ALEMANHA

200 anos de imigração alemã: embaixadora no Brasil celebra laços entre os países

A comunidade do país europeu é presente em Brasília, apesar de a capital federal ter sido inaugurada muito depois. O Goethe-Zentrum, na Asa Sul, é o responsável pela divulgação da língua e da cultura do país europeu

A família da socióloga Anna Flavia Hartmann veio para Brasília em 2003, quando seus pais ingressaram no serviço público -  (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
A família da socióloga Anna Flavia Hartmann veio para Brasília em 2003, quando seus pais ingressaram no serviço público - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

O Brasil celebra em 25 de julho os 200 anos da imigração alemã para o país. Brasília é bem mais jovem. Ainda assim, é possível ver as marcas dessa cultura e daqueles que vieram de longe, mas adotaram o planalto central como um novo lar e, em meio ao Cerrado, construíram um legado.

A embaixadora da Alemanha no Brasil, Bettina Cadenbach, celebra o aniversário da imigração e chama atenção para os laços familiares e de amizade entre os dois países. "Programas de geminação de cidades completam esse cenário. A Alemanha e o Brasil são parceiros estratégicos. Esse é o estreito vínculo político do outro lado do Atlântico. O Brasil é o parceiro comercial mais importante da Alemanha na América do Sul. A Alemanha é o parceiro econômico mais importante do Brasil na União Europeia", ressalta.

Bettina Cadenbach, Embaixadora da Alemanha no Brasil
Bettina Cadenbach, embaixadora da Alemanha, celebra a união (foto: Eduardo Tadeu )

De acordo com Bettina, estima-se que existam mais de mil empresas teuto-brasileiras operando no Brasil. "Trabalhamos juntos nas áreas de energia, meio ambiente, clima, ciência, comércio e defesa, bem como em direitos humanos e na proteção de florestas tropicais. Temos um intenso intercâmbio cultural. É uma grande variedade de temas. A comunidade de língua alemã no Brasil ainda está concentrada no Sul  — no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. E há também uma pequena comunidade alemã aqui no DF", elenca.  

O Goethe-Zentrum, na Asa Sul, ponto de ancoragem para a cultura e a língua alemãs no coração de Brasília, é destacado pela embaixadora. O espaço abriga biblioteca com amplo acervo, tem programação de filmes e outros eventos, e cursos de idiomas.  "É um instituto cultural responsável pela divulgação da língua e da cultura alemã em Brasília. Fazemos isso com os cursos de idiomas, atividades culturais em serviço de informações sobre Alemanha, sempre em parceria com a Embaixada da Alemanha", detalha Sabine Plattner, gerente executiva do Goethe-Zentrum, que nasceu em Berlim e mora há 31 anos em Brasília.

Neste sábado (25/5), a Embaixada da Alemanha e seus parceiros promovem o Dia de Portas Abertas, com apresentações artísticas, evento gastronômico, feira e visitas guiadas, entre outros. Os ingressos para participação estão esgotados.

Anna Flavia Hartmann
Nascida em Berlim, Sabine Plattner mora há 31 anos em Brasília (foto: Ale Bastos)

Raízes

Descendente de alemães, a socióloga Anna Flavia Hartmann relembra como a história da família cruzou com a do Brasil. "Eram pequenos agricultores que imigraram em 1846 da região de Hunsrück para o Rio Grande do Sul. Nessa época, a Alemanha não existia enquanto estado-nação. Era um conjunto de 'feudos', e diversas regiões da Europa viviam um momento de excedente populacional e turbulência social. Por isso, esse movimento imigratório para o Brasil", explica. 

"A minha família, Hartmann, morou no Rio Grande do Sul e, até a geração do meu pai, nascido em 1957, todos aprenderam alguma variação do hochdeutsch (língua alemã). O meu pai se formou e foi fazer residência em Belo Horizonte (MG), onde se casou com a minha mãe, que é mineira. Depois, mudaram-se para o Distrito Federal, em 2003, porque ambos ingressaram no serviço público", relata.

Anna Flávia conta que seu melhor amigo e sua orientadora de mestrado também são descendentes de alemães que chegaram ao país em imigrações mais recentes. "Esse convívio me fez perceber que algumas coisas que eu via como características da personalidade da família do meu pai ou minhas podem ser atribuídas a influências culturais alemães, como valorizar pontualidade e cumprir os combinados; ser bem direta, de uma maneira que podem entender como grosseria; gostar de longas caminhadas; apreciar conversas um a um que durem bastante tempo;  tentar resolver as coisas da forma mais eficiente possível", descreve. 

O morador da Asa Norte Hartmut Gunther, 78 anos, cresceu na cidade de Erfurt, na Alemanha. Em 1975, decidiu conhecer o Brasil, começando pela capital gaúcha, Porto Alegre. O plano era ficar no Rio Grande do Sul por dois anos. À época, teve a oportunidade de visitar João Pessoa, na Paraíba. Foi quando conheceu sua esposa, com a qual teve uma filha. Em 1988, o casal mudou-se para a capital federal, onde Hartmut foi lecionar no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

"Quando cheguei ao Brasil, não falava português. Em Porto Alegre, senti a presença da cultura alemã e era fácil encontrar alguém que falasse a mesma língua. Quando cheguei a Brasília, havia poucos rastros da cultura aqui e era difícil encontrar alguém que soubesse alemão", recorda. "Eu tenho o esforço consciente de manter a cultura alemã e um exemplo desse empenho foi ensinar alemão para minha filha", conta o professor, que está aposentado.

 

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postado em 25/05/2024 06:00