
Ativistas, organizações e frequentadores da Floresta Nacional de Brasília (Flona) se reuniram na manhã deste sábado (12/4) em uma mobilização em defesa dos espaços públicos. A iniciativa se deu após o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) abrir uma consulta pública, no início deste mês, para ouvir a sociedade sobre uma proposta de concessão de serviços de apoio à visitação no Parque Nacional de Brasília (PNB) e na Floresta Nacional de Brasília (Flona), que têm gestão pública.
Diversas entidades representantes da sociedade civil se manifestaram contrárias à iniciativa e publicaram um manifesto on-line assinado exigindo a suspensão da concessão e a ampliação do debate público. Segundo o movimento, a medida ignora a função social dos espaços e coloca em risco essa parcela do Cerrado em meio a uma crise climática global.
“Nós estamos muito preocupados”, afirma João Carlos Machado, coordenador do movimento de apoio ao Caminhos do Plano Central. “A Flona tem um plano de manejo de quase 20 anos atrás, muito superficial, que faz uma análise técnica, geológica, botânica e biológica muito detalhada, mas não define exatamente soluções de uso público, um zoneamento mais claro a respeito da visitação”, explica.
“Essa concessão é um voo no escuro por 30 anos para um território que a cidade aprendeu a ter como perspectiva a sua conservação, abastecimento de água, lazer, bem-estar, qualidade de vida e contato com a natureza”, aponta João.
Entre as diversas preocupações das entidades que se posicionaram contra a medida proposta, uma das principais é em relação à cobrança de entrada na Flona, que hoje é aberta ao público. “Nós estamos do lado dos bairros que têm a população mais carente do DF e que utilizam daqui para atividades de lazer, recreação, encontros de família e outras muitas atividades além das trilhas”, destaca o coordenador.
“E isso está ameaçado com essa proposta de concessão, porque a previsão é de cobrança de ingresso. A partir de um valor que pode não ser tão alto, como por exemplo R$ 10, mas que a gente não sabe como vai ficar no futuro, porque 30 anos é um horizonte de gerações”, pontua.
“Aqui são realizados, além de atividades como yoga, caminhada, ciclismo, projetos sociais envolvendo a comunidade que está ao redor aqui da Flona. Se a concessão for realizada, como vai ficar a situação dessas crianças?”, acrescenta Márcio Bittencourt, um dos porta-vozes do grupo de ciclismo Rebas do Cerrado.
“Esse aqui é um dos poucos espaços de lazer que a comunidade aqui de Ceilândia e Taguatinga, por exemplo, tem disponível. Nós precisamos incentivar a população a praticar esportes, a ter momentos de lazer, e aqui é ideal para isso. Por isso a comunidade precisa participar mais desse processo”, defende.
Segundo João, a expectativa é que o processo possa ser paralisado e que a possibilidade da concessão possa ser debatida com a sociedade. “Precisamos conversar com a população de Brasília sobre alternativas de melhoria, de melhor proteção e melhores mecanismos para conservação e gestão desses espaços. A gente reconhece a fragilidade orçamentária do ICMBio, mas a gente tem certeza absoluta que privatizar os serviços para o interesse de poucos é a pior das soluções que pode ser colocada”, declara.
O ICMBIO explica que não há processo de privatização em andamento, além disso, a consulta pública está aberta até o dia 17 de maio para que toda população possa contribiur com a discussão. Uma audiência pública foi marcada para o dia 7 de maio.