
O presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra) e vice-presidente executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Jamal Bittar, foi o entrevistado do programa CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Às jornalistas Ana Maria Campos e Samanta Sallum, ele destacou que as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o tarifaço de Trump, têm forte motivação política e podem afetar diretamente as exportações do Distrito Federal para o mercado americano. Bittar explicou sobre os impactos esperados para os empresários do DF, e os riscos de uma escalada diplomática com possíveis medidas de reciprocidade. Para ele, o momento exige cautela, mas também firmeza na defesa do setor produtivo brasileiro.
Como está a situação diante do tarifaço que entrará em vigor amanhã?
Não é preciso nem destacar o quanto esse tarifaço é importante para o setor industrial brasileiro. O que tem prevalecido, infelizmente, é a incerteza e a insegurança. Não temos ainda o jogo claramente definido. O relacionamento histórico que sempre defendemos, os mais de 200 anos de relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, não estão sendo considerados neste momento. As decisões tomadas têm sido muito personalistas, carregadas de um contexto político bastante indesejável para este tipo de questão.
Os empresários percebem que a decisão do presidente Trump tem motivação política mais do que econômica?
Sem dúvida. A percepção é clara e, inclusive, foi manifestada pelo próprio presidente americano. A carta que ele enviou tem um teor absolutamente político, embora também represente um ataque direto à economia. O impacto econômico é muito relevante. É uma ação política disfarçada, camuflada sob argumentos econômicos. Tudo está muito contaminado por ideologia.
A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro pode afetar essa relação?
Sim, é possível. Até o momento, não houve nenhum gesto mais explícito de retaliação adicional, mas isso pode acontecer a qualquer momento. O governo federal, especialmente através do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, tem atuado de forma adequada. Empresários brasileiros que mantêm relações com parceiros americanos têm tentado preservar esses laços comerciais, porque há uma complementaridade real entre nossos produtos e a cadeia produtiva dos EUA. Não estamos falando apenas de produtos finais, mas de insumos importantes para a manufatura americana. Se a motivação política continuar a prevalecer, não podemos descartar retaliações. Ainda assim, esperamos que o bom senso prevaleça.
Em relação ao Distrito Federal, o tarifaço afeta 90% das exportações locais para os EUA. Como avalia esse impacto?
Embora o volume das exportações do DF para os EUA seja pequeno, nós estamos falando de um negócio de US$ 8 milhões. Você atinge empresas que precisam muito do mercado americano. Algumas delas têm mais da metade de seu faturamento dependente desse mercado. Eu defendo sempre que, se atinge um, atinge muita gente. Não pode desqualificar nem minimizar questões que atingem uma só empresa ou duas. A federação está à disposição desses empresários. Não fomos procurados ainda, exceto algumas abordagens. Isso se deve à indefinição atual. As negociações vão definir o grau de dificuldade. Estamos falando deste terremoto como se estivesse existido há um ano. É algo que surgiu há apenas 15 dias. Não houve tempo ainda sequer para quantificar com exatidão. O cenário é incerto. Pode haver revisão.
Quais são os principais produtos exportados do DF para os EUA?
Temos alguns alimentos e produtos derivados da indústria alimentícia que são enviados para os Estados Unidos. Em termos de proteína animal, nossa produção é majoritariamente exportada para países como a Arábia Saudita e a China, então não seremos tão afetados nesse aspecto. A nossa importação é quase 40 vezes maior. Nós exportamos US$ 8 milhões e importamos US$ 300 milhões no DF. Aplicada uma Lei de Reciprocidade, que já é aprovada, aguardando a efetivação ou não do seu uso, quem perderia mais é o exportador americano.
O DF passaria a importar de outros países?
Com certeza. Não é nem um pouco desprezível US$ 300 milhões de exportação. E, naturalmente, se esse preço, em uma aplicação de reciprocidade, ficar desequilibrado, é natural procurar outros mercados. O DF é um grande importador.
O senhor acredita que o Brasil deve adotar alguma forma de retaliação?
A palavra retaliação está sendo evitada em todos os ambientes. Não sei se politicamente seria o adequado. Eu, particularmente, acredito que quanto menos se provocar alguém tão instável e complexo como o presidente americano, melhor. Prefiro chamar de política de reciprocidade, e não de retaliação. É uma forma de equilibrar a relação comercial e, principalmente, proteger o consumidor brasileiro.
*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
Saiba Mais
Cidades DF
Cidades DF
Cidades DF
Cidades DF