EMPREENDEDORISMO

Negócios de Brasília atravessam gerações aliando tradição e inovação

Empresas que nasceram com Brasília mostram que o segredo do sucesso está na combinação entre tradição, coragem e disposição para se reinventar. A vontade de crescer é passada de pai para filho

Hely Walter Couto, Bráulio e Guilherme: três gerações à frente da Pioneira da Borracha -  (crédito:   Ed Alves CB/DA Press)
Hely Walter Couto, Bráulio e Guilherme: três gerações à frente da Pioneira da Borracha - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

Brasília abriga histórias de empreendedorismo que começaram antes mesmo de a cidade ser oficialmente inaugurada. Negócios que surgiram em meio à poeira vermelha do cerrado e que, décadas depois, continuam de pé — agora sob o comando de filhos e netos dos fundadores. São exemplos de coragem, visão e, acima de tudo, de laços familiares que se misturam ao crescimento da capital.

Um desses exemplos é a Pioneira da Borracha, fundada em 1959 por Hely Walter Couto, hoje com 99 anos. Visionário, Hely deixou Belo Horizonte (MG) naquele mesmo ano para apostar no sonho da nova capital. Instalou sua loja em um barraco de madeira na antiga Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, com o objetivo claro: oferecer produtos para os primeiros moradores e trabalhadores da cidade em construção.

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A Pioneira da Borracha recebeu esse nome justamente por ser a primeira do segmento em Brasília. Mais de seis décadas depois, a empresa permanece viva, agora administrada pela terceira geração da família. "É uma satisfação enorme ver minha família dando continuidade ao que criei. Meu coração está tranquilo. Tudo que fiz foi por eles", conta Hely.  

Os filhos Bráulio, 63, e Eduardo, 67, seguiram os passos do pai e entraram na gestão do negócio ainda jovens. "Com 14 anos, já trabalhava com ele. Fizemos parte da construção da cidade e temos clientes que nos acompanham desde então", diz Eduardo.  

Hoje, o neto Guilherme Ferrari, 26, traz um olhar moderno para a empresa. "Meu avô sempre disse que foi um herói. E eu acredito nisso. Ele criou algo sólido e deixou uma marca. Nosso desafio, agora, é inovar sem perder a essência", destaca o jovem, que aposta na modernização da marca, investe em estratégias digitais e acompanha de perto as novas tendências do comércio. "Não é fácil, mas queremos que a Pioneira seja uma empresa centenária. Meu papel é profissionalizar, sem apagar a história."

Hely ainda faz questão de ir à loja duas vezes por semana. "Ele quer saber de tudo, pede relatórios, acompanha o movimento", revela o neto. O filho Bráulio resume o sentimento da família: "É um orgulho enorme. Damos continuidade ao trabalho de uma vida inteira. E o conselho do meu pai sempre foi simples e direto: trabalhe e seja honesto. Ele é o homem mais íntegro que conheço."

Sucesso na capital

A Barbearia do Onofre, fundada em 1971 por Onofre Bezerra da Silva, segue firme, com unidades na Asa Norte e Águas Claras, agora sob a gestão do filho Jorge Bezerra, 52, e dos netos João Victor, 26, e Vitória, 28. "Desde criança, estou envolvido com a barbearia. No começo, tive receio de assumir, mas hoje tenho orgulho de ver meus filhos liderando e inovando", conta Jorge.

Barbearia do Onofre está na terceira geração
Jorge Bezerra com os filhos João Victor e Vitória da Barbearia do Onofre (foto: Luís Nova/CB/D.A Press)

João Victor cuida da parte administrativa e das redes sociais, enquanto Vitória gerencia a unidade de Águas Claras. "Mesmo com pouca idade, eles dão conta. Tenho certeza de que estão prontos para levar o legado adiante", afirma o pai.

A história da barbearia começa de forma simples, mas cheia de significado. Em 1969, os pais de Jorge chegaram a Brasília em um pau de arara, vindos do sertão da Paraíba. Montaram um pequeno espaço: de um lado, a barbearia; de outro, a costura da mãe.

"Isso aqui é mais que um negócio. É memória, é família", diz João Victor. Ele lembra com carinho das visitas ao avô e dos refrigerantes da máquina da Coca-Cola. Vitória, por sua vez, relembra os dias em que ajudava na loja enquanto estudava. "É desafiador, mas gratificante fazer parte dessa história."

Para o futuro, os irmãos planejam modernizar o negócio sem perder sua essência. "O mercado é competitivo, principalmente para microempreendedores, mas a base familiar é nossa força", diz Vitória.

Tradição na Rodoviária 

Quando se fala de tradição em Brasília, é preciso mencionar a Pastelaria Viçosa. Fundada em 1967 por Sebastião Gomes, o popular "Tião Padeiro", e localizada inicialmente na Rodoviária do Plano Piloto, hoje a marca conta com seis unidades espalhadas pelo DF.

Saul Gomes é a segunda geração a frente da viçosa
Saul Gomes aposta na continuidade da Viçosa com a filha Helena Martini (foto: Bruna Gaston CB/DA Press)

O filho Saul Gomes, 57, entrou no negócio aos 16 anos. "Meu pai sempre dizia que um homem vale uma empresa, mas uma empresa não vale um homem. Isso me ensinou a valorizar nossa equipe." Saul relembra o começo em uma cidade ainda em formação. "A rodoviária era só poeira. Quase não havia lojas. Mas conseguimos nosso espaço e hoje somos parte da história da cidade."

Ele aposta na continuidade do negócio com a filha Helena Martini, 19, que está se formando em publicidade e prepara-se para assumir a comunicação da marca. "Quero que ela assuma a identidade visual e leve a pastelaria ainda mais longe."

  • Jorge Bezerra com os filhos João Victor e Vitória da Barbearia do Onofre
    Jorge Bezerra com os filhos João Victor e Vitória da Barbearia do Onofre Foto: Luís Nova/CB/D.A Press
  • Saul Gomes aposta na continuidade da Viçosa com a filha Helena Martini
    Saul Gomes aposta na continuidade da Viçosa com a filha Helena Martini Foto: Bruna Gaston CB/DA Press
postado em 13/04/2025 06:00
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