
O período chuvoso, no Distrito Federal, alivia a sensação térmica de temperaturas elevadas na região. Mas, também, desperta a preocupação com diversas doenças trazidas pelas tempestades. Os aguaceiros que caem na capital federal, por diversos motivos, superam a capacidade das redes de drenagem pluvial e de de esgoto, que acabam por transbordar. As enchentes, por um lado, fazem aparecer criadouros de insetos portadores de vírus e outros peçonhentos e, em vários locais, a água invade casas contaminando moradores com excrementos de roedores, por exemplo, e enfermidades. O Correio conversou com algumas vítimas desses problemas — que relataram o que viveram — e com especialistas da área de saúde que deram orientações sobre como evitar riscos.
Dengue, leptospirose e hepatite A são algumas das ameaças que, na época das precipitações, têm seu risco de infecção aumentado. Em 2024, foram notificados 324.776 casos suspeitos do mal transmitido pelo mosquito Aedes aegypti no DF. Desse total, houve 440 mortes, conforme dados da Secretaria de Saúde (SES-DF). Informações da pasta, ainda mostram que, no ano passado, houve 20 registros confirmados de leptospirose - transmitida por contato direto ou indireto com a urina de ratos e camundongos infectados com a bactéria Leptospira - e mais 17 que ainda estão sob investigação. Ainda, no período, foram confirmados 75 pessoas que passaram a sofrer com a doença que afeta o fígado.
Nicolas Louis, 24 anos, proprietário de uma empresa de serviços de dedetização e de desratização, contou haver muita procura pelo que seu estabelecimento comercial oferece nesta época do ano, especialmente no combate a escorpiões. Durante as chuvas, a disseminação de determinadas pragas aumenta, segundo ele. Para minimizar esse quadro, ele disse que: "Mantendo o ambiente (residencial) limpo, evitamos a proliferação de pragas (ratos, escorpiões, mosquitos). Também é preciso tomar muito cuidado com caixas e recipientes vindos de fora da sua residência, pois alguns podem conter larvas e ovos de insetos nocivos", disse.
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O mecânico Antônio Cassiano, 50, morador de Ceilândia, teve dengue, no ano passado, no período das chuvas. "Foi uma dor no corpo e uma falta de apetite enorme. É uma doença muito ruim", contou. Ele destacou a necessidade de ações mais efetivas, por parte do governo, a fim de explicar todos os prejuízos causados pelo mosquito.
A autônoma Sheila Domingas, 44, também residente em Ceilândia, enfrentou outro inimigo: a leptospirose. Disse que caminhou numa rua tomada por uma enxurrada e ficou exposta. "A água estava a um palmo abaixo do joelho. No dia seguinte, amanheci febril, tive vômito e diarreia. Quando fiz os exames, foi confirmada a suspeita", relatou.
Sheila criticou a falta de limpeza preventiva da rede pluvial, entre outras providências que as autoridades deveriam tomar. "Se houvesse a manutenção adequada das bocas de lobo, muitos problemas poderiam ser evitados. Além disso, não temos acesso fácil a exames nos serviços públicos. Os próprios médicos dizem que os testes necessários não estão disponíveis nas unidades médicas do GDF, e isso é indignante", reclamou.
Segundo o infectologista Manuel Palacios, para se ver longe doenças na estação chuvosa, a população deve adotar hábitos como evitar a exposição à água de enchentes utilizando botas e luvas impermeáveis. Ele também recomendou: "Lave frutas, verduras e utensílios com água potável e clorada. Priorize o consumo de água tratada, filtrada ou fervida. Além disso, elimine criadouros do Aedes aegypti (recipientes vazios), inspecionando regularmente quintais. Não se esqueça de manter as vacinas contra hepatite A, febre amarela e tétano em dia".
Por sua vez, a infectologista Joana D'Arc Gonçalves destacou a importância da imunização e acrescentou: "Além da vacina, é importante usar repelentes e instalar telas de proteção". A médica também reforçou cuidados pessoais e com a hidratação neste início do ano. "Nessa época, muitas fontes de água ficam contaminadas. Além disso, a lavagem frequente das mãos é indispensável", alertou.
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Providências
A Secretaria de Saúde declarou, por nota, que para combater doenças como dengue, zika e chikungunya, adota ações contínuas de combate ao Aedes aegypti. "Essas ações incluem visitas domiciliares para a eliminação de focos do mosquito, uso de inseticidas, além de estratégias inovadoras, como as estações disseminadoras de larvicida", ressaltou o texto da pasta.
Os moradores do DF, de acordo com a SES-DF, podem solicitar serviços de vigilância ambiental para acabar com criadouros do mosquito pelos telefones 3449-4427 ou 162. Diariamente, cerca de 5.000 visitas a moradias são realizadas para combater focos de doenças como a dengue. E para enfrentar essa enfermidade, a vacina está disponível na rede pública de saúde para crianças e adolescentes, mas somente com idades dos 10 aos 14 anos.
Além disso, quanto à leptospirose, em casos de contaminação especialmente em áreas alagadas, a secretaria indicou ser "fundamental" buscar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). O diagnóstico da doença é feito por exames específicos para pacientes com sintomas da enfermidade e, também, histórico de exposição a águas contaminadas.
Previna-se!
- Não entre em contato com águas de enchentes ou alagamentos.
- Utilize botas e luvas impermeáveis ao entrar em contato com áreas alagadas ou com água de enchente.
- Lave as mãos com água e sabão após qualquer contato com águas ou superfícies potencialmente contaminadas.
- Lave bem frutas, verduras e legumes com água potável e clorada antes do consumo.
- Priorize o consumo de água tratada, filtrada ou fervida.
- Evite consumir alimentos embalados ou enlatados que tiveram contato com água ou lama contaminada.