CIDADANIA

Esporte e cidadania: projetos do DF transformam vidas e constroem futuros

Com incentivo público, iniciativas para jovens em situação de vulnerabilidade social oferecem mais que treino: constroem redes de proteção, oportunidades e futuro para crianças e adolescentes por meio do esporte

Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

No Distrito Federal, o esporte tem ultrapassado o campo para se tornar política pública de proteção social. Iniciativas como a Rede Gol, o Instituto A33 e o Instituto Ceilândia provam que a prática esportiva pode ser um caminho para cidadania, autoestima e oportunidades profissionais. Entre treinos, rodas de conversa e reforço escolar, centenas de crianças e adolescentes encontram nessas instituições uma segunda família.

Criada em 2012, a Rede Gol é coordenada por Deiza Leite, do Instituto Elas Transformam, e atende cerca de 207 meninas e mulheres em polos espalhados pelo DF. Além do futebol, futsal e fut7, o projeto oferece acompanhamento psicológico, rodas de conversa sobre prevenção à violência e apoio educacional.

"Atuamos prioritariamente com meninas, porque sabemos que o esporte ainda é um espaço hostil para elas. Muitas chegam com medo ou insegurança, em contextos de violência ou abandono. O projeto garante não só atividade física, mas acolhimento, alimentação e apoio educacional, o que impacta diretamente no desempenho escolar e na confiança das jovens", explica Deiza.

Amanda Leite, coordenadora geral do Instituto Elas Transformam, detalha o financiamento. "A secretaria é uma grande parceira, tanto pelo apoio logístico quanto pela lei de incentivo ao esporte, que abre portas para editais. Mas nossa trajetória começou de forma simples, com doações de amigos e empresas locais. Hoje conseguimos ter um projeto mais sustentável, mas o desafio financeiro nunca desaparece."

Entre exemplos de superação, está Jéssica Barros, 29 anos, que era adolescente quando começou na Rede Gol. "Encontrei acolhimento e a oportunidade de me profissionalizar. Conquistei títulos, viajei com equipes de base e me tornei a terceira mulher de Brasília formada pela Associação Brasileira de Treinadores. Quero mostrar para outras garotas que elas também podem ocupar esse espaço, mesmo enfrentando preconceito no esporte", conta.

Um dos grandes aliados da Rede Gol e de outros projetos sociais no DF é o Clube Ases-DF, que cede sua infraestrutura para treinos, eventos e atividades educativas. "Sem o apoio do Clube, seria impossível atender tantas meninas e jovens em condições dignas. Eles nos oferecem não só o espaço físico, mas um ambiente seguro e estruturado para desenvolvimento esportivo e social", reforça Deiza.

O presidente do Clube Ases-DF e do SinLazer-DF, Ablleython Ribeiro, compartilha que o clube também é aberto a outros projetos sociais. Além do Rede Gol, o clube já cedeu o espaço para APAE-DF, onde a instituição comemorou seus 59 anos, com quase 400 pessoas usufruindo das quadras e piscinas do local. "E para a gente, é uma alegria tão grande, tem gente que nunca tinha entrado na piscina. Quando você vê as pessoas se divertindo com algo tão simples como uma água fria, rapaz, aquela felicidade contagia", afirma. 

  • Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES
    Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES Arquivo pessoal
  • Participantes do projeto Profut - Futebol para todos, realizado pelo Instituto A33
    Participantes do projeto Profut - Futebol para todos, realizado pelo Instituto A33 Arquivo pessoal
  • Brayan vem de Goiás para participar do Instituto Ceilândia
    Brayan vem de Goiás para participar do Instituto Ceilândia Arquivo pessoal
  • Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES
    Meninas do Instituto Rede Gol de futebol feminino treinam no clube ASES Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Jéssica: acolhimento e a oportunidade de se profissionalizar
    Jéssica: acolhimento e a oportunidade de se profissionalizar Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  03/09/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. ONG Instituto Rede Gol de futebol feminino - treino no clube ASES
    03/09/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. ONG Instituto Rede Gol de futebol feminino - treino no clube ASES Minervino Júnior/CB/D.A.Press

Disciplina e educação 

O Instituto A33, que oferece natação, ginástica, pilates, futebol, jiu-jutsu, handebol e caminhada guiada, coordenado por Yuri Kaioli, atende jovens em situação de vulnerabilidade no DF e entorno, oferecendo disciplina, acompanhamento escolar e perspectiva de futuro. "Muitos chegam sem rotina, sem perspectiva e com dificuldades na escola. Trabalhamos para que cada atleta entenda que o esporte pode abrir portas, mas o mais importante é apoio humano, psicológico e educacional, refletindo diretamente no desempenho escolar", enfatiza o gestor.

Janaine Pereira, mãe de Matheus, 12, e Arthur, 7, que participam do Instituto A33 e do Projeto Bola no chão, livro na mão, vê a diferença no comportamento das crianças. "Eles encontraram um ambiente saudável e de amizade, aprendendo valores importantes. Matheus melhorou na escola e Arthur se tornou mais disciplinado. Saber que eles estão em um lugar que incentiva estudo e esporte me dá tranquilidade", confessa.

O Instituto Ceilândia, gerido por Marcelo Lopes, mais conhecido como Marcelinho, une esporte e educação para oferecer às crianças e adolescentes um espaço seguro. O objetivo, segundo ele, é tirar as crianças da rua, dar a elas um ambiente estruturado e ajudar no desenvolvimento escolar. Com o apoio da Secretaria de Esporte e Lazer, conseguem ampliar as atividades e impactar não só os jovens, mas também suas famílias.

O projeto nasceu da preocupação da comunidade com a vulnerabilidade dos jovens na região. Marcelinho conta que a motivação surgiu ao ver crianças sem oportunidades, muitas vezes expostas à violência e ao abandono. "Queríamos criar um lugar onde elas pudessem se desenvolver, aprender, praticar esportes e construir perspectivas de futuro. O esporte é apenas o início; a verdadeira mudança está em oferecer acompanhamento educacional, psicológico e social para transformar vidas", completa.

Brayan Siqueira, 10, atravessa Goiás para participar das atividades do Instituto Ceilândia. "Minha rotina é puxada, almoço dentro do ônibus a caminho de Ceilândia, mas no instituto aprendi a ter disciplina e acreditar em mim. Meu rendimento na escola melhorou muito e agora sei que posso sonhar mais alto, tanto no esporte quanto nos estudos", acrescenta o garoto, mostrando a importância do esporte em sua vida.

A hebiatra Tatiana Fonseca destaca os efeitos do esporte na saúde mental e física. "O esporte reduz riscos de depressão, ansiedade, uso de drogas e obesidade. Cria vínculos e melhora a autoestima. Quando aliado ao acompanhamento psicossocial, como fazem essas instituições, se torna ainda mais poderoso. Também ajuda no desempenho escolar, porque disciplina, rotina e confiança refletem nas notas e na frequência."

Perspectivas futuras

O próximo passo dos projetos é expandir o alcance para novas regiões do DF, aumentar o número de modalidades esportivas e consolidar ainda mais as redes de apoio às crianças, adolescentes e mulheres atendidas. Ao unir esporte, cidadania e políticas públicas, a Secretaria de Esporte e Lazer e as instituições parceiras mostram que investir em jovens é investir no futuro do DF. 

De acordo com o secretário de Esportes, Renato Junqueira, a pasta tem buscado ampliar as parcerias. "Temos planos de fortalecer a parceria com novos e antigos projetos, porque sabemos que o esporte é uma das ferramentas mais poderosas de inclusão. Nosso papel é garantir que esses trabalhos continuem crescendo e impactando vidas", destaca.

A Secretaria destaca na ampliação dos programas e na diversificação das parcerias. Um dos critérios utilizados para a distribuição de investimento para instituições é a regularidade jurídica e fiscal, experiência comprovada na área esportiva, propostas de impacto social e abrangência do público-alvo, alinhamento das diretrizes da política pública de esporte e lazer do DF e a capacidade de execução técnica e financeira do projeto.

*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti

 


Serviço:

Para se tornar participante, voluntário ou contribuinte ou entre em contato:

Rede Gol - o projeto atende jovens mulheres dos 8 aos 21 anos.

Site: http://transformavidas.org/como-ajudar/ 

Instagram: @redegol.tv

 

Instituto A33 -  a instituição atende homens e mulheres desde a infância até terceira idade. 

Site: https://www.institutoa33.org.br/institucional.html 

Instagram: @institutoa33

Telefone: (61) 99848-0544


Instituto Ceilândia - projeto esportivo voltado para crianças e adolescentes de 9 aos 19 anos. 

Site: https://institutoceilandia.com.br/ 

Instagram: @ceilandiadfbase

Telefone: (61) 99540-3037


 

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postado em 07/10/2025 06:00 / atualizado em 07/10/2025 07:23
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