
"No Natal, perguntamos às crianças o que elas queriam ganhar. Um deles me disse que queria comida, uma cesta básica. Uma criança não devia se preocupar com o que vai comer ou, pior ainda, se vai comer algo", conta Diane Gaudino, de 54 anos, diretora do Centro Social Santo Aníbal, no Guará.
Como escreveu a escritora Lya Luft: "A infância é o chão sob o qual caminharemos o resto de nossas vidas". Por acreditar em um futuro melhor por meio da garantia de ser criança de forma segura, associações no Distrito Federal se esforçam para mudar a vida de crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade nas periferias da capital.
"Ver um sorriso no rosto de cada um deles não tem preço. É isso que me faz continuar", conta Diane. O Santo Aníbal não recebe auxílio do governo e é mantido por doações e pelo bazar permanente realizado pela equipe. Com centenas de crianças matriculadas, o centro não atende apenas ao Guará, mas a todo o Distrito Federal e atua há mais de 15 anos com vítimas de violência física e sexual, além de vulnerabilidade social e econômica. "Eu vejo as crianças daqui crescerem e superarem seus traumas. A vida deles se torna muito diferente do que poderia ter sido, por oferecermos a chance de se alimentar, de brincar, de aprender coisas novas e, principalmente, de fazer amigos", diz a diretora.
Mudança de vida
Para a psicopedagoga clínica Andréa Abreu, brincar permite que a criança explore o mundo, desenvolva a criatividade, aprenda a lidar com emoções e conflitos, além de construir habilidades sociais e cognitivas. "O acesso à cultura — como livros, músicas, filmes, teatro e outras manifestações artísticas — amplia o repertório da criança, fortalece sua identidade e o pensamento crítico. Ambos são direitos essenciais e não devem ser vistos como luxo, mas como parte da formação", defende. Para a especialista, garantir o direito à infância é um dever coletivo. "Precisamos de políticas públicas que promovam educação de qualidade, espaços seguros para brincar, acesso à arte e à cultura, além de combater o trabalho infantil e a violência", afirma. "Famílias, escolas, governo devem atuar juntos para construir ambientes que protejam, acolham e permitam que cada criança viva plenamente sua infância", completa.
Fundada há 20 anos, a Associação atua no contraturno escolar e oferece, de forma gratuita, oficinas de música, teatro, informática, artes, entre muitas outras atividades, visando, como principal objetivo, garantir o direito à brincadeira. Ao longo dos anos, as crianças da 'Brinca', como é apelidado o espaço, já cresceram, trouxeram seus filhos e voltaram ao espaço para atuar como brinquedistas para outras gerações.
"Existe uma transformação não só social, mas de autoestima com essas crianças, de contato com outras áreas que elas não poderiam ter, seja por uma questão financeira, seja cultural, seja de informação", conta a coordenadora da Ludocriarte, Tainá Martins, de 30 anos. "Aqui elas entram em contato com essas áreas, como artes, música, teatro e, às vezes, elas serão melhor compreendidas. Isso gera uma sensação de pertencimento", completa.
A associação, porém, enfrenta desafios, uma vez que seus recursos são mantidos por meio de editais do governo, o que não garante uma estabilidade financeira para o local. "É uma incerteza que dá um frio na barriga a cada semestre e a cada ano. Fechou o edital, não sei o que vai ser ano que vem", diz a coordenadora. "Então, eu diria que o maior desafio da Brinca é ter esse espaço seguro, financeiro e longevo. Porque os editais podem parar, mas crianças não param de vir, a demanda não para", completa.
Equipe dedicada
No Sol Nascente, uma das regiões mais vulneráveis do Distrito Federal, em um espaço pequeno, uma equipe dedicada ensina as crianças e adolescentes da região a apreciarem a educação a partir do incentivo à leitura e aos estudos de forma lúdica.
"Aqui no Sol Nascente, as taxas de analfabetismo são muito grandes. Não temos um teatro ou uma opção de lazer e cultura para essas crianças e adolescentes. O que fazemos, com muito esforço, é tentar mudar o futuro delas", conta Margarida Minervino. A assistente social criou o projeto em 2009 e viu sua vida inteira ser construída ao redor do Despertar.
"Fiz cursos de educação para crianças e adolescentes, me formei em uma faculdade que me possibilitasse trabalhar com isso que amo e criei minha filha dentro do projeto. Depois, ela também cursou pedagogia, por ter criado a paixão por ensinar", diz Margarida. Paloma Mel, 33, filha de Margarida, ajuda a mãe no projeto desde adolescente, oferecendo educação de forma lúdica a crianças, para que elas não desistam da escola. "Comemoramos cada aluno que se forma no ensino médio, cada um que consegue fazer faculdade, porque muitos têm que trabalhar para manter a família e não conseguem priorizar a educação superior. Ao longo dos anos, vimos também o Sol Nascente crescer e comemoramos cada pequena conquista da comunidade", lembra Paloma, emocionada.
O projeto é cíclico e conta com o voluntariado dos próprios alunos que, depois de adultos, voltam, muitas vezes, para ajudar os menores, como Joyce Kelly Silva, de 19 anos. "Quando entrei no Despertar, tinha 13 anos. Estava com depressão e o que me possibilitou melhorar foi, justamente, estar aqui e me abrir para as outras pessoas", lembra Joyce. Hoje, fazendo um curso técnico de Recursos Humanos, ela atua auxiliando os adolescentes. "Muitos me pedem ajuda com questões de tecnologia, me mandam mensagem. É um prazer poder ajudá-los, como me ajudaram no passado", completa a jovem.
Saiba Mais
Conheça as associações
Associação Centro Social Santo Aníbal
Endereço: SRIA II (Polo de Moda) lote 02 - Guará
Contato: (61) 3301-1960
Site: www.santoanibal.org.br
Instagram:
@centrosocialsantoanibal
Brinquedoteca Comunitária Ludocriarte
Endereço: Q. 103 Casa 01 -
St. Res. Oeste, São Sebastião
Contato: (61) 3339-1976
Site: https://ludocriarte.org
Instagram: @ludocriarte
Associação
Despertar Sabedoria
Endereço: SHSN Sol Nascente-DF, Condomínio Genesis, Quadra F Lote 11
Contato: (61) 3461-5611
Instagram:
@associacaodespertarsabedoria
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