
Bartholomeu Cruz Filho viu uma cadeira de dentista pela primeira vez aos 6 anos de idade: era de um primo que também morava em Cuiabá. Na hora, o caçula de 14 irmãos escolheu a profissão que iria seguir. A vida, porém, encarregou-se de mudar o roteiro. Órfão, Bartholomeu foi morar no Rio de Janeiro com a irmã mais velha e ingressou nas Forças Armadas. Um teste psicotécnico feito no Exército voltou a lembrá-lo da encantação da infância. "Deu (que minha aptidão era) para a área de saúde. Eu fiz o curso de cabo para ser padioleiro, seria um auxiliar de enfermagem. Mas, quando fiz o concurso para a Escola de Sargento das Armas (ESA), fui para a infantaria", lembra.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Vou ser dentista
Quando eu tinha 6 anos, vi pela primeira vez uma cadeira de dentista. Perguntei para o meu irmão: "Essa cadeira aqui é de quê?" Ele falou que era de um primo dentista. Aí, eu falei assim: "Vou ser dentista também". Aquilo ficou na minha cabeça. Quando eu tinha 9 anos, era órfão de mãe e morava com o meu pai, olhei para cima e vi um monte de pessoas caindo de um avião. Eu também não sabia o que era. Um amigo falou que eles eram paraquedistas, que vieram fazer uma demonstração do Exército. Aí, pensei comigo: "Vou ser paraquedista".
Desvio de rota
Com 16 anos, meu pai falou para eu ir morar com a minha irmã mais velha no Rio de Janeiro. Terminei o ginásio e, depois disso, já com 18 anos, resolvi servir o Exército. Meu sobrinho, que tinha a mesma idade, falou: "Vamos lá na brigada de paraquedista?" E nós fomos ser paraquedistas. Engraçado que, quando fiz o psicotécnico, deu (que minha aptidão era) para a área de saúde. Eu fiz o curso de cabo para ser padioleiro, que é o cabo de saúde. Seria um auxiliar de enfermagem. Mas, quando fiz o concurso para a Escola de Sargento das Armas (ESA), fui para a infantaria. Mudou completamente, de quem salva para quem mata.
Pouso na física
Com 22 anos, eu me casei. Durante esse período, senti a vontade de ser algo mais. Então, fui fazer o segundo grau ao mesmo tempo em que fazia o curso de aperfeiçoamento de sargento na ESA em Minas Gerais. Depois, fui fazer vestibular para medicina e tirei 4.896 pontos, mas precisava de 5.200. Fui fazer, então, o curso da análise sistema. Eu ia muito bem, mas tranquei porque não pude pagar. Depois, fiz vestibular para física. Passei e meu segundo filho nasceu, ganhei dois prêmios.
Chegada a Brasília
Quando tinha três filhos, em 1981, consegui uma transferência para Brasília. Quando fiz física, passei a ser utilizado no Exército como se fosse um engenheiro na área de física. E, como já tinha conhecido a unidade informática, também trabalhava na informática. Quando vim para cá, me pegaram para ser sargento de informações. Só que fiquei pouco tempo, porque me chamaram para a área de informática. Informatizei, na época, o gabinete do ministro do Exército.
Mergulho no saber
Depois (da graduação em ciências física, da pós-graduação em matemática superior e da especialização em análise de sistemas), estudei o titânio, que, veja só, é uma liga metálica muito utilizada na odontologia, naquele fiozinho que você coloca (na ortodontia). Quando você usa o titânio em uma temperatura em torno de 20, 19 graus, ele é mole. Então, você consegue prender no dente. Quando você fecha a boca, o titânio endurece e puxa o dente para o lugar.
O professor vira aluno
Eu fui para a reserva (no Exército) com 48 anos, como primeiro tenente. Até os 70 anos, ensinei física na rede pública de Brasília. Quando me aposentei, fiz vestibular, de novo, para medicina veterinária, mas tive que pedir trancamento porque a minha esposa tinha feito uma cirurgia e precisei cuidar dela. Depois que ela ficou bem, fui à Universidade Católica para cursar odontologia. Eu pensei: "Vou servir as pessoas que precisam".
A volta do menino
Se eu pudesse, eu ficava o tempo todo lá na faculdade, porque a gente rejuvenesce junto com os alunos. Eu me sentia um menino com meus colegas, a gente vê aquela jovialidade. Eu não gosto de ficar parado, eu não sei ficar parado. Lá em casa, quem pinta a casa sou eu, porque eu preciso fazer alguma coisa. Se eu ficar parado, vou morrer. Eu tenho que estar sempre sendo útil de uma nova forma.
Levar sorrisos
O meu interesse é ser candidato a voluntário (em projetos sociais) para exercer a odontologia. Estou formando a minha equipe. Eu, minha mulher, meus filhos. Eu tenho uma filha médica, tenho neto médico, tenho filho nutricionista e professor de educação física, tenho filho que é bombeiro e biomédico. Minha mulher tem mestrado em biotecnologia. Minha odontologia vai ser feita de forma voluntária, só com atendimentos gratuitos para a população. O lema do projeto é "Levando sorriso para onde for preciso".
Novos objetivos
Acho que estou devendo alguma coisa para Deus, ele me deu tantas coisas, me deu seis filhos, cada um melhor que o outro. Como eu posso agradecer a Deus por isso tudo? Ajudando o próximo. Com essa profissão, eu posso dar um pouquinho do que recebi. No dia do meu aniversário de 69 anos, meu neto falou: "Vô, o que você vai pedir a Deus?" Eu falei: "Saúde e disposição para continuar trabalhando". Nunca paro. Tenho sempre um objetivo a alcançar. Quando você não tiver mais um objetivo, acho que agora é hora de ir.
Cidades DF
Cidades DF
Cidades DF