
A segurança pública se fortalece quando a sociedade se engaja, participa e constrói, junto dos órgãos responsáveis, soluções para os desafios cotidianos. Nesse cenário, os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) e a Rede de Vizinhos Protegidos (RVP) se consolidam como algumas das pontes fundamentais entre a população e as forças de segurança do Distrito Federal.
Os Consegs são espaços de diálogo entre moradores, comerciantes, lideranças comunitárias e representantes das polícias Militar e Civil. Nas reuniões mensais, os participantes compartilham demandas, discutem problemas da região e propõem ações conjuntas para prevenir a criminalidade. A troca direta torna a segurança mais democrática, eficiente e próxima da realidade local.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular?
Atualmente, o DF conta com 42 Consegs, 36 em áreas urbanas e seis em áreas rurais. Em 2024, foram realizadas 232 reuniões, com mais de 2,8 mil demandas formalizadas e encaminhadas aos órgãos competentes. Desse total, 88% foram processadas, atendidas ou estão em fase de encaminhamento. Está em estudo a criação de mais seis conselhos: quatro em áreas rurais e dois urbanos.
Só até 20 de junho deste ano, foram promovidas 124 reuniões, que geraram 1.608 demandas e reuniram 3.651 participantes. A Polícia Militar apresentou o maior índice de resolutividade: atendeu a 69,6% das 217 demandas recebidas, principalmente relacionadas ao reforço do patrulhamento em áreas apontadas como críticas pela população.
Para o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, os programas como RVP e os Consegs constituem pilares fundamentais para a construção de uma política de segurança pública mais eficiente, preventiva e participativa. "A atuação ativa da comunidade transforma os moradores em protagonistas de sua própria segurança, ao mesmo tempo em que permite às autoridades desenvolver ações mais precisas e integradas. Ressalta-se, assim, que a segurança pública é dever do Estado, mas também responsabilidade de todos, sendo fruto de uma colaboração permanente entre a sociedade civil e os órgãos públicos", ressalta.
Canal sem burocracia
O subsecretário dos Conselhos Comunitários de Segurança (Subconsegs), Paulo André, destaca que os encontros aproximam o cidadão dos gestores públicos e agilizam respostas que, em canais convencionais, demorariam mais tempo. "O ambiente é de interação. A comunidade fala diretamente com o gestor, evita burocracias e consegue encaminhar questões que antes exigiriam ouvidorias ou ofícios", explica.
Entre os resultados concretos estão mudanças em políticas públicas, como a regulamentação do horário de funcionamento de distribuidoras, tema recorrente nas reuniões. Iluminação pública e perturbação do sossego também estão entre as principais demandas.
As solicitações são registradas em processo formal, encaminhadas aos órgãos competentes e acompanhadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), que monitora a devolutiva à população. Para ampliar o alcance, os Consegs têm criado perfis nas redes sociais. "Queremos dar mais visibilidade. Muitos ainda não conhecem os conselhos. Por isso, cada um está ganhando uma conta no Instagram para atrair a comunidade e dar transparência ao processo", afirma o subsecretário.
Os presidentes dos Consegs passam por capacitação semestral para lidar com temas complexos, como população em situação de rua. "O Conseg ajuda a passar sensação de segurança porque mostra o que está sendo feito, dá voz às pessoas e contribui para a formação de opinião", completa Paulo André.

Desafios e mudanças
Na Colônia Agrícola Cabeceira do Valo, na Estrutural, a presidente do Conseg Rural, Nelci Cortes Barbosa, relata que os principais problemas são ambientais: desmatamento, soterramento de minas e prejuízos na vazão do córrego Cabeceira do Valo, fonte de água da comunidade. Ela também destaca a dificuldade de transporte em estradas de terra.
Segundo Nelci, a atuação do conselho trouxe resultados. "Houve queda nas ocorrências de assaltos e melhorias na iluminação pública, o que afastou situações de risco como descarte de lixo e abandono de animais", diz. As reuniões do Conseg da Estrutural ocorrem na primeira quarta-feira do mês, com a presença de 15 órgãos públicos. "Qualquer cidadão pode participar e apresentar sua demanda. Cada uma é registrada em processo SEI, e a resposta deve vir até a próxima reunião", explica.
No Guará, a presidente do Conseg local, Danielle Carvalho, aponta os crimes patrimoniais como principal preocupação: furtos, arrombamentos e roubos. Além disso, há queixas relacionadas ao uso de drogas em locais públicos, festas clandestinas e falhas na iluminação.
Danielle destaca avanços como o aumento do patrulhamento ostensivo e a instalação de câmeras de monitoramento. "A comunidade participa ativamente, colabora com registros fotográficos, relatórios e denúncias. Também promovemos campanhas educativas em parceria com a SSP", afirma.
Em Ceilândia, o presidente Caio Vinicius avalia que a maior cidade do DF apresenta demandas diversas. "Ainda há ocorrências com população em situação de rua, pequenos furtos, roubos de fios e tampas de esgoto. O policiamento na madrugada é uma das principais queixas", relata.
Apesar dos desafios, Caio ressalta a força da atuação conjunta. "A comunidade percebe melhorias com relação à sinalização de faixas, podas de árvores e policiamento. Muitas pessoas não sabiam onde reclamar. Agora sabem que podem contar com o Conseg para agilizar as soluções."
Além das reuniões, os Consegs também promovem treinamentos, oficinas e parcerias com outros órgãos, como o Conselho Tutelar. "Queremos levar informação e capacitação para a população enfrentar questões ligadas à segurança com mais preparo", conclui.
Cada Conseg conta com a presença de representantes do Estado, como o administrador regional, delegado da delegacia local, comandantes da PM e dos Bombeiros, além de integrantes do Detran, DER, Agefis, SEDHS, SSP, Coordenação Regional de Ensino e Batalhão Escolar. Também participam a diretoria do conselho, lideranças comunitárias e qualquer cidadão da região.
Segurança colaborativa
A Rede de Vizinhos Protegidos (RVP) é uma estratégia de policiamento comunitário baseada na cooperação entre moradores e a Polícia Militar. A ideia é criar uma rede ativa, em que os vizinhos compartilham informações por meio de grupos de mensagens, avisam sobre movimentações suspeitas e promovem práticas de autoproteção.
O tenente Michello Bueno, da PMDF, destaca que a comunidade tem papel fundamental no sucesso da iniciativa. Apenas na Asa Norte, há mais de 15 grupos com pelo menos mil membros cada. "A população, junto com a polícia, é muito mais forte. Esses grupos ajudam a prevenir crimes, identificar suspeitos e agilizar o atendimento", afirma.
Segundo ele, os grupos funcionam como um canal direto com os policiais. "Quando algo suspeito é relatado, a viatura é acionada em tempo real. Isso aumenta a eficiência do policiamento e a sensação de segurança."