
O excesso de velocidade é destaque entre as principais infrações registradas no Distrito Federal. Segundo o Departamento de Trânsito (Detran-DF), de janeiro a junho de 2025, no ranking das infrações mais flagradas nas vias da capital, que somam 1,28 milhão de autuações, 943.757 foram para condutores que estavam acima do limite permitido — 74% do total. Em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram 900.957 multas, houve um aumento de 4,75%. Especialistas afirmam que a pressa e o estresse causados pelo trabalho estão entre os principais motivos.
- 51 pessoas morreram no DF em acidentes de trânsito de janeiro a 15 de abril
- Detran-DF autua 79 motoristas por dirigirem embriagados
- Detran flagra condutores sem carteira e sem cinto durante blitz
A gerente de Ação Educativa do Detran-DF, Magda de Melo Brandão, destacou os perigos dessa correria. "O tema da campanha de 2025 é 'Desacelere. Seu bem maior é a vida', algo que tem tudo a ver com o excesso de velocidade, que é o principal tipo de infração cometida", disse. "A escolha do tema foi justamente por causa do aumento das multas por excesso de velocidade". Outro grave problema, segundo ela, são as distrações que também levam a multas, como o uso de celular ao volante. Magda ressaltou que a autarquia tem várias ações educativas para tentar conscientizar os condutores.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Michelle Andrade, doutora em transportes e coordenadora do grupo de pesquisa em segurança viária da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que é necessário ampliar estudos sobre o trânsito na capital do país. "Eles podem contribuir para a identificação dos fatores que, efetivamente, contribuem para as infrações cometidas no DF; quem são os principais infratores e a quais aspectos eles são mais sensíveis, de forma a subsidiar a elaboração de campanhas educativas direcionadas e efetivas para essa população", avaliou.
Michelle ressaltou que os homens jovens são mais propensos a cometer infrações devido à maior tendência em assumir riscos, influência de amigos, desejo de afirmação ou uso de substâncias psicoativas, como o álcool. "Além disso, condutores com baixa escolaridade geralmente têm menos acesso às campanhas educativas, carecendo de conscientização e adequado conhecimento das regras", acrescentou.
Pressão
A especialista apontou que motoristas profissionais, devido à pressão por produtividade, estresse e fadiga por longas jornadas de trabalho, também estão entre os que cometem infrações de trânsito. É o que também afirmou Adriana Modesto, doutora em transportes pela UnB. "É preciso considerar as mudanças no mundo do trabalho. Muitos motociclistas, que têm o veículo como instrumento de trabalho, acabam se vendo pressionados pela dinâmica laboral, e isso pode impactar na conduta e no autocuidado no trânsito", apontou.
Ela também enfatizou que, com muitas obras nas vias do DF acontecendo ao mesmo tempo e congestionamentos que se multiplicam, "o condutor pode cometer a infração por eventual falha na sinalização ou por impaciência". "Não é uma justificativa, mas uma compreensão do fenômeno. Há muitas camadas de possibilidades, que transcendem os apontamentos tradicionais", avaliou.
Segundo Adriana, é preciso relacionar a segurança viária com determinantes sociais e as transformações no mundo do trabalho. "Só assim será possível desenhar políticas públicas que realmente sejam efetivas no propósito da redução dos sinistros de trânsito", argumentou a doutora em transportes.
Ações efetivas
Professor de engenharia de tráfego na UnB, Paulo César Marques afirmou que o problema do desrespeito às leis de trânsito não está na regulamentação, mas na sensibilização dos órgãos gestores de trânsito, que não estabelecem estratégias adequadas, pensando no médio/longo prazo. "A legislação prevê outras medidas punitivas além das multas, como a suspensão e a cassação da CNH, por exemplo", observou. "No campo da educação, o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) estabelece parâmetros para campanhas educativas, que devem ter caráter nacional e permanente", acrescentou.
De acordo com Marques, a resposta para a forma como o condutor pode agir para evitar as infrações e, consequentemente, acidentes de trânsito, seria simplesmente obedecer à legislação. "Porém, sabemos que é preciso mais do que isso. Primeiro, porque a fiscalização precisaria ser eficaz, para evitar a sensação de impunidade, e sabemos que não é razoável manter 100% de vigilância", ponderou. No entanto, segundo o professor da UnB, as mudanças de atitude da população dependem muito de ações efetivas do governo. "Tivemos esse exemplo aqui no DF, por ocasião do programa Paz no Trânsito, que se notabilizou pelo respeito à faixa de pedestres", recordou.
O especialista também defendeu que é preciso sensibilizar os professores de autoescolas sobre o tema. "O trânsito é, essencialmente, um ambiente de convívio social, em que devem ser estimulados os valores de cidadania", argumentou. "Sensibilizar os professores para isso, de modo a promover a cidadania nos espaços de circulação, é um bom caminho", avaliou Marques. Questionado se o ensino sobre trânsito nas escolas pode ser uma solução, ele concordou, desde que se siga a mesma orientação. "Muito se fala em criar disciplinas específicas, mas a melhor abordagem é usar os espaços de circulação como espaços de experimentação em quaisquer disciplinas", destacou.
Consequências evitadas
Michelle Andrade alertou que mais de 50% dos sinistros ocorrem em decorrência de desobediência à legislação de trânsito. "Esses sinistros são responsáveis pelas mortes e lesões irreversíveis de jovens todos os anos", lamentou. Segundo ela, estudos confirmam que a sensação de impunidade contribui para o cometimento de infrações. "Resultados indicam, ainda, que a presença de agentes de fiscalização tem efeito educativo e dissuasivo imediato, que radares não conseguem reproduzir plenamente", avaliou.
Paulo César Marques acrescentou que a direção defensiva é um dos caminhos para reduzir tanto as infrações quanto os acidentes de trânsito. "Ela resume o conceito de promoção da cidadania. A direção defensiva significa agir pensando no coletivo, assumindo que todo mundo pode errar, mas nenhum erro deve conduzir a consequências que podem ser evitadas", opinou.
A educação para o trânsito tem um papel fundamental na formação de condutores e pedestres conscientes, sendo um dos três pilares da política nacional de segurança viária, ao lado da fiscalização e da engenharia, reforçou Michelle Andrade. "No entanto, sozinha, ela não é suficiente para transformar os comportamentos de risco. É necessária a definição de política de segurança viária para o DF em que estudos específicos junto da população local guiem sua elaboração", observou.
Violência e covardia no trânsito
A violência no trânsito é outro problema recorrente no DF. Em Taguatinga, um agente da Polícia Militar (PMDF) agrediu uma mulher após uma discussão que teve início enquanto ambos estavam conduzindo seus veículos. O caso ocorreu em 20 de maio, mas as imagens do ato covarde só vieram à tona ontem. Em depoimento à Polícia Civil, a mulher disse que a situação teve início após desentendimento no trânsito. "A situação evoluiu para agressões físicas e dano ao veículo, com posterior furto de pertences deixados no interior do automóvel", afirmou, em nota, a PCDF.
Também por meio de nota, a PMDF informou que o comando da corporação tomou conhecimento da situação somente ontem e que a Corregedoria instaurou procedimento para apurar e elucidar todas as circunstâncias do caso, que será rigorosamente investigado. "As imagens do circuito de segurança, que mostram um ato covarde, estão sob análise e integram os elementos considerados na apuração em andamento", afirmou a nota. Segundo a PMDF, o militar foi imediatamente afastado do serviço operacional e teve o seu porte de arma suspenso. "A PMDF repudia todo tipo de violência, especialmente contra mulheres, considerando que o enfrentamento à violência de gênero é uma das prioridades da corporação", ressaltou o texto. O caso está sendo investigado pela 12ª Delegacia de Polícia.
Tolerância reduzida
Psicóloga clínica e neuropsicóloga pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação de Portugal (IPAF), Juliana Gebrim afirmou que os condutores do DF estão expostos a uma série de fatores locais que aumentam significativamente o estresse no trânsito, favorecendo discussões e até brigas. "Grande parte das obras e intervenções, como construções de viadutos e recapeamento de pistas, é realizada em horários de tráfego intenso, alterando trajetos, provocando congestionamentos inesperados e gerando frustração", pontuou.
Segundo a especialista, para algumas pessoas, essa imprevisibilidade ativa o sistema de alerta no cérebro, aumentando a irritabilidade e reduzindo a tolerância. Outro aspecto destacado por Juliana foi a "cultura local" de dirigir em alta velocidade nas vias largas e rápidas do DF. "Essa característica alimenta a impaciência e incentiva imprudências, pois muitos condutores se sentem 'donos da pista', reagindo de forma mais agressiva e desatenta quando encontram lentidão ou bloqueios.
A neuropsicóloga ressaltou que, para lidar melhor com essas situações, é fundamental adotar práticas que contribuam para o autocontrole emocional, como planejar o horário de saída com antecedência, praticar técnicas de respiração e relaxamento, além de ouvir músicas tranquilas durante o trajeto. "Tudo isso pode reduzir o estresse e ajudar a manter a calma em situações que, normalmente, podem ser estressantes", avaliou.
Condutores conscientes
O curso Cidadania no Trânsito para estudantes do ensino médio é uma das ações pedagógicas do programa Detran nas Escolas, realizado pela autarquia em parceria com a Secretaria de Educação. Com carga horária total de 90 horas, o curso é dividido em dois módulos: um com 45 horas na 2ª Série e outras 45 horas na 3ª Série do ensino médio. Aproximadamente 850 estudantes, das 14 Coordenações Regionais de Ensino (CRE), já se formaram por meio do projeto. A capacitação busca formar condutores conscientes e capazes de aplicar a legislação e a condução defensiva, colaborando para uma convivência mais harmônica e respeitosa no trânsito.
Cidadania
O Detran-DF entregou, ontem, certificados a 256 alunos da 4ª edição do curso Cidadania no Trânsito, em duas cerimônias, no auditório da autarquia. O curso, direcionado a estudantes do ensino médio, faz parte do processo de habilitação de condutores e é oferecido em escolas públicas do DF como atividade extracurricular. Neste ciclo, 11 escolas participaram do projeto: CED Incra 8 de Brazlândia, Escola Técnica de Santa Maria, CEM 804 do Recanto das Emas, CEM 414 de Samambaia, CEM Setor Oeste, CEMI do Cruzeiro, CEMI de Taguatinga, CEM 1 do Gama, CED 1 do Riacho Fundo II, CEM de 1 Sobradinho e CEM 1 do Paranoá.
Multas mais aplicadas em 2025
1º - Excesso de velocidade: 943.757
2º - Estacionamento irregular: 105.909
3º - Faixa exclusiva: 97.010
4º - Avanço de sinal: 53.636
5º - Uso do celular ao volante: 42.491
6º - Falta do cinto de segurança: 39.486
Total - 1.282.289
*janeiro a junho
Fonte: Detran-DF
Saiba Mais
Violência e covardia no trânsito
A violência no trânsito é outro problema recorrente no DF. Em Taguatinga, um agente da Polícia Militar (PMDF) agrediu uma mulher após uma discussão que teve início enquanto ambos estavam conduzindo seus veículos. O caso ocorreu em 20 de maio, mas as imagens do ato covarde só vieram à tona ontem. Em depoimento à Polícia Civil, a mulher disse que a situação teve início após desentendimento no trânsito. "A situação evoluiu para agressões físicas e dano ao veículo, com posterior furto de pertences deixados no interior do automóvel", afirmou, em nota, a PCDF.
Também por meio de nota, a PMDF informou que o comando da corporação tomou conhecimento da situação somente ontem e que a Corregedoria instaurou procedimento para apurar e elucidar todas as circunstâncias do caso, que será rigorosamente investigado. "As imagens do circuito de segurança, que mostram um ato covarde, estão sob análise e integram os elementos considerados na apuração em andamento", afirmou a nota. Segundo a PMDF, o militar foi imediatamente afastado do serviço operacional e teve o seu porte de arma suspenso. "A PMDF repudia todo tipo de violência, especialmente contra mulheres, considerando que o enfrentamento à violência de gênero é uma das prioridades da corporação", ressaltou o texto. O caso está sendo investigado pela 12ª Delegacia de Polícia.
Tolerância reduzida
Psicóloga clínica e neuropsicóloga pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação de Portugal (IPAF), Juliana Gebrim afirmou que os condutores do DF estão expostos a uma série de fatores locais que aumentam significativamente o estresse no trânsito, favorecendo discussões e até brigas. "Grande parte das obras e intervenções, como construções de viadutos e recapeamento de pistas, é realizada em horários de tráfego intenso, alterando trajetos, provocando congestionamentos inesperados e gerando frustração", pontuou.
Segundo a especialista, para algumas pessoas, essa imprevisibilidade ativa o sistema de alerta no cérebro, aumentando a irritabilidade e reduzindo a tolerância. Outro aspecto destacado por Juliana foi a "cultura local" de dirigir em alta velocidade nas vias largas e rápidas do DF. "Essa característica alimenta a impaciência e incentiva imprudências, pois muitos condutores se sentem 'donos da pista', reagindo de forma mais agressiva e desatenta quando encontram lentidão ou bloqueios.
A neuropsicóloga ressaltou que, para lidar melhor com essas situações, é fundamental adotar práticas que contribuam para o autocontrole emocional, como planejar o horário de saída com antecedência, praticar técnicas de respiração e relaxamento, além de ouvir músicas tranquilas durante o trajeto. "Tudo isso pode reduzir o estresse e ajudar a manter a calma em situações que, normalmente, podem ser estressantes", avaliou.
Condutores conscientes
O curso Cidadania no Trânsito para estudantes do ensino médio é uma das ações pedagógicas do programa Detran nas Escolas, realizado pela autarquia em parceria com a Secretaria de Educação. Com carga horária total de 90 horas, o curso é dividido em dois módulos: um com 45 horas na 2ª Série e outras 45 horas na 3ª Série do ensino médio. Aproximadamente 850 estudantes, das 14 Coordenações Regionais de Ensino (CRE), já se formaram por meio do projeto. A capacitação busca formar condutores conscientes e capazes de aplicar a legislação e a condução defensiva, colaborando para uma convivência mais harmônica e respeitosa no trânsito.
Cidadania
O Detran-DF entregou, ontem, certificados a 256 alunos da 4ª edição do curso Cidadania no Trânsito, em duas cerimônias, no auditório da autarquia. O curso, direcionado a estudantes do ensino médio, faz parte do processo de habilitação de condutores e é oferecido em escolas públicas do DF como atividade extracurricular. Neste ciclo, 11 escolas participaram do projeto: CED Incra 8 de Brazlândia, Escola Técnica de Santa Maria, CEM 804 do Recanto das Emas, CEM 414 de Samambaia, CEM Setor Oeste, CEMI do Cruzeiro, CEMI de Taguatinga, CEM 1 do Gama, CED 1 do Riacho Fundo II, CEM de 1 Sobradinho e CEM 1 do Paranoá.
Multas mais aplicadas em 2025*
1º - Excesso de velocidade: 943.757
2º - Estacionamento irregular: 105.909
3º - Faixa exclusiva: 97.010
4º - Avanço de sinal: 53.636
5º - Uso do celular ao volante: 42.491
6º - Falta do cinto de segurança: 39.486
Total - 1.282.289
*janeiro a junho
Fonte: Detran-DF
%MCEPASTEBIN%