emitir uma medida protetiva, se o tempo de análise hoje é um tempo bem ajustado e para que isso possa alimentar novos projetos de lei que considerem esse tipo de crime como algo que precisa de uma pena diferenciada", frisa.

Na avaliação do especialista, feminicídio integra uma conceituação sobre comportamento social. "O feminicídio tem a ver com a ideia de domínio sobre a outra pessoa, de controle. O praticante acha que pode usar da força contra aquela pessoa que é vitimada. Tudo isso tem relação com um processo muito profundo de reeducação, de informação que acontece principalmente no período considerado formativo, como as crianças de até 10 anos. Essa é uma fase em que a criança aprende sobre valores, conceitos, preceitos sociais", finaliza.

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