
Após sabatina de duas horas, os deputados distritais aprovaram, nesta terça-feira (25/11), por 16 votos a 6, o nome de Nelson Antônio de Souza para presidir o Banco de Brasília (BRB). O próximo passo é a aprovação do nome de Nelson pelo Banco Central (BC). O nome foi indicado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), após a demissão de Paulo Henrique Costa, que estava à frente da presidência da instituição desde 2019. A troca de comando ocorre no contexto da Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que investiga emissão e negociação de carteiras de crédito falsas. O BRB é alvo das investigações por ter investido R$ 12,2 bilhões na compra de créditos falsos do Banco Master.
A sabatina aconteceu na Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (CEOF), da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ao final da oitiva, o colegiado aprovou o nome de Nelson de Souza por quatro votos. Cinco parlamentares fazem parte da comissão: Paula Belmonte (Cidadania), Jorge Vianna (PSD), Eduardo Pedrosa (União), Joaquim Roriz Neto (PL) e Jaqueline Silva (Agir). No momento da votação, somente Paula Belmonte não estava presente.
No plenário, a decisão da CEOF foi colocada para votação sob protestos da oposição, que insistiu para que a pauta fosse adiada, pois ontem estava sob apreciação na Casa o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT). Mas o presidente da CLDF, Wellington Luiz (MDB), acatou a decisão da maioria para que ocorresse a votação.
Questionamentos
Na ocasião, ao falar dos desafios da missão que lhe foi dada, Nelson destacou que está empenhado em trabalhar para fortalecer o banco. "Quero trabalhar por um banco forte, sólido e que dê orgulho a Brasília. Quero trabalhar para que o BRB siga avançando, fortalecendo a credibilidade e ampliando a capacidade de entregar resultados com seriedade e governança", afirmou. "Encaro com força de vontade e total serenidade a missão que me foi dada", acrescentou.
Durante a sabatina, Nelson foi questionado, entre outras coisas, sobre a compra e venda de bancos, no contexto da tentativa de compra do Banco Master pelo BRB. O deputado Jorge Vianna (PSD) perguntou ao indicado se ele compraria o Master, caso estivesse na presidência do BRB. Em resposta, Nelson respondeu que operações do tipo são normais entre bancos.
"Em banco, é comum fusão, compra, venda, etc. Isso é normal no mercado, se os indicadores estiverem normais. O que precisa é austeridade dentro das normas do Banco Central. O BC é muito diligente com relação a isso", ressaltou Nelson.
Indagado sobre o que faria para garantir a segurança dos correntistas do BRB, Nelson declarou que terá um cuidado especial com a liquidez do banco. "Além da liquidez, teremos cuidado especial com o controle de coisas importantes, como o nível de inadimplência, com aplicações ativas e passivas, carteiras de crédito, entre outras coisas", disse Nelson.
Na sessão, Nelson se colocou à disposição para se apresentar periodicamente na CLDF a fim prestar conta das atividades do BRB. "Me disponho a vir de seis em seis meses. Mas, assim que estiver a par da situação atual do banco, me disponho a vir trazer resultados de auditoria e o que mais for necessário", assinalou.
Sobre possíveis interferências políticas na gestão do banco, Nelson garantiu que vai trabalhar "independentemente de pressão política". "É importante separar uma coisa da outra. O banco é público e deve transparência de seus atos", frisou.
Superendividados
Servidores do BRB e representantes do Sindicato dos Bancários estiveram presentes na sessão e pediram pela nomeação dos aprovados no último concurso do BRB, que vence em fevereiro. O deputado Chico Vigilante (PT) fez uma intervenção durante a sabatina e combinou com Nelson de Souza que, oito dias após a posse como presidente do banco, o dirigente irá receber os representantes do sindicato para falar sobre os 924 aprovados que esperam ser chamados. "Durante minhas gestões nos bancos que presidi, sempre priorizei o respeito e a valorização das pessoas. Estarei olhando pelos colaboradores para que façamos um banco cada vez mais forte", disse Nelson.
Questionado sobre a questão dos superendividados do BRB, Nelson prometeu dialogar para buscar uma solução. "Eu acredito que o diálogo e a busca conjunta resolvem qualquer coisa. Não é um assunto simples. Mas nós daremos prioridade e foco a este assunto", afirmou.
Com 45 anos de experiência no mercado financeiro, o próximo presidente do BRB iniciou a carreira na Caixa Econômica Federal em 1979 e chegou a presidir o banco em 2018. O indicado de Ibaneis também presidiu a Brasilcap, o Banco do Nordeste e o Banco Desenvolve SP. Nelson tem graduação em Letras e Psicologia e MBA em administração e marketing e em consultoria empresarial.
Banco passará por auditoria minunciosa
O juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, determinou a realização pelo Banco Central (BC) de uma auditoria minuciosa nas atividades do BRB referentes ao período entre 2024 até os dias atuais.
As informações levantadas municiarão o inquérito da Polícia Federal que apura possíveis impactos financeiros provocados pela aquisição de ativos do Banco Master pelo BRB.
A apuração referente ao exercício de 2025 devem ser concluídas em 20 dias. O juiz estabeleceu um prazo de 60 dias para a avaliação sobre as operações realizadas em 2024.
A auditoria foi definida a pedido do Ministério Público Federal, em substituição à intervenção do Banco Central no BRB que havia sido decretada pelo magistrado nas medidas cautelares determinadas na Operação Compliance Zero.
A intervenção está prevista no artigo 319, inciso VI, do Código de Processo Penal c/c a Lei 6.024/1974, que prevê a atuação do Banco Central em casos de anormalidade grave no funcionamento de instituição financeira. A auditoria é uma medida menos extrema que a intervenção em que a gestão integral do BRB ficaria a cargo do BC.
Ao opinar sobre o procedimento, o MPF considerou que o BRB "não apresenta crise de liquidez, mormente em razão da possibilidade de aumento de capital pelo sócio majoritário, o Distrito Federal". Por isso, não seria necessária a intervenção.
Na decisão, o juiz determinou que as decisões de gestão sejam conduzidas pelo Conselho de Administração do BRB, uma vez que o presidente do banco, Paulo Henrique Costa, que já havia sido afastado por decisão judicial, acabou sendo demitido pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
Ricardo Leite também destacou que a indicação do novo presidente do BRB, Nelson Antônio de Souza, será submetida ao crivo do Banco Central, o que dará mais segurança para condução do banco neste momento.
Segundo o MPF, a intervenção de uma instituição financeira é uma medida excepcional reservada a situações de risco sistêmico ou colapso institucional, como ocorreu com o Banco Master.
Neste caso, foi constatada uma situação financeira grave, sem viabilidade econômica para continuidade das atividades. Por conta disso, o próprio BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, com nomeação de liquidante, para levantar ativos e passivos da instituição, após análise rigorosa documental e patrimonial.
Foco da auditoria
A auditoria no BRB vai focar nas operações realizadas com o Banco Master que apresentem suspeitas de fraude ou indícios de serem inequitativas, causando prejuízo à instituição financeira.
Também vai verificar os critérios da análise e avaliação dos ativos oferecidos pelo Banco Master em substituição às carteiras insubsistentes cedidas em 2025. Quaisquer outras irregularidades eventualmente identificadas também devem ser levadas em conta.
Memória
Na última quarta-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, que investiga emissão de títulos de crédito falsos. No mesmo dia, o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, foi preso.
Por decisão da Justiça, o então presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo. Logo depois, Ibaneis Rocha o demitiu. Além de Costa, a Justiça também determinou o afastamento do diretor de Finanças e Controladoria, Dario Oswaldo Garcia Júnior.
Na última segunda-feira, a defesa de Paulo Henrique Costa entregou à Justiça o passaporte, celular e computador à Polícia Federal e garantiu que ele vai colaborar com as investigações.
O que ele disse
“Em banco, é comum fusão, compra, venda, etc. isso é normal no mercado se os indicadores de estiverem normais. O que precisa é austeridade dentro das normas do Banco Central. O BC é muito diligente com relação a isso”
"Quero trabalhar por um banco forte, sólido e que dê orgulho a Brasília. Quero trabalhar para que o BRB siga avançando, fortalecendo a credibilidade e ampliando a capacidade de entregar resultados com seriedade e governança”
“Além da liquidez, teremos cuidado especial com o controle de coisas importantes como o nível de inadimplência, com aplicações ativas e passivas, carteiras de crédito”
“Me disponho a vir de seis em seis meses (à CLDF). Mas, assim que estiver a par da situação atual do banco, me disponho a vir trazer resultados de auditoria e o que mais for necessário”
Nelson de Souza, presidente indicado do BRB

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