MEIO AMBIENTE

Pais deixam legado de sustentabilidade e consciência ambiental para filhos

Estimular valores e hábitos relacionados à consciência ambiental é, para muitos pais, a oportunidade de semear um futuro melhor para os filhos, onde conexão e o respeito com a natureza são parte do cotidiano familiar

  Uirá comprou um triciclo para passear com a família. Na foto, Iuri e a avó Maria de Lourdes.  -  (crédito:  Arquivo Pessoal)
Uirá comprou um triciclo para passear com a família. Na foto, Iuri e a avó Maria de Lourdes. - (crédito: Arquivo Pessoal)

Fazer trilhas, acampar e tomar banho de cachoeira. Assim cresceu o biólogo e consultor socioambiental João Álvaro Pantoja, 32 anos, cujo contato com a natureza vem do berço e, agora, é transmitido ao filho Noah, 5. Apesar de desafiador, criar uma criança é, para ele, a oportunidade de semear um futuro mais consciente, saudável e regenerativo para todos

"Em um mundo marcado por crises socioambientais, excesso de estímulos digitais e fragilidade das relações humanas, é fundamental cultivar, desde cedo, a conexão com a natureza, o consumo consciente, a empatia, o pensamento crítico e o respeito à diversidade", descreve João. Foi junto ao pé de ipê que o biólogo plantou o cordão umbilical de Noah, cortado por ele. 

Nos primeiros anos de vida, o pequeno já passeava em parques e áreas verdes, colocava os pés na terra e banhava em rios e cachoeiras. "Aos poucos, fomos ensinando de onde vem o alimento que comemos, a água que bebemos, o canto dos pássaros, a sombra das árvores. Além de o educarmos sobre o local correto de destinação dos resíduos. Com uma composteira em casa, para rejeitos orgânicos, incentivamos Noah a nos ajudar a separar o lixo e vamos juntos aos pontos de coleta seletiva", detalha o consultor socioambiental. 

  •   João Pantoja e o filho Noah em Aldeia Multiétnica na Chapada dos Veadeiros
    João Pantoja e o filho Noah em Aldeia Multiétnica na Chapada dos Veadeiros Arquivo Pessoal
  •   João Pantoja e o filho Noah fazendo o manejo de uma fossa ecológica e de uma composteira
    João Pantoja e o filho Noah fazendo o manejo de uma fossa ecológica e de uma composteira Arquivo Pessoal

Com o objetivo de criar o pequeno em uma realidade sustentável, João e a esposa se mudaram, há três anos, para a Chapada dos Veadeiros (GO), onde, desde então, têm proporcionado a Noah contato constante com a natureza e com as comunidades tradicionais, como o quilombo Kalunga. No Parque Nacional, o biólogo se tornou condutor de visitantes em unidades de conservação.

Juntos, pai e filho plantam mudas de árvores nativas do Cerrado, frequentam feiras locais e participam de programações de educação ambiental. "Sustentabilidade é atender suas necessidades sem comprometer as necessidades das próximas gerações. Então ir para trilhas com ele, observar, sentir e se conectar com a natureza é uma das melhores formas de dar sentido e despertar o cuidado com Noah, pois quem ama cuida, e só cuidamos e amamos aquilo que conhecemos. Daí a importância de conhecer para preservar", declara.

  • Bruno e Maruan são parceiros de aventuras na natureza
    Bruno e Maruan são parceiros de aventuras na natureza Arquivo pessoal
  • Bruno e Maruan são parceiros de aventuras na natureza
    Bruno e Maruan são parceiros de aventuras na natureza Arquivo pessoal
  • Bruna Corrêa e o filho Maruan em trilha ecológica
    Bruna Corrêa e o filho Maruan em trilha ecológica Arquivo Pessoal

Amor em ação

A paternidade é, para João, transformação e, assim como a natureza, está em constante movimento, passando por ciclos e renascimentos. "Ele (Noah) me lembra que somos exemplos o tempo todo. Portanto, nossas atitudes, o ambiente que criamos, os limites e os estímulos que oferecemos moldam profundamente sua forma de ser. Ser pai é amor em ação", resume.

Assim como João Álvaro, o jovem Bruno Corrêa, 28, despertou interesse pelo meio ambiente ainda na infância, envolvendo-se desde cedo em discussões sobre o cerrado junto à mãe, antropóloga. Pai de Maruan Augusto, 6, o biólogo e mestre em zoologia, ensinou que o natural é justamente estar imerso no cerrado, cuidando do ambiente que o circunda. 

"Busco estimular a curiosidade de meu filho sobre assuntos ligados ao meio ambiente, levando-o ao zoológico e praticando a educação ambiental que me foi ensinada. Com isso tudo, Maruan é uma criança sedenta por aprender e sempre fica feliz de viajar para o mato. Ele é apaixonado pelas paisagens, por cachoeiras e pelos bichos", conta Bruno, que é diretor técnico do Museu do Cerrado. 

Quem lida com questões ambientais está acostumado, segundo o jovem pai, a pensar constantemente no futuro. Depois da paternidade, porém, essa preocupação tornou-se ainda maior. "Vivemos em um mundo com acesso a muitas informações, ainda mais vivendo em centros urbanos. Por isso, quero sempre poder estimulá-lo a pensar de forma crítica, oferecendo as ferramentas necessárias para que ele se desenvolva bem", diz.

 Uirá Lourenço com os filhos Cauã (à esquerda) e Iuri e a esposa Ronieli Barbosa. Companheiros de pedal
Uirá Lourenço com os filhos Cauã (à esquerda) e Iuri e a esposa Ronieli Barbosa. Companheiros de pedal (foto: Arquivo Pessoal)

Companheiros de pedal

Sabe-se que o apego pelo ciclismo é verdadeiro quando não faltam opções de meios de transporte, mas o escolhido é justamente a bike! Foi assim com Uirá Lourenço, 46, que, ainda na faculdade de biologia, decidiu tirar a poeira da bicicleta, encostada na garagem, para ganhar as ruas de São Paulo. Cansado dos congestionamentos e dos dias de rodízio de veículos, ele testou ir para as aulas sobre duas rodas e, a partir dali, a amizade entre o então estudante e a 'magrela' foi selada. 

"Com a bike o trajeto era muito mais rápido, e o caminho, gostoso. Foi paixão ao primeiro pedal. Dali, foi um pulo para vender o carro. Morei em outros lugares depois da universidade, como Suíça, Alemanha e Vitória (ES), e o hábito permaneceu. Quando me mudei para Brasília, decidi continuar me locomovendo dessa forma e, desde então, não comprei mais carro", conta o servidor público. 

Quando veio a notícia — surpresa — de que a esposa, Ronieli Barbosa, 44, esperava o primeiro filho do casal, foi preciso convencê-la de que levar a criança na cadeirinha da bike era uma boa e segura opção, bastava se adaptar. "Ela olhava com desconfiança para essa possibilidade. Eu tentava dar aquela 'enrolada' e dizia que se, realmente, precisássemos de um carro, iríamos comprá-lo. A persuasão deu certo e, na segunda gestação, eu a levava para todos os cantos na garupa da bicicleta", recorda Uirá, que trabalha com gestão ambiental. 

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Cauã, 17, e Iuri, 16, cresceram na Asa Norte e, sobre duas rodas, conheceram a capital. Primeiro, nas cadeirinhas das bikes dos pais, e depois, nas próprias bicicletas. Para Iuri, além de ser uma atividade saudável, o pedal é aliado do meio ambiente, já que diminui a poluição sonora, visual e atmosférica causada pelos demais transportes.

"A cidade parece mais viva com pessoas caminhando e pedalando nas ruas. É uma ótima oportunidade de sair de casa e relaxar", define o caçula. "Minhas melhores lembranças são dos passeios de bike pela cidade com minha família, onde podemos conversar e passar um tempo bom juntos", completa o caçula. 

Companheirismo é a palavra que, para Uirá, define a relação com os filhos Cauã e Iuri. "Meu objetivo, como pai, sempre foi formar o caráter dos meninos para serem pessoas boas e que possam, de alguma forma, fazer a diferença no mundo. Claro que a parceria vai além do pedal, mas este é nosso maior laço", declara. 

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postado em 10/08/2025 11:00 / atualizado em 10/08/2025 11:13
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