
Francisco Evaldo de Moura, 56 anos, acusado de matar o vizinho, Adriano de Jesus, 50, por um espaço em um estacionamento público deve passar, hoje, por audiência de custódia. "Esperamos que o flagrante seja convertido para que ele possa cumprir todo o processo preso e, ao final, vir a ser condenado pelo Tribunal do Júri. Na portaria inicial, Francisco está sendo acusado de homicídio triplamente qualificado consumado e tentado", explica o advogado de acusação Marcos Akaoni, da equipe Akaoni e Cardoso Advocacia, que representa a família da vítima.
O atirador está na Carceragem da Polícia Civil e, até a próxima semana, deve ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, caso a prisão seja mantida hoje. Além dos indiciamentos por homicídio consumado e tentado, contra Gabriel Ferreira, 20, filho de Adriano, Francisco responderá pelo porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, com pena de três a seis anos, visto que a arma usada no crime, uma pistola 9mm, pertence ao filho dele, um cabo do Exército.
Para a família de Adriano, sobra a dor da perda e a expectativa de que a justiça seja cumprida. Ontem, o Correio foi à casa do motorista de transporte escolar e conversou com Elaine Ferreira, 59, esposa da vítima, que descreveu os últimos momentos ao lado do marido. O filho do casal, Gabriel — que aparece nas filmagens correndo dos disparos de Francisco —, também esteve presente e rememorou o momento do crime, além de recordar acontecimentos emocionantes que viveu junto ao pai.
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O crime
De acordo com Gabriel, antes da discussão começar, Francisco ficou batendo no portão da família e encarando mãe e filho. A tensão entre os vizinhos teria ocorrido após o jovem estacionar seu carro em uma vaga de estacionamento público, onde o suspeito costumava parar seu veículo. Adriano, que não estava em casa no momento, havia levado o ônibus da esposa para a oficina.
"Quando meu pai chegou, aconteceu a discussão. Ele (Adriano) pedia para Francisco voltar para casa, porque não queria confusão. Francisco então deu dois passos para trás, sacou a arma e fez os disparos. O primeiro foi na minha direção, mas me esquivei e corri para tentar fechar o portão. Como não consegui, subi para a quadra vizinha para pedir ajuda. Quando liguei para minha mãe, ela contou que ele tinha matado o meu pai. Vim correndo e vi o corpo dele caído no chão", relata, com a cabeça baixa e a voz embargada.
Dentro de casa, Elaine viu o momento em que Francisco entrou e continuou os disparos. "O primeiro tiro pegou na churrasqueira. Adriano correu para atrás da van e foi atingido pelo restante dos disparos. Ele (o marido) ainda conseguiu andar um pouco, segurou em uma pilastra, mas caiu com o rosto no chão", descreve. Uma mulher que passava em frente ao local do crime, apresentou-se como enfermeira e prestou os primeiros socorros, mas o motorista já estava sem pulso. "Ele (Francisco) atirou para matar", ressalta a viúva.
Saudade
"Meu marido dava o sustento da minha família. Fazíamos tudo juntos. Agora, estou sozinha para cuidar dos meus filhos, meus netos, meu genro e minha nora. Eu não sei o que vou fazer para nos sustentar. Ele (Francisco) acabou com a nossa vida. Tirou o pilar da minha família", lamenta, em lágrimas. Adriano e Elaine estavam casados havia 28 anos. Juntos, criaram três filhos e tinham dois netos.
Segundo mãe e filho, parentes de Francisco têm passado em frente à casa da família com olhar intimidador. "Uma dessas pessoas veio até nós e disse que todo esse problema era culpa nossa. Tenho medo que ele (o atirador) seja solto e volte aqui. Essa tragédia aconteceu na mesma casa que meu pai batalhou para construir, então, além da insegurança, vamos nos mudar, não aguentamos essa dor", diz Gabriel.
"Quando nos conhecemos, eu tinha 30 anos e ele, 21. Ele me amava como se eu fosse uma mocinha", conta Elaine, com um breve sorriso no rosto, recordando a época em que o casal se conheceu. "Ele adotou, registrou e cuidou do meu filho mais velho, de outro relacionamento. Fazia tudo por nós. Depois, veio a Nathália e, em seguida, o Gabriel", completa. Juntos, Adriano e Elaine trabalhavam com transporte escolar, dedicavam-se a artesanato — produzindo imagens católicas, como santas — faziam caminhada todas as manhãs e buscavam, juntos, os netos na escola. Eram uma dupla.
"Ele adivinhava tudo que a gente queria e precisava. Meu neto dormia aqui todos os fins de semana e Adriano saía com ele para pedalar, enquanto eu arrumava a casa. Ele (o marido) gostava de postar na redes fotos dos dois juntas peladando. Escrevia 'hoje eu tenho um companheiro para passear comigo'. Ontem, ouvi meu neto perguntar quem passearia com ele agora, que seu vovô se foi", relata.
Para Gabriel, mais do que um pai, Adriano foi amigo. "Quando eu era pequeno, dizia para o meu pai que queria ser jogador de futebol. Então, todos os dias, ele me passava um treino diferente, que aprendia em vídeo-aulas. Mais tarde, disse que queria fazer agronomia e, de novo, ele me apoiou. Sempre foi uma pessoa muito querida", destaca.