METANOL

Casos de metanol no DF causam queda de 20% nas vendas de destilados

Segundo o Sindhobar-DF, após casos de intoxicação, 90% dos empreendedores relataram redução no consumo desse tipo de bebida. Empresários buscam alternativas para reforçar a segurança e a transparência na procedência dos produtos

Com a redução nas vendas de destilados, comercialização de cervejas e chopes aumentou -  (crédito:  Ed Alves CB/DA Press)
Com a redução nas vendas de destilados, comercialização de cervejas e chopes aumentou - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

Os casos recentes de intoxicação por metanol acenderam um alerta em estabelecimentos que comercializam bebidas destiladas no Distrito Federal. De acordo com uma pesquisa do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar-DF), 90% dos empreendedores relataram queda no consumo de bebidas destiladas desde que os casos vieram à tona.

"Segundo nossa estimativa, a redução nas vendas foi em torno de 20%. Em alguns casos, a compensação ocorreu com o aumento da comercialização de outras bebidas, como cervejas e chopes", afirmou o presidente do sindicato, Jael Antônio da Silva. 

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Mesmo com a diminuição, os empresários têm adotado medidas para reforçar a segurança e a transparência na venda de bebidas. No Supremo Restaurante, no Gama, a procura por destilados despencou após as notícias de intoxicação por metanol. "O consumo caiu em 90% desde a repercussão dos casos. Foi um susto grande. Mesmo sabendo da procedência das nossas bebidas, o público ficou receoso e preferiu evitar os drinques", contou o proprietário, Flávio Marcelo da Fonseca Silva.

Para manter a confiança dos clientes, o restaurante publicou, nas redes sociais, informações sobre seus fornecedores e reforçou o compromisso com a compra apenas de distribuidoras certificadas. "Adquirimos apenas de empresas com nota fiscal, fornecedores reconhecidos e seguros", afirmou.

Diante da queda nas vendas, Flávio observou uma leve migração do público para cervejas e chopes. "Mesmo quem não costumava beber cerveja acabou optando por ela, por se sentir mais seguro", relatou. O empresário diz que, por hora, não está confiante em um retorno rápido das vendas de destilados. "Acho que vai demorar até as pessoas se sentirem seguras novamente em consumir drinks com bebidas destiladas. Enquanto isso, vamos reforçando a compra das outras bebidas alcoólicas e nossa credibilidade com nossos clientes", ressaltou.

 

Preocupação

No Don Potiguar, no Novo Gama, a preocupação é a mesma. "Contabilizamos uma diminuição em torno de 40%, em relação ao mês passado, e não sabemos até quando isso vai durar", relatou Jessica de Lima Cardoso, auxiliar administrativa do restaurante. Para tranquilizar os clientes, a equipe entrou em contato com os fornecedores e reforçou a conferência das notas fiscais. "Estamos ainda absorvendo todas as informações, mas seguimos atentos e sempre buscando o melhor para nossos clientes", garantiu.

No Birosca, bar no Conic, a notícia sobre os casos de metanol no Distrito Federal gerou apreensão, mas o estabelecimento já tinha adotado medidas preventivas. "Desde os primeiros casos em Brasília, a gente correu atrás de como se prevenir, imaginando que o público ficaria com medo. Compramos diretamente do importador, por meio de distribuidor homologado. Então, o risco de ter bebida falsificada ou adulterada aqui é mínimo", assegurou Igor Albuquerque, um dos responsáveis pela casa.

De acordo com o empresário, além de checar a procedência, ele e a equipe participaram de um treinamento para aprender a identificar garrafas falsas e orientar clientes. "Fizemos todo o treinamento, desde a abertura das caixas até o descarte correto das garrafas", contou.

Para tranquilizar o público, Igor publicou um vídeo explicando as medidas adotadas pelo bar. "O vídeo teve grande repercussão. Muita gente elogiou a postura, mas também houve críticas de quem estava em pânico. A iniciativa ajudou a reforçar nossa credibilidade", contou. Ele detalhou ainda o impacto nas vendas: "Os drinks, que representam 40% a 50% do faturamento, caíram para 14%, enquanto a cerveja subiu para 57%". 

No Samba da Tia Zélia, na Vila Planalto, os organizadores decidiram suspender a venda de bebidas destiladas por tempo indeterminado. "A decisão foi tomada na última sexta-feira, diante do cenário que se desenhou no Brasil. A partir desse dia, o restaurante passou a não vender destilados e, no sábado, durante a roda de samba, os ambulantes também não operaram com esse tipo de bebida", explicou Melissa Silva, produtora do evento. Segundo ela, apenas cervejas e bebidas enlatadas foram comercializadas.

Melissa afirmou, ainda, que a medida foi bem recebida pelo público. "A receptividade foi muito boa, porque todo mundo está preocupado e temeroso. Tivemos uma reação positiva de 99% das pessoas. Acho que a memória da pandemia ainda é muito recente e o público entendeu a importância de agir com cautela", assinalou. A produtora acrescentou que a retomada das vendas de destilados dependerá das próximas orientações do Ministério da Saúde e da Anvisa.

 

 

Fiscalização

Com o crescimento das denúncias de bebidas adulteradas, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF) realizou inspeções em diferentes regiões administrativas. Ontem, 16 estabelecimentos foram fiscalizados, resultando em 15 autuações por irregularidades. 

Nos locais, não foram encontradas bebidas falsificadas, mas clandestinas — sem indicação de origem e sem registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Também havia produtos vencidos e fogos de artifício sem registro. Segundo os fiscais, a ausência de informações no rótulo é uma das principais irregularidades nesse tipo de comércio e pode representar risco à saúde pública. 

"Nosso foco é garantir que as bebidas comercializadas estejam dentro dos padrões legais e sanitários. Estamos atuando de forma preventiva e rigorosa para proteger a saúde da população", destacou o secretário do Consumidor, Gilvan Máximo.

 

Laudo positivo

Ontem, a assessoria do cantor Hungria apresentou o laudo de um exame, realizado pela Rede D'Or, que detectou a presença de metanol no sangue do artista. Ele teve um quadro compatível com intoxicação após ingerir bebida alcoólica, possivelmente adulterada. O resultado, liberado na segunda-feira, detectou a presença de 0,54 mg/dL metanol, acima do limite de referência, que é de 0,25 mg/dL.

Também na segunda, o Ministério da Saúde descartou a intoxicação e afirmou que o centro de referência toxicológica do Sistema Único de Saúde (SUS) não encontrou metanol nem derivados nas amostras sanguíneas do rapper.

Mesmo com o resultado positivo no exame do cantor, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou, ontem, que mantém como descartada a suspeita de intoxicação por metanol de Hungria. Em nota, a pasta destacou que "é esperada a presença de traços de metanol em bebidas comercializadas dentro dos limites de segurança estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária". Ainda de acordo com a secretaria, "a detecção de metanol no sangue, em valores abaixo do limiar de toxicidade, não pode confirmar intoxicação". A concentração do produto considerada tóxica é pelo menos 20 mg de metanol por 100 ml de sangue, ou seja, 37 vezes mais do que consta no laudo do cantor (0,54 mg/dL).

Hungria passou mal e foi internado no Hospital DF Star, na última quinta-feira, onde recebeu tratamento conforme protocolo médico para intoxicação por metanol, incluindo o uso de antídoto e hemodiálise. Após quatro dias de internação, recebeu alta. 

Colaborou Mila Ferreira

 


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postado em 08/10/2025 05:00 / atualizado em 08/10/2025 10:46
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