Por Manuela Sá* — O desenrolar da Operação Compliance Zero foi o tema discutido, nesta terça-feira (25/11), no programa CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Às jornalistas Ana Maria Campos e Sibele Negromonte, Cleber Lopes, advogado que assumiu a defesa do ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa, falou sobre a linha que vai adotar e explicou como se deu a compra de ativos do Banco Master.
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Segundo as autoridades que investigam o caso, a compra de títulos do Master pelo BRB representa um prejuízo de R$ 12,2 bilhões. Qual vai ser a principal linha da defesa?
O sistema financeiro, de um modo geral, é um sistema complexo, com inúmeras regras, amarras e mecanismos de controle. É preciso ter em mente que ele funciona sob a batuta do Banco Central, que tem um corpo técnico altamente qualificado. Não é razoável imaginar que um presidente de banco tem autonomia para tomar decisões dessa natureza. 'Vou comprar R$ 12 bilhões de carteiras de um banco e vou fazer isso assim como quem faz um Pix para comprar um fast food na rua'. Não. Essa decisão passa pelo conselho. Essa compra de ativos é fruto de um planejamento estratégico do banco, que vem desde 2021. Então, não foi uma escolha casuística. Muitas pessoas perguntam por que comprar do Banco Master, que estava passando por dificuldade. Isso é mercado. Quem está em dificuldade vende ativos. Nós, na nossa vida privada, quando estamos em crise financeira, vendemos um carro mais novo, compramos um carro mais velho, para fazer liquidez, para fazer caixa. o Banco Master estava nessa situação. O Banco Central, ciente disso, é imediatamente avisado. Não é nada que se faça às escondidas.
Segundo o Ministério Público, o BRB, por ser um banco público, tem como principal acionista o Governo do Distrito Federal. Caso aconteça alguma coisa com a liquidez do BRB, é o GDF que arca com as consequências?
O Governo do Distrito Federal pode fazer gestão, fazer aumento de capital para melhorar a liquidez do banco. Mas o fato é que, hoje, não há uma crise de liquidez. No primeiro momento, vários falaram em um rombo de R$ 12 bilhões. Segundo o banco, R$ 10 bilhões já foram abatidos e R$ 2 bilhões ainda não foram liquidados. Se precisar executar esses R$ 2 bilhões, há garantia.
Muita gente especula que poderia haver uma delação premiada por parte de Paulo Henrique Costa. Sabemos que essas estratégias de defesa são sigilosas, mas existe alguma chance disso acontecer?
O Paulo Henrique tem sido, desde o primeiro momento, muito firme em me dizer, 'Cleber, eu não fiz nada de errado. O BRB começou a comprar carteiras do Master dentro de um fluxo de planejamento estratégico, começou a comprar carteira em 2024. As carteiras foram absolutamente rentáveis. Lembrem-se de que essas carteiras do Banco Master já geraram ao BRB 5,6 bilhões de lucro. Então, eu não tinha motivo nenhum para não continuar comprando'. E quando houve a primeira detecção de inconsistência documental, — o que não significa, em hipótese alguma, que a carteira fosse inexistente —, a inconsistência documental pode ser a falta de uma assinatura, pode ser a falta de um relatório.
Foi ele que detectou?
O banco, não ele propriamente, mas o sistema.
A auditoria do banco...
O sistema de controle do banco, as diretorias responsáveis pelo processamento dessas carteiras, trabalham permanentemente verificando isso, checando. Então, o Paulo foi o primeiro a comunicar ao Banco Central. O Paulo vai ao Banco Central e aí entra em campo pessoalmente para resolver. A delação está absolutamente fora de propósito. Como eu disse na imprensa que ele tinha interesse em colaborar com a investigação, alguns jornalistas me telefonaram e disseram, 'doutor, o senhor disse que o senhor Paulo Henrique vai fazer colaboração'. Não foi isso que eu disse. Eu disse que ele vai colaborar com a investigação na perspectiva de contribuir, como fez ontem (segunda-feira). Entregou o telefone com a senha, o computador com a senha, entregou os passaportes, o pessoal e o oficial. E nós pedimos à delegada que priorizasse a oitiva dele.
Assista a entrevista na íntegra
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
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