
Nas quadras 700 da Asa Norte, uma insegurança crescente tem afetado a rotina e o bem-estar de moradores e trabalhadores. Com episódios frequentes de arrombamentos de veículos, furtos e abordagens suspeitas, o medo tomou conta das quadras 702/703 Norte. Eles denunciam, ao menos, 10 arrombamentos de carro na primeira semana de agosto, quatro deles em um único dia. Os criminosos, segundo relatos, parecem agir de forma metódica, escolhendo as vítimas a dedo.
Uma das vítimas foi a advogada Renata Tavares, 37 anos, na manhã de 7 de agosto, enquanto trabalhava em uma loja na quadra. "Meu carro foi arrombado por um morador de rua. Estacionei em frente a um prédio e, posteriormente, recebi a gravação da câmera de segurança. O indivíduo quebrou o vidro traseiro e tentou forçar o banco para acessar o porta-malas, mas não conseguiu levar nada", conta.
Apesar de não ter tido bens furtados, houve o prejuízo com o conserto e o forte impacto psicológico. "Em apenas dois meses, conheci ao menos três pessoas que tiveram seus carros arrombados na região. Os relatos são parecidos: foi plena luz do dia, em vias movimentadas".
Renata aponta a ausência de patrulhamento e o aumento da presença de pessoas em situação de rua na região. "A quadra está perigosa mesmo durante o dia. A sensação de insegurança é constante. Não percebo presença de patrulhamento. A sensação é de abandono. As pessoas evitam falar com desconhecidos, estão receosas até para sair do carro. A situação está insustentável", reclama Renata.
A gerente administrativa Ana Paula Carvalho, 46, moradora de Vicente Pires, trabalha na 702/703 Norte e também teve o carro arrombado em 30 de julho, perto das 20h. O prejuízo ultrapassou R$ 3 mil. "Furtaram roupas e sapatos. Conforme as câmeras de segurança, um homem em situação de rua permaneceu nas proximidades por horas, chegando a abordar um colega de trabalho meu pedindo cigarro. Depois, foi ele quem arrombou meu carro. Em algumas ocasiões, permaneço no trabalho até às 21h, colocando em risco não apenas os meus bens materiais, mas também a minha própria integridade física e vida", lamenta.
Ana Paula registrou boletim de ocorrência, mas está frustrada com as autoridades. "Conheci dois moradores e cinco trabalhadores que passaram por essa situação. Eu me sinto extremamente desprotegida e vulnerável diante de um cidadão bandido que circula livremente colocando em risco minha segurança e a de outros cidadãos".
Quem mora na quadra também sente o impacto da criminalidade. A bancária Naillee Albuquerque Galeão, 44, vive há mais de uma década na 702/703 Norte e afirma que nunca viu nada parecido. "Sempre achei a região segura. Por ser uma quadra com muitas escolas, perto do Colégio Militar e da 5ª Delegacia de Polícia, eu me sentia tranquila. Mas a situação mudou drasticamente", diz Naillee. Ela teve o carro arrombado na madrugada de um sábado, 2 de agosto. O criminoso levou um chinelo e uma canga, além de ter jogado uma pasta com vários exames da vítima na esquina.
Ela observa a mudança recente com preocupação. "Os arrombamentos e a presença de moradores de rua e usuários de drogas são recentes. Tive conhecimento de mais três carros arrombados em apenas quatro dias. A insegurança é real. Muitos assaltos, invasão de imóveis comerciais, furto de cabos de energia. Está ficando difícil viver aqui."
Policiamento
O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, tenente-coronel Michello Bueno, reconhece os desafios, mas destaca que ações estão sendo adotadas. "Na 700 Norte, nós temos um problema social. Há pequenas invasões onde se concentram usuários de drogas, e esses usuários cometem pequenos furtos, como de placas de carro, maçanetas e tampas de bueiro. A quadra tem muitos problemas de iluminação, o que é provocado pelos próprios usuários. Eles danificam os postes de luz para deixar o local mais escuro (para eles)", detalha.
Apesar das queixas da população, o comandante afirma que o cenário está mudando. "A população, agora, está começando a se sentir mais segura, está elogiando o policiamento e vendo os resultados. Estamos combatendo o tráfico de drogas, usando cães farejadores e aumentando o policiamento em pontos estratégicos", conclui.
Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) mostram que entre janeiro e julho de 2025, a Asa Norte registrou queda em alguns crimes e aumento em outros, na comparação com o mesmo período de 2024. Os roubos a transeunte caíram de 163 para 144, redução de 11,6%. Já o roubo de veículo passou de quatro para cinco casos, alta de 25%, enquanto o roubo em coletivo diminuiu de três para um registro, queda de 66,7%. Os roubos em comércio também tiveram retração, de 12 para sete casos, o que representa menos 41,7%. Não houve registro de roubo em residência nos dois períodos.
Nos furtos, o cenário é misto. O furto em veículo apresentou queda significativa, passando de 573 para 443 ocorrências, o que representa 22,7% a menos. Em contrapartida, o furto a transeunte aumentou de 40 para 54 casos, alta de 35%.
Colaborou Carlos Silva
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
Saiba Mais
Dicas de segurança
Para evitar furtos e arrombamentos em veículos, deve-se:
» Não deixar objetos no carro;
» Evitar estacionar em locais ermos e escuros;
» Ter sistemas de segurança no veículo.
Fonte: tenente-coronel Michello Bueno
Cidades DF
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