Não é porque Brasília não tem praia que a cidade deixa de ser casa para quem ama a água. Do litoral da Paraíba para as piscinas da capital federal, Luana Lira, 28 anos, já vê o quadradinho como lar. A atleta de saltos ornamentais se mudou para a cidade há uma década para seguir a carreira profissional e buscar o sonho de ir a uma Olimpíada. Hoje, ela pode dizer orgulhosa que esteve nos Jogos de Tóquio-2020 e é um dos destaques do país na modalidade.
Natural de João Pessoa, a motivação para deixar o solo paraibano foi querer uma estrutura melhor nos treinos e dar um salto ainda maior. No par ou ímpar entre o Rio de Janeiro e Brasília, o Planalto Central foi o escolhido. Pesou a favor a presença dos tios na cidade, que, aos poucos, foi ganhando o coração de Luana.
"Logo quando vim para cá, achei muito estranho. João Pessoa é uma cidade de praia, com coisas diferentes. Aqui, eu me sentia muito sozinha no começo, mas me receberam muito bem, tanto o pessoal do esporte quanto minha família. Com o tempo, fui me adaptando a tudo, hoje em dia é bem diferente. Eu amo morar aqui", relembra.
A paixão, inclusive, é motivo para ela se considerar brasiliense, apesar de reforçar o carinho e a gratidão por João Pessoa, onde agradece por ter sido a base para o que veio em seguida. A saudade, às vezes, é por conta da ausência do mar, mas a atleta encontrou opções para amenizar o aperto no peito.
"Como escolhi Brasília pela minha carreira, estou nos treinos de segunda a sábado. Mas quando sobra um tempo, sempre opto por fazer coisas mais tranquilas, como ir em parques, que aqui tem muitos. Quando sinto muita falta da praia, vou no Lago Paranoá, tomo um bronze, entro na água, gosto muito", conta.
Sempre com a cabeça nos treinos, o esforço deu certo e ela conquistou a vaga nas Olimpíadas de Tóquio ao ser semifinalista na Copa do Mundo da modalidade. No entanto, faltando dois meses para os jogos, a Federação Internacional de Desportos Aquáticos (Fina) fez uma mudança no regulamento e considerou apenas os finalistas como classificados. Nas vésperas dos Jogos começarem, a organização voltou atrás e decidiu manter o formato anterior, confirmando o lugar da paraibana. Ela terminou a competição em 21º.
A realização do sonho olímpico teve participação importante da capital verde-amarela. Com ginásio, piscina e apoio multidisciplinar, a atleta treina no Centro de Excelência da Universidade de Brasília (UnB) e recebe apoio da Marinha do Brasil. Até por isso, considera um cenário completo para saltos ornamentais e formação de jovens talentos.
"A cidade está no caminho certo, é um lugar ideal. A gente tem uma estrutura muito boa para a base. Os técnicos são bem formados, têm capacidade, somos muito bem servidos. Vejo muitas crianças talentosas e dedicadas. Se quiserem seguir na carreira do esporte, aqui tem totais condições", opina.
"A gente tenta passar a experiência aos mais jovens, orientar como possível. Eu conquistei meu sonho, me tornei uma atleta olímpica em Tóquio-2020, então eles também conseguem. Muita gente vem falar comigo, perguntam, demonstram carinho. Gosto muito disso e tento retribuir, ensinando como posso", complementa.
"Brasília respira esporte"
Centro do país quando o assunto é política, a capital enfrenta o estereótipo de não ser palco para esportes. Ainda assim, Luana não deixa essa visão passar e soma as atividades físicas como mais um dos pontos positivos da cidade, além da beleza, do verde, do lazer e do povo candango.
"Eu acho que é mais falta de visibilidade sobre o que tem aqui, até falta de informação para o grande público. Brasília respira esporte. Você vê muita gente na rua correndo, andando de bicicleta, se exercitando. Aos domingos, no Eixão, isso fica muito nítido. Muita gente também pensa que não tem muita opção do que fazer, mas acho o contrário, você encontra diversão tanto de dia quanto de noite", defende.
Já sobre as competições, o restante do calendário de 2024 da atleta está marcado com a disputa do Campeonato Brasileiro de Saltos Ornamentais, em maio e dezembro, e depois a seletiva do Mundial de 2025. Enquanto isso, o foco é continuar com os bons resultados de olho em uma vaga nas Olimpíadas de Los Angeles-2028.
A projeção ainda mais à frente, para quando decidir pendurar o maiô, é seguir envolvida no esporte, como técnica, e criando raízes no DDD 61. "Prefiro continuar aqui e seguir em Brasília enquanto ainda estiver trabalhando, espero que sempre com saltos ornamentais. João Pessoa é um lugar que penso mais para quando for tirar férias ou, então, quando estiver aposentada de vez. Até lá, só penso em Brasília", acrescenta.
Para a Brasília do futuro, o desejo é claro: que tenha muitos saltos ornamentais e investimento. "O esporte brasileiro precisa e merece isso. Como eu disse, a cidade respira esporte. Enquanto isso, espero que siga este lugar maravilhoso, sempre melhorando, com muito lazer e alegria", torce a atleta olímpica.
* Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima
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