Entrevista

Ciência brasileira será mais competitiva com novo marco legal, diz pesquisador

O endocrinologista e diretor do Centro de Pesquisa Clínica do Brasil, João Lindolfo Borges, destacou ao CB.Saúde os avanços em estudos de medicamentos no país

Endocrinologista e diretor do centro, João Lindolfo Borges, no CB.Saúde. Na bancada, Carmen Souza (D) e Sibele Negromonte
       -  (crédito:  Bruna Gaston CB/DA Press)
Endocrinologista e diretor do centro, João Lindolfo Borges, no CB.Saúde. Na bancada, Carmen Souza (D) e Sibele Negromonte - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)

O Centro de Pesquisa Clínica do Brasil conta, atualmente, com 500 pacientes voluntários participando de estudos de novos medicamentos. Endocrinologista e diretor do centro, João Lindolfo Borges participou, nesta quinta-feira (21/8), do CB.Saúde, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte o médico detalhou os estudos vigentes e destacou a importância do marco legal das pesquisas clínicas em seres humanos, sancionado em 2024.

Podemos dizer que Brasília é um polo de produção científica na área de saúde? 

Somos pioneiros no Centro-Oeste. Estão aumentando os centros de pesquisa aqui e nós temos uma qualidade de pesquisa clínica excelente. 

Quais os benefícios para os voluntários que realizam as pesquisas?

Os benefícios são inúmeros. Somos um país continental. O voluntário recebe tudo, as consultas, exames, tratamento, transporte e alimentação. Eles são tratados dignamente e a gente supre algo que o SUS (Sistema Único de Saúde) não dá conta. 

Pode dar um exemplo de pesquisas que o centro tem conduzido e para quais tipos de doenças?

Estamos estudando, desde 2020, a tirzepatida, o famoso mounjaro. Temos ainda estudos para quem tem doença gordurosa no fígado, que estão aumentando conforme a população vai engordando. Fazemos pesquisas sobre puberdade precoce também.

Há pesquisas, também, de drogas experimentais?

Temos novas drogas inovadoras parecidas com o mounjaro, pelo menos umas 10 que estão vindo por aí e estamos pesquisando. Estamos pesquisando as drogas inovadoras e drogas que estão no mercado para indicações inovadoras. Além disso, medicações inovadoras para as quais não há nada parecido. Por exemplo, para puberdade precoce existem medicações, mas nada igual com a mesma eficiência da que estamos pesquisando. 

As pesquisas são todas na área medicamentosa? 

Sim. Nossos voluntários não são cobaias, que é quando a pessoa não sabe do que está participando. Nós damos um termo de consentimento para o paciente, que lê e assina. Ele pode desistir na hora que quiser.

São quantos voluntários ao todo?

Em torno de 500, mas estão aumentando. Temos 32 estudos e mais dez para começar nos próximos seis meses.

Como funciona o suporte às pessoas que estão participando da pesquisa? Há riscos? 

O voluntário sabe o que está acontecendo e sabe os benefícios e riscos. Qual a medicação que não tem risco? Todas as medicações que estão nas farmácias hoje, os benefícios são maiores do que os riscos. Na pesquisa também é assim. Nós conduzimos de perto, temos um telefone 24 horas, sete dias por semana para, caso o paciente tenha uma emergência, entre em contato com a gente. 

Como são identificados os voluntários que estão aptos a participar?

Primeiro, há anúncios permanentes nas redes sociais do Centro de Pesquisa Clínica do Brasil. O segundo é o boca a boca dos pacientes e busca espontânea pelo Google. Eles passam por uma triagem, que é feita por mim em 100% dos casos para verem se tem os critérios de elegibilidade para o estudo. Se eles não estão aptos, tentamos ajudar de alguma forma. 

Eles são submetidos a exames antes de começar o estudo?

Depois de assinar o termo de consentimento, fazemos um check up que é enviado para um laboratório único no mundo. Os exames vão para os Estados Unidos, quando volta, se estiver tudo ok, começamos o estudo. 

Pode acontecer de um estudo que está sendo feito no DF estar sendo feito ao mesmo tempo em outros países?

Sim. No final, é feito um compilado e análise de estatística. Se der certo, vai para agência regulatória para registrar a medicação ou não.

Quando termina o estudo, como ficam os voluntários?   

O voluntário é bem protegido. Quando termina o estudo, se for indicação, ele pode receber medicação até cinco anos depois. 

O governo federal sancionou o marco legal das pesquisas clínicas no Brasil. É um avanço para os pesquisadores?

É um avanço muito grande. Estamos esperando regulamentar, esperamos que aconteça até o fim do ano. Vai ter uma nova instância ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia no lugar da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Falta definir quem serão os membros dessa instância, os pesquisadores querem que sejam pessoas da vida acadêmica com experiência. Serão criados ainda os comitês de ética locais. 

Haverá mais pesquisas em tempos mais curtos? 

Sim. O Brasil se tornará mais competitivo e isso muda o panorama. Vão gerar mais empregos e mais publicações científicas advindas dos estudos. 

Em média, quanto tempo dura um estudo de grande magnitude?

Temos estudos de um ano, de oito anos, mas a média é entre cinco e seis anos. 

O que o senhor destaca de pesquisas com bons resultados feitas pelo Centro de Pesquisa Clínica do Brasil?

Primeiro, as famosas canetas que têm aplicações estéticas, entre outros benefícios. Também trabalhamos com drogas para osteoporose que foram aprovadas. Tem as medicações para fígado gorduroso também. 

Assista à entrevista:

 

 

 

 

 

 

 

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postado em 22/08/2025 05:00
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