sinistro de trânsito

Familiares de vítimas do trânsito são homenageadas em solenidade do Detran

Ação marca o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito nesta terça-feira (18). Número de mortes em 2025 já ultrapassa quantidade do mesmo período do ano anterior

Pâmela Oliveira, 17 anos, não conseguiu segurar as lágrimas ao ouvir o nome da irmã, Maria Flor, no auditório do Departamento de Trânsito (Detran/DF). A adolescente usava uma camiseta estampada com a foto da criança, "nossa estrelinha", dizia a mensagem na roupa. Chamada ao palco com os pais e o avô, ela segurou uma placa em homenagem à caçula, que morreu em um sinistro de trânsito na BR-414, entre Abadiânia e Anápolis, Goiás, em 2023. De janeiro a setembro deste ano, o número de mortes nas vias da capital federal já ultrapassa o quantitativo do mesmo período de 2024. Passou de 172 para 185, conforme dados do Detran. 

A solenidade, ocorrida na manhã desta terça-feira (18/11), se deu em alusão ao Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, data que marca sempre no terceiro domingo do mês de novembro, com o fim de homenagear e reconhecer as vítimas de sinistros e seus familiares, além de sensibilizar a população sobre o impacto dessas ocorrências. Na ocasião, Mário Fernando de Freitas, servidor do Detran, lançou o livro Vidas Interrompidas: famílias enlutadas decorrentes de sinistros de trânsito, resultado de sua dissertação de mestrado. 

"A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apresenta cerca de 5 mil mortos, por ano, só nas rodovias federais. Aqui no Distrito Federal, temos uma média de 200 mortes no trânsito por ano. Foi a partir desses dados que começamos a pesquisa, para saber como estavam as famílias que perderam seus entes nestas circunstâncias. Nos perguntamos 'Será que, em um ano, essas pessoas já estão em condições normais, isto é, estão prontas para voltar ao trabalhar e seguir a vida?'. A reposta é não", explicou Mário, cujo estudo é dedicado ao sobrinho César Freitas Rodrigues Chaves, que também perdeu a vida em situação semelhante. 

Segundo o servidor do Detran, que conversou com esses familiares, muitos se encontravam com dificuldades financeiras, problemas psiquiátricos, e alguns, em busca de ajuda espiritual ou religiosa. "Trabalho há 40 anos no órgão e, com o tempo, ficamos um pouco frustrados, porque vemos que os números de sinistros ainda são altíssimos. Então, sempre me perguntei o que eu poderia fazer para contribuir, de alguma forma, no combate a essas tragédias e no acolhimento às vítimas, pois, no Brasil, não temos um sistema de apoio aos entes durante o luto", completou o profissional.  

Letícia Mouhamad/CB/DA Press -
Letícia Mouhamad/CB/DA Press -

"Fazer as pazes com a dor"

Para Pâmela, a dor da perda da irmã Maria Flor, que morreu aos 6 anos, é uma constante. "Eu sofro todos os dias. Dói chegar da minha escola e não receber um abraço dela. Ela era custosa, mas todo mundo gostava dela. A Maria Flor veio para marcar a vida de todos de tal maneira que ninguém consegue explicar. Ela virou um anjo", contou, bastante emocionada. Os pais da menina, Patrícia Oliveira, 40, e Michell Oliveira, 42, também não seguraram as lágrimas ao recordar o dia da tragédia

"No momento da batida, meu carro capotou e eu perdi a consciência. Quando acordei, percebi que estava de cabeça para baixo e já chamei por ela (Maria Flor). Como não tive resposta, quebrei o vidro para sair do carro e procurá-la, mas não a encontrei", lembrou Patrícia. Nesse momento, a empresária imaginou o pior.

Michell recebeu a notícia do engavetamento por um grupo de WhatsApp. Como a esposa não respondia às suas mensagens, ele foi até o local da tragédia. "Encontrei Patrícia em pé e toda ensaguentada, mas não sabíamos onde estava Maria Flor. Procurei em todos os hospitais de Anápolis, Abadiânia, Corumbá e Pirenópolis, e ninguém sabia informar onde ela estava. Por último, fui ao IML (Instituto Médico Legal) e constatei o que ocorreu da pior maneira possível", lamentou.

O luto não vai ter fim. "Decidi que preciso fazer as pazes com a dor para ela não me consumir", disse Patrícia. "Ela viveu 6 anos e 2 meses e esse foi o melhor período de nossas vidas. Era uma menina intensa, foi uma flor em vida, que jamais irá murchar", comentou o pai.

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