
Por mais de dois meses, uma farmácia de manipulação no Noroeste foi alvo de uma golpista que, com comprovantes falsos de Pix, conseguiu levar produtos no valor de R$ 9 mil. Tainá Monteiro Neves, 35 anos, fingiu ser cliente e, pelo WhatsApp, solicitava os pedidos em nome de terceiros. O crime foi descoberto após uma investigação interna na empresa. A fraude é mais uma no leque de golpes que começa no ambiente virtual, onde a agilidade das transações e a dificuldade de rastreamento favorecem a ação de estelionatários.
O alvo de Tainá eram garrafas térmicas de uma marca renomada — a unidade custa de R$ 200 a R$ 400. Para driblar a conferência de pagamentos, ela usava nomes e telefones diferentes nos pedidos pelo WhatsApp, inclusive, o dela mesma. A estratégia de pagamentos era calculada. "Quando a compra é via Pix, usamos uma plataforma para enviar um link, por meio do qual o cliente paga e podemos verificar. Mas ela, como tinha a chave do nosso Pix, enviava o comprovante falso antes mesmo de as funcionárias enviarem o link de pagamento. Então, tínhamos a crença de ser cliente antiga", relatou, ao Correio, a dona da farmácia, Flávia Ribeiro.
O setor financeiro da empresa descobriu um padrão e constatou a fraude. O caso foi registrado na polícia em 23 de julho. Na semana passada, Tainá tentou aplicar o golpe novamente, para obter três garrafas. Ao ir buscá-las, foi presa em flagrante. "Acionamos a polícia e achávamos que ela tinha descoberto, pois não respondia às mensagens e estava demorando a aparecer. Mas deu certo", contou Flávia.
A ficha criminal da golpista inclui 13 ocorrências semelhantes. Entre elas, um golpe aplicado em uma clínica de estética do Lago Sul, onde fez procedimentos de R$ 35 mil sem pagar. Apesar disso, a Justiça concedeu a liberdade a Tainá e impôs medidas cautelares.
Golpe em expansão
Casos como esse se multiplicam no país e atingem vítimas de todas as idades, sobretudo idosos. O delegado-chefe da Delegacia de Combate aos Crimes Cibernéticos (DRCC), João Guilherme, explica que a engenharia social adotada pelos criminosos — narrativas elaboradas para enganar — é carregada de emoção, recheada de detalhes e convincente. "No golpe do WhatsApp, por exemplo, o estelionatário cria um perfil falso e se passa por um familiar para pedir dinheiro. A vítima, acreditando estar ajudando um parente em apuros, transfere quantias elevadas que dificilmente serão recuperadas."
De acordo com o investigador, criminosos têm usado o chamado sistema VoIP (Voz sobre IP), tecnologia capaz de fazer chamadas telefônicas usando a internet em vez das linhas telefônicas tradicionais. "Eles colocam o número da própria vítima, ou de um banco, no caso do golpe da central de atendimento, por exemplo, e conseguem ludibriar", destaca.
As investigações também se concentram no combate à matéria-prima dos golpes: o vazamento de dados pessoais. Há plataformas clandestinas que vendem informações confidenciais, como CPF, RG, nomes e telefones de familiares. "As pessoas físicas tendem a ser o alvo dos estelionatários, porque conseguir os dados é mais fácil, embora pessoas jurídicas também sofram com esse tipo de crime", acrescenta.
Alisson Possa, professor de direito digital do Ibmec Brasília, explica a evolução dos golpes virtuais, que combinam o uso de dados pessoais com a conquista da confiança, fazendo as vítimas acreditarem que estão em contato com uma empresa real. "Os golpes mais famosos envolvem contatos via WhatsApp ou ligação telefônica, nas quais os criminosos se passam por empresas famosas e, com base em informações reais, induzem as vítimas a realizarem transferências e pagamentos. Outro golpe famoso são as 'ofertas imperdíveis' por redes sociais ou e-mail, nas quais o consumidor é direcionado a um site que replica exatamente a empresa/marca original, sendo induzido a fazer compras falsas."
Saída
Após o golpe, a empresária Flávia Ribeiro padronizou o serviço via Pix. "Agora, só efetuamos a venda dessa forma quando a nossa funcionária envia o link de pagamento ao cliente", afirma. O protocolo é o mesmo adotado por Victor Melo Bijos, 29, dono da Pure Pizza, no Guará 2, para evitar possíveis golpes.
O empresário trabalhava somente com delivery e não tinha um sistema que garantisse a segurança para pagamentos via Pix. A partir de 2022, com a abertura da loja física, optou pelo investimento de R$ 399 mensal. "O sistema que uso só autoriza o pedido após a transação pelo link. Conseguimos ver a entrada do dinheiro na hora. Não vejo como um gasto, mas como investimento. Coloquei para não correr o risco de não receber", afirma.
O professor Alisson dá algumas dicas. Uma delas é estar atento a qualquer tentativa de cobranças via WhatsApp ou ligação. "O ideal é sempre buscar a empresa diretamente por meio dos sites ou aplicativos oficiais para verificar a veracidade das cobranças. Para os golpes de sites falsos, é importante verificar se o endereço do site é realmente o oficial." Ao perceber que caiu em uma armadilha, o primeiro passo, segundo ele, é entrar em contato com o banco para relatar o caso e solicitar a devolução dos valores transferidos para o suposto golpista, além de registrar o boletim de ocorrência.
Três perguntas para
Artigo - Celular: amigo íntimo, perigo oculto
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