Mobilidade

Passagens do Entorno mais caras a partir de hoje

A decisão da ANTT, tomada na tarde de ontem, afeta cerca de 380 mil trabalhadores que se deslocam diariamente entre o Entorno e Brasília e terão de arcar com os preços mais elevados a partir de hoje

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) confirmou, na noite desta segunda-feira (22), que o reajuste de 2,9% nas tarifas de ônibus do Entorno do Distrito Federal entrou em vigor a partir da 0h de hoje. A decisão põe fim a uma sequência de suspensões que vinham sendo concedidas desde fevereiro, após pedidos do Governo do Distrito Federal (GDF) e do Governo de Goiás.

A ANTT informou que, apesar dos esforços nos últimos sete meses para apoiar a criação do consórcio interfederativo entre o Distrito Federal e Goiás, ainda não foi apresentada uma versão final e assinada do protocolo. A agência alegou não haver justificativa para nova postergação, sob pena de comprometer o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos e a continuidade do serviço.

Com isso, cerca de 380 mil trabalhadores que se deslocam diariamente entre o Entorno e Brasília terão de arcar com passagens mais caras a partir de hoje. O secretário de Transporte e Mobilidade do DF, Zeno Gonçalves, reconheceu que o momento é delicado e exigirá que o governo trace um novo plano para lidar com a mudança abrupta de cenário, com foco na criação do Consórcio Interfederativo do Entorno (CIRME), que promete gerir e subsidiar o transporte semiurbano na região do Entorno do DF. "Continuamos com as tratativas para a criação do Consórcio", disse.

Entre autoridades do governo de Goiás, o sentimento foi de profunda frustração. "Na última segunda-feira, após validarmos o documento tecnicamente junto à Secretaria de Mobilidade do DF, encaminhamos a minuta para a ANTT analisar e se posicionar. Não tivemos retorno e fomos mais uma vez surpreendidos com a manutenção do reajuste. Infelizmente, vivenciamos mais uma vez a postura insensível em relação aos usuários do Entorno", disse o Subsecretário de Políticas para Cidades e Transporte.

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Na Rodoviária do Plano Piloto, a notícia gerou revolta. Moradora do Pedregal, em Goiás, a doméstica Valdilene Maria da Silva, 45 anos, precisa pegar quatro ônibus por dia — dois na ida e dois na volta. O gasto mensal com transporte compromete quase metade do que costuma receber. "Ganho em torno de R$ 2 mil. Agora, com esse aumento, o que vai me sobrar?", contou.

Fotos: Bruna Gaston CB/DA Press -
Bruna Gaston CB/DA Press -
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Para o jardineiro Sandro Silva, 60 anos, morador de Luziânia, qualquer aumento pode colocar em risco não apenas a renda da família, mas também as oportunidades de trabalho. Além do custo, as condições do transporte também são motivo de indignação. "A qualidade dos ônibus de forma alguma acompanha o preço das passagens. Além de viajarmos em pé grande parte das vezes. Isso sem falar nas vezes que quebram no meio do caminho", desabafou.

Impacto

Para o professor de Economia do Ibmec Brasília, João Gabriel Araújo, o impacto do reajuste vai além dos números. Embora a variação percentual pareça pequena, o efeito sobre o orçamento das famílias que dependem do transporte público é significativo. "Estamos falando de pessoas que vivem com até três salários, muitas vezes pouco acima da média da renda do brasileiro. Para elas, esse aumento é muito caro dentro de um orçamento já comprometido por despesas essenciais", explicou.

O economista também alerta para os reflexos sobre o mercado de trabalho. Parte considerável dos custos de deslocamento é absorvida pelos empregadores, por meio do vale-transporte. "O ganho para o Distrito Federal é praticamente insignificante, mas o peso para famílias e empresas é grande. Isso não favorece nem o Estado, nem a região, apenas as empresas que operam o transporte", afirmou.

Enquanto isso, o consórcio interfederativo, prometido por DF e Goiás, segue em fase de negociação com a União. Agora, os governos das duas unidades da federação aguardam a manifestação da ANTT sobre a minuta do protocolo de intenções encaminhado. Assim que o documento for assinado, o próximo passo é a proposição de projetos de lei a serem encaminhados às casas legislativas.

 


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Veja como ficam alguns valores

Linha Preço Preço
pré-ajuste pós-ajuste

Luziânia/GO - Taguatinga/DF 11,70 12,05

Lago Azul (Novo Gama)/GO - Brasília/DF 11,70 12,05

Planaltina/GO - Brasília/DF 11,02 11,35

Águas Lindas de Goiás/GO - Brasília/DF 10,80 11,15