Arte, moda, gastronomia e eventos culturais agitaram a capital federal no primeiro dia das celebrações em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Com o tema Raízes que conectam o futuro, o evento reuniu milhares de pessoas na área externa do Museu Nacional da República, onde o público pôde visitar exposições, participar de oficinas, saborear comidas típicas e assistir a palestras, desfiles e shows, como Alexandre Pires e Ludmilla. Realizado pela primeira vez, o festival é, segundo o secretário de Cultura do DF, Cláudio Abrantes, "o maior do país dedicado à data", que se tornou feriado nacional no ano passado.
Ainda pela manhã dessa quinta-feira (20/11), o cortejo com o Boi do Seu Teodoro, grupo de cultura popular inspirado no Bumba Meu Boi, espalhou cor e alegria ao lado do Museu. Guará Freire, há 16 anos à frente do movimento, compartilhou a satisfação de participar da festa. "Queremos que a sociedade em geral abrace esta data. Nossa identidade é fazer arte, cultura e estar sempre ao lado da comunidade", declarou o líder, filho do fundador Teodoro Freire.
Para Tamá Freire, também integrante do movimento e filha de Seu Teodoro, a educação é o caminho fundamental no desenvolvimento de uma consciência social e cultural. Com o projeto Memória e Educação, em escolas públicas de Sobradinho, a historiadora leva estudantes para vivenciarem de perto essas manifestações. "Queremos mostrar que nossa cultura é maravilhosa, nos pertence e é múltipla", contou, acompanhada de alguns estudantes do projeto que se apresentaram pelo Boi do Seu Teodoro.
Para toda a família
No espaço dedicado à venda de acessórios, livros, roupas e doces, Valéria Marques, 45 anos, estava à frente do Tacho de Yabá, empreendimento voltado à produção de cocadas, bala baiana, biscoitos amanteigados e geleias. A professora, formada em gastronomia e há três décadas no ramo da culinária, disse sentir-se honrada de participar do evento. "A alimentação do Brasil, na maioria das vezes, é feita por meio de mãos pretas. Então, é um prazer ocupar este lugar apresentando o empreendedorismo, e não apenas o serviço doméstico", afirmou.
Ao lado de Valéria, a artesã Elivandra Vieira, 43, apresentava sua marca, Estillo Roots, especializada em acessórios afro feitos com tecidos 100% algodão, como turbantes, colares, brincos e faixas. Com expectativa positiva para os próximos dias de exposição, a empreendedora reforçou a importância do evento. "É muito simbólico para a comunidade negra do DF. Por isso, minha felicidade em ocupar esse espaço, mesmo já tendo participado de celebrações semelhantes, como o Festival Latinidades", disse.
Ansiosa para o show de Alexandre Pires, Rosileide da Silva, 56, chegou cedo para garantir o seu lugar. "Cheguei aqui às 13h", contou. Sobre o evento, ela acredita que é importante fomentar cada vez mais eventos de consciência racial. "Ainda temos muito para evoluir", acrescentou.
Representatividade
Fotógrafa e coidealizadora do Projeto Retratos, Amanda Luz apresenta no evento Consciência Negra 2025 a exposição Vivências, que nasceu na escola pública e tem transformado a realidade de estudantes de Ceilândia por meio da arte e da fotografia. Criada em 2019 por seu pai, o professor Tony Luz, a iniciativa surgiu como resposta à violência, ao racismo cotidiano e ao sofrimento emocional vivido por alunos pretos, muitos deles em áreas extremamente vulneráveis. Para a fotógrafa, estar no Consciência Negra é a prova de que a periferia pensa, cria e ocupa lugares historicamente negados. "A gente quer a periferia no topo", declarou.
Uma das estudantes fotografadas é Amanda Rodrigues, 14, cuja foto exalta a força e a beleza ancestral por meio de elementos inspirados em rainhas africanas e egípcias. "É muito emocionante me ver representada nesta imagem e neste evento tão importante", comentou.
Os jovens Gabriela Borges e Gabriel Máximo, 17, ambos de Ceilândia Norte, também participaram da experiência. Gabriela afirma que o projeto foi importante para se redescobrir e construir mais autoestima. "Foi muito enriquecedor, mudou muito o meu modo de pensar de quem eu era e para a pessoa que eu evoluí", afirmou. Por sua vez, Gabriel conta que o projeto aumentou os seus horizontes, expandindo sua visão de mundo. "Foi importante porque me proporcionou uma outra visão, mais focada na crítica social e também na autoestima. Eu espero que o projeto alcance outros jovens, assim como eu", acrescentou.
No mesmo espaço da exposição, Luiz Gustavo, 31, aproveitou o feriado para levar sua família para um momento de lazer e conscientização. Com a esposa e os quatro filhos, ele acredita que eventos em promovam a cultura afro-brasileira. "Viemos para trazer uma consciência sobre o valor do negro e o nosso papel na sociedade. É fundamental que, desde pequeno, eles já tenham esse contato com a realidade que a gente enfrenta hoje", afirmou.
Políticas públicas
O Governo do Distrito Federal (GDF) abriu oficialmente, nesta quinta-feira (20/11), o Consciência Negra 2025, em cerimônia realizada no auditório do Museu Nacional da República. Com o tema "Raízes que Conectam o Futuro", o festival reforça a ancestralidade, destaca o protagonismo da população negra e promove uma programação gratuita que reúne música, artes visuais, moda, gastronomia, literatura, debates formativos, infância e empreendedorismo.
A cerimônia foi marcada pela assinatura de dois atos institucionais. O GDF lançou oficialmente o Dia da Consciência Negra, consolidando um novo ciclo de diálogo democrático e participação social. Também foi assinada por Rosa Carla Monteiro a Resolução nº 02, que institui o Comitê Permanente do Hip Hop do DF — marco pioneiro no país, reconhecendo o hip hop como expressão cultural, artística e social fundamental para o Distrito Federal. Além disso, o secretário Claudio Abrantes assinou o Edital de Chamamento que abre o processo eleitoral para escolha das cadeiras da sociedade civil no comitê, fortalecendo a participação popular na construção de políticas para o segmento.
