
O choro, gênero musical brasileiro que carrega séculos de história, encontrou em Brasília um terreno fértil para se reinventar e dialogar com novas gerações. Quem afirma é o violonista Henrique Neto, diretor da Escola Brasileira de Choro (antiga Escola de Choro Raphael Rabello), entrevistado desta segunda-feira (23/6) no programa CB.Poder — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. Aos jornalistas Ana Maria Campos e Severino Francisco, Henrique refletiu sobre a identidade musical da capital, a força das novas gerações e as homenagens ao pai, Reco do Bandolim, e ao jornalista Irlam Rocha Lima.
"O choro é um verdadeiro patrimônio de Brasília. É uma música centenária que encontrou na nossa cidade todas as condições para se desenvolver, desde a transferência da capital. Juscelino Kubitschek tinha esse apreço. Ele trazia Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Dilermando Reis. Brasília, desde sua nascente, tem esse vínculo com o choro", afirmou.
Apesar do estigma de ser uma música "de gente mais velha", Henrique destacou o crescente interesse dos jovens pelo gênero. Segundo ele, a Escola Brasileira de Choro cumpre um papel nesse processo. "É a primeira escola dedicada ao choro no país. A juventude se encanta quando tem acesso a essa música. Brasília, por ser uma cidade moderna, não tem uma velha guarda que toma conta do choro. Então o choro cresce livre, influenciado por outros gêneros, de forma muito brasiliense".
A entrevista também abordou a contribuição da imprensa para a cena cultural da cidade. Em especial, a trajetória de Irlam Rocha Lima, jornalista do Correio que completa 50 anos de carreira e será homenageado nesta segunda-feira (23/6) com o lançamento do livro Artes em festa — 50 anos de reportagem cultural, no Beirute, na 109 Sul. “O Irlam está no Clube do Choro desde os anos 1970, sempre divulgando a programação quando ainda nem era conhecida. Essa homenagem é mais que merecida. Precisamos de mais lucidez e critério na informação, e ele representa isso”, declarou Henrique.
Filho de Reco do Bandolim, Henrique cresceu rodeado por instrumentos musicais e músicos talentosos. A música, para ele, era parte do cotidiano. “Eu achava que todos os pais tocavam. Tinha bandolim no sofá, guitarra baiana em cima da mesa, violão pela casa. Meu pai sempre foi envolvido com a música, embora formado em jornalismo. Antes de eu nascer, ele trouxe o primeiro trio elétrico para Brasília”, relembrou.
Sobre o futuro do Clube do Choro, Henrique vê potencial de expansão e conexão internacional. "O choro tem raízes europeias e africanas, como outras músicas das Américas. Quando tocamos na Europa, eles reconhecem algo deles. Isso faz com que o choro se comunique muito bem com os europeus. É um orgulho saber que a música brasileira é valorizada lá fora".
Um dos momentos mais marcantes para Henrique foi a apresentação de Paul McCartney no Clube do Choro, em 2023. “Foi algo espetacular. Ele tem a dimensão do que aquele espaço representa. Quis fazer uma ação ali por já ter vivido uma experiência semelhante”, contou.
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*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
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