Segurança pública

Mulheres na PM: um toque feminino na linha de frente

Elas enfrentam o crime, salvam vidas e quebram barreiras em uma corporação majoritariamente masculina, mostrando que o destemor e a sensibilidade cabem na mesma farda

Soldada Maria, única mulher a concluir o curso de formação do BPChoque -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Soldada Maria, única mulher a concluir o curso de formação do BPChoque - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Na linha de frente do combate ao crime, há um brilho que vem da força e da determinação de mulheres que escolheram proteger vidas. Elas carregam no peito a mesma coragem de quem empunha um escudo e, ao mesmo tempo, a sensibilidade capaz de confortar uma vítima em meio ao caos.

As policiais militares do Distrito Federal desafiam estereótipos todos os dias. Estão nas ruas, nas viaturas, nas operações de alto risco, encarando o perigo com firmeza e levando empatia aonde a violência tenta apagar a esperança. Entre sirenes e ocorrências, provam que a segurança pública não é território exclusivo dos homens, mas uma vocação.

Desde janeiro do ano passado, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) é comandada pela coronel Ana Paula Barros Habka, a segunda mulher a ocupar o cargo. De acordo com a corporação, atualmente o efetivo é formado por 1.464 mulheres e 9.183 homens, ou seja, elas representam 13% da força de trabalho.

Aos 36 anos, e há sete anos e quatro meses na PMDF, a tenente Jaqueline Teixeira se inspirou no irmão, também policial militar, para seguir a carreira. "Foi ele quem me incentivou a fazer o concurso e servir na corporação", conta.

 Soldada Maria, Soldada Amanda(escudo) eTenente Jaqueline Teixeira.
Soldadas Maria (E) e Amanda (C) e tenente Jaqueline Teixeira (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O Curso de Formação de Oficiais, com três anos de duração, foi um divisor de águas. "Foi muito desafiador. Exigiu disciplina, resiliência e comprometimento. Aprendi muito, mas o principal foi me preparar para lidar com situações complexas, algo que aplico tanto na vida profissional quanto na pessoal."

Trabalhar na polícia não era um sonho antigo. "Nunca havia passado pela minha cabeça ser policial. Hoje, não me vejo fazendo outra coisa. Amo o que faço e tenho orgulho de servir à sociedade", afirma. Depois de um dia exaustivo, o sentimento é de dever cumprido. "Por mais cansativo que seja, é gratificante saber que meu trabalho ajudou a combater a criminalidade, a salvar vidas e a ajudar o próximo."

Para Jaqueline, a presença feminina na PMDF representa uma quebra de estereótipos. "Traz sensibilidade, empatia e capacidade de mediação, sem abrir mão da força e da técnica."

Entre as ocorrências marcantes, ela cita as que envolvem crianças ou pessoas em vulnerabilidade. "O mais difícil foi um caso de estupro de vulnerável cometido pelo padrasto. Apesar de estarmos em serviço, somos humanos e sentimos empatia."

O maior desafio é não saber se vai voltar para casa. "Temos o dever de servir e proteger, mesmo com o sacrifício da própria vida. Cada dia é diferente e o serviço é sempre dinâmico."

Jaqueline deixa um recado para quem sonha em vestir a farda: "A força da mulher vai muito além do físico. É possível liderar e proteger com firmeza e humanidade. É um caminho que exige dedicação e coragem, mas a recompensa é imensa. Se esse é o seu sonho, lute por ele, a farda também foi feita para você, mulher."

Resistência

Aos 26 anos e há cerca de um ano na corporação, a soldada Hanna Maria carrega nas mãos as marcas do Curso do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque), com 60 dias de duração. Foi a única mulher a concluí-lo. "Desistir nunca foi uma opção", afirma.

Ser policial é algo que a faz vibrar. "Essa é a profissão que faz meus olhos brilharem. É muito mais do que as pessoas imaginam: é resiliência, é saber que somos capazes e que alguém acredita nessa capacidade. Não é sobre ser um 'policial herói', mas, muitas vezes, a única esperança de alguém."

Para ela, a presença feminina na segurança pública mostra avanço. "Nós, mulheres, conquistamos espaço. As situações que me marcam mais são as que envolvem crianças. É emocionante ouvir que somos inspiração para alguém tão pequeno."

Soldada Maria. Única mulher a concluir o curso de formação.
Soldada Maria, única mulher a concluir o curso de formação do BPChoque (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Aos 35 anos e há quatro na PMDF,  a soldada Amanda Karollynne Batista se inspirou em mulheres policiais para seguir a carreira. "Conheci alguns policiais militares que me encantaram pelo profissionalismo, coragem e senso de missão."

O curso de formação foi intenso. "Morava sozinha, sem apoio familiar próximo e precisei conciliar estudos e treinamentos com demandas pessoais. Aprendi sobre resiliência, superação e disciplina, valores que levo para a vida."

Não era um sonho de infância, mas se tornou destino. "Fui a primeira da família a ter nível superior e a passar em um concurso público. Hoje, vestir essa farda é um orgulho imenso."

A presença feminina na polícia, segundo Amanda, é fundamental. "Além da competência técnica, trazemos sensibilidade e perspectivas diferentes para a resolução de conflitos. Segurança pública é um dever e um direito de todos, sem barreiras de gênero."

O momento mais marcante foi o 8 de Janeiro. "Coloquei em prática todo o aprendizado do curso de operações de choque. Foi histórico para o país e um divisor de águas na minha carreira."

Força

Com 35 anos e seis de corporação, a cabo Laís Ribeiro atua no Batalhão de Policiamento Rural e equilibra a vida de militar, mãe e dona de casa. "No curso de formação, sofri preconceito por me acharem delicada demais. Descobri uma força que não sabia que tinha", relata.

A Cabo Laís Ribeiro, de 35 anos
A cabo Laís Ribeiro, de 35 anos (foto: Arquivo Pessoal )

Para ela, o papel da mulher é essencial. "Em momentos de pressão, conseguimos usar mais a razão do que a emoção. E, nas abordagens femininas, a presença de uma policial é indispensável."

Um dos casos mais marcantes foi impedir que um homem matasse a esposa e a filha, que era abusada por ele. "Fui a única policial com quem a vítima quis falar. Esse é o verdadeiro sentido do nosso trabalho." Conciliar a maternidade é o maior desafio. "Não saio de casa sem orar por mim e pelos meus colegas. Tenho uma filha de 3 anos me esperando e preciso voltar inteira para cuidar dela."

Aos 41 anos e 11 de PMDF,  a sargento Lígia Jorge seguiu os passos dos irmãos. Para ela, a presença feminina na corporação é essencial e estratégica. "Não é só representatividade, é necessidade real para tornar as instituições mais humanas e eficazes."

O momento mais desafiador foi o curso de especialização, que exigiu o afastamento da família. "Foi um teste de disciplina, autocontrole e resiliência." Aos jovens que sonham em entrar na PMDF, ela deixa um conselho: "Vai ser difícil para todo mundo. Mas, se o seu sonho é vestir a farda, proteger vidas e servir com honra, vale a pena vivê-lo com força e coragem."

Lígia e Laís
Sargento Lígia e cabo Laís (foto: Arquivo Pessoal )

 

  • Google Discover Icon
postado em 18/08/2025 04:00 / atualizado em 18/08/2025 15:16
x